Vítima da Covid-19, jornalista cuiabano explica como tem enfrentado o terror da doença

Repórter fotográfico aposentado da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Demóstenes Milhomem e alguns familiares, à exceção da esposa e netinha, contraíram o novo coronavírus. O jornalista permanece internado numa unidade hospitalar particular de Cuiabá-MT. "Não é nenhuma gripezinha, conforme vinham dizendo na mídia: a coisa é séria. Tortura e mata impiedosamente", alerta

O jornalista Demóstenes Milhomem afirmou que jamais pensava ser inserido no grupo de vítimas do novo coronavírus e de “vivenciar, por semanas seguidas, um legítimo calvário”, apesar dos cuidados atenciosos de toda a equipe médica do antigo Hospital Jardim Cuiabá, enfatiza, atualmente uma unidade hospitalar particular. Demóstenes e as filhas (Júlia e Juliany), mais o genro, foram infectados de forma desconhecida. Apenas a esposa (Julimar) e a netinha se safaram desse contágio.

“Estou sendo muito bem tratado aqui por todos, médicos e enfermeiros. Mas já são semanas de confinamento num quarto, sendo submetido a doses medicamentosas em horários regulares. Isso é algo estressante, ruim pacas: corpo e mente definham pela inércia e a a angustiosa expectativa de espera, de poder sair curado”.

Demóstenes com a esposa Julimar e as filhas, Júlia e Juliany

Somando-se a esses incômodos, o jornalista salientou que o fato de estar ausente do lar, há semanas, consequentemente impedido de qualquer contato direto com seus familiares {só por telefone}, é outro fator torturante. “Sou homem de família, daqueles que acordam cedo e assumem diversas atividades na casa. De repente, vi-me praticamente preso num hospital, sem poder fazer mais nada, a não ser aguardar. Aí, a gente começa a ter inquietudes diversas, e o mental fica todo bagunçado. E para quem já está batendo na casa dos 70 anos, é ainda mais difícil suportar coisas do tipo…”

“Gripezinha” não acarreta dores atrozes no corpo. Eu e familiares sofremos muito ao contrair esse vírus. A sensação é de desamparo total no que diz respeito ao restabelecimento da saúde, pois você pensa o tempo todo no pior, na morte…”

Demóstenes disse ter sido surpreendido pela doença quando já começava a acreditar na fábula de que “a covid-19 não passava de “uma gripezinha”. “Eis aí uma imbecilidade total: os sintomas impostos pelo novo coronavírus acarretam dores intensas, insuportáveis. Dizer que é “uma gripezinha” é piada de mau-gosto. Eu e meus familiares passamos e ainda temos passado apuros terríveis para suportar os impactos da covid-19; somos testemunhas do quanto todos estão enganados ao menosprezar essa doença infernal”.

Ele recorda que os primeiros sintomas de infecção pelo novo coronavírus já foram difíceis de suportar, seguindo-se febre e dores violentas em todo o corpo, com debilidade progressiva, falta de ar, desespero incontrolável. “É um martírio descomunal, e, sinceramente, eu pensei que não sobreviveria, posto que essa doença me pegou de jeito, de maneira mais forte. Minhas filhas e o genro conseguiram se recuperar mais facilmente, quadro auxiliado pela juventude dessa turma, com certeza. A covid-19 veio para matar: o Brasil já ultrapassou a casa das 30 mil mortes, e os prognósticos, infelizmente, é de que os óbitos não vão parar por aí…”

“Minha esposa Julimar é a guerreira incansável desse momento tão difícil na vida de nossa família. Não é fácil para ela suportar o tranco…”, diz jornalista

Ansioso para deixar o hospital, o jornalista foi informado ontem (2) pelo setor clínico que a alta solicitada pode demorar mais alguns dias, talvez semanas. “Não há nenhuma data prevista, visto que os médicos querem estabelecer absoluta segurança para emitir alta. Creio que devo permanecer em observação por mais um período, que, espero, não seja longo”.

Para passar o tempo, o jornalista tem conversado horas a fio com seus familiares por telefone, assistindo TV e lendo livros de distintos temas. A alma jornalística se acende diante da própria movimentação rotineira do hospital. “É um entra e sai de pacientes e pessoal clínico interrupto, por vezes com correria dos enfermeiros e médicos para atender essa ou aquela emergência. Por não ter mais nada o que fazer, você fica observando tudo isso, e então começa a elaborar outras conclusões. Depois de tudo que passamos, hoje tenho uma visão duplamente valorizada do papel dos profissionais da Saúde na sociedade. São anjos da guarda, heróis por vocação”.

Por João Carlos de Queiroz, jornalista

 

 

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