Ricardo é o nome do “homem aranha”, anjo que sacrificou a própria vida para salvar crianças no incêndio em SP

O tenebroso incêndio paulista, no Largo do Paissandu, revelou a ação extraordinária de um anjo humano, Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro

Redação Site – Se anjos existem, e desconfio que existem, mesmo, um deles se chama Ricardo. Mais exatamente Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro, 39 anos, líder de uma centena e meia de carregadores de containers, em São Paulo, rapaz carinhosamente conhecido por “Tatuagem”. Ricardo morreu após salvar várias crianças do Edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou na madrugada de ontem, após incontrolável incêndio, arrastando nos seus escombros flamejantes o jovem herói. Justamente no momento em que Ricardo, após empreender nova escalada no prédio, tentava ir em busca de mais moradores que poderiam estar encurralados pelo fogo. Não encontrou ninguém, e ele próprio se viu em situação aflitiva, cercado pelas chamas. Por meros segundos, o sargento Diego Pereira da Silva Santos, dos Bombeiros, não pôde resgatá-lo, relato emocionante:

“Cheguei a conversar com Ricardo rapidamente “lá em cima” (no prédio lateral ao que incendiado), sendo então informado do seu nome. Fizemos primeiros procedimentos de resgate, mas o prédio desabou de repente, bem do nosso lado. Ainda vi a expressão surpresa de Ricardo ao perceber que sua chance de vida havia acabado ali. Uma cena que jamais esquecerei. Ricardo foi um herói em todos os sentidos”, afirmou o bombeiro.

Alguns vizinhos disseram ter testemunhado as ações heroicas de Ricardo para salvar as crianças que ainda estavam no prédio. Na primeira vez em que adentrou no prédio flamejante, ele voltou com quatro pequenos, e mal os entregou aos cuidados de adultos, já voltou para tentar resgatar outras que pudessem estar ainda no prédio. “Também o aconselhei a não ir lá, pois era perigoso. Não precisava se expor tanto, já havia salvado alguns. Os bombeiros estavam já fazendo um bom trabalho”, aconselhei, palavras do amigo Romero Elias Santos.

Outros relatos dizem que Ricardo ficou encurralado pelo fogo quando subiu ao sétimo e oitavo andar do prédio para resgatar duas crianças gêmeas e a mãe. O auxiliar de limpeza de outro edifício próximo, Cosme da Silva, 53, confirmou essa versão. Todos acreditam que a mulher, de nome Selma, e seus gêmeos, também estão mortos.

Ricardo tinha como hobby andar de patins nos dias de folga, atividade presenciada por toda a vizinhança. Não era chegado a muita conversa, pessoa sempre reservada, só falava o necessário. No dia a dia profissional, os colegas o consideravam um líder, dada à sua humildade respeitosa com todos, e também à experiência demonstrada nas funções que desempenhava, sempre disposto a auxiliar no que fosse possível. “Era daqueles trabalhadores incansáveis, otimistas!”, resumem os antigos companheiros, agora de luto.

Os anos vão transcorrer, e as imagens do impressionante desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, bloco envolto em chamas, serão parcialmente esquecidas. Como também estão quase no anonimato as lembranças sinistras do incêndio no Edifício Joelma, igualmente ocorrido no centro da capital paulista.

Mas, por mais que os anos passem, alguém sempre haverá de se lembrar daquele jovem tatuado no alto do prédio tomado pelo fogo, em rápida conversa desesperada com um bombeiro. E os segundos em que tudo veio abaixo, soterrando sonhos de dezenas de famílias e sepultando esse herói brasileiro, por várias horas uma figura anônima. Ricardo, sem dúvida, é um anjo humano, que surgiu do nada para sacrificar sua própria vida em prol dos semelhantes. Agora, deve estar andando de patins junto aos anjos celestiais que, a exemplo dele, só desejam o bem das pessoas…

Por João Carlos de Queiroz, 

 

 

 

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