Relembrando a Rádio Sociedade e os passos de Luiz Tadeu Leite…

Um dos mais talentosos profissionais da mídia radiofônica de Minas Gerais, Luiz Tadeu Leite começou sua brilhante carreira na Rádio Sociedade {Montes Claros-MT}

Montes Claros,1970 – Ainda quando ensaiava exercer algum cargo jornalístico, patinando em textos medíocres, visitei jornais e a imponente Rádio Sociedade (ZYD7). Devo frisar que nunca trabalhei em emissoras radiofônicas, apesar de tentar {e muito!}.

Chegou um momento, enfim, em que “caí a ficha”: a militância em rádio jamais faria parte do meu currículo profissional. Por um motivo simples: não tenho o menor talento para exercer tal setor, apenas no setor impresso, jornais…

No entanto, independente desse sentimento frustrante, permaneceu viva a curiosidade em saber como tudo funciona numa emissora radiofônica. Para começar, a mágica noticiosa diária, o entretenimento cultural; a Rádio Sociedade era mestre nisso…

Assim, nos intervalos da condição de militante tenaz em jornais, furiosamente dedilhando pesadas máquinas de escrever, sempre que podia visitava a ZYD7. Ambiente tumultuado por corre-corre geral de quantos ali estivessem: a notícia do rádio é tarefa urgente, não há tempo a perder…

Confesso, aliás, ter desconfiado várias vezes de não ser bem-vindo, pois os radialistas mal tinham tempo para responder ao meu  “bombardeio de perguntas”. Alguns até saíam de perto, talvez para evitar xingamentos. Outros, já respondiam de forma curta, educada…

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A Rádio Sociedade mantinha modesta sede num sobrado azul, localizado na parte baixa da Rua Simeão Ribeiro Pires. Dali, à Praça Doutor Chaves, Matriz, ou a outros pontos centrais da cidade, era um pulo. O calçadão reforçava os atrativos simplórios da rádio…

Graças à sua competência jornalística, essa tradicional emissora desfrutou de confortável dinâmica operacional por muitos e muitos anos. E por ser a única em operação, na época, terminou centralizando atenção geral em Montes Claros e outros lugares..

Do calcadão, podia-se imaginar o  burburinho efervescente que acontecia lá dentro, reforçado por um sobe e desce intermitente de pessoas (importantes ou não), entre entrevistados, profissionais, e… curiosos; a exemplo meu…

Ao subir a extenuante escadaria, eu percorria avidamente o longo corredor da emissora, ciente de que a comum movimentação noticiosa e musical estava a pleno vapor em todas as salas.

A REDAÇÃO e o estúdio da Rádio Sociedade formavam intrínseca ligação siamesa, possibilitando, por meio de divisória, de vidro, intercomunicação ininterrupta das equipes profissionais. É quando entrava a música e a fala do locutor tinha rápida pausa de descanso. Seja para um copo d’água, sorriso ou ensaio de passeio fumante pelo corredor…

Ao ver, pela primeira vez, o elenco de profissionais tão conhecidos em plena ação radiofônica no famoso ambiente de trabalho, fiquei admirado. Entre eles, o saudoso José Nardel e o ainda atuante Gélson Dias (repórteres esportivos), Titio Bira (Ubirajara) e o intrépido Luiz Tadeu Leite.

Tadeu já gostava de calçar tênis, geralmente trajando camiseta branca e calça jeans, estilo despojado de universitário de direito. O olhar do jovem radialista denotava frequente inquietude ansiosa para gerar notícias interessantes à população.

Foi assim que Luiz Tadeu Leite recebeu meu mano mais velho, José Antônio, na Rádio Sociedade…

Então universitário de bovinocultura na antiga Escola Técnica Agrícola de Montes Claros {alçada a núcleo de ensino superior da UFMG}, o mano desejava alardear a público suas experiências no Projeto Rondon, no Pará.

– Vá me contando aí o que deseja destacar, Zé…  – disse Tadeu, mãos eletrizando, magneticamente, o teclado carcomido de uma desbotada Remington, sem tampa. Enormes as letras daquela máquina, pude ver ao surgir as primeiras linhas do texto…

Enquanto o furacão Luiz Tadeu datilografava rapidamente, sem ao menos olhar para o teclado, o mano Zé continuou narrando sua viagem ao Pará.

Fiquei ainda surpreso ao ver Tadeu rebobinar habilmente a fita da máquina por duas vezes, ajeitando novamente a lauda no rolo. Seus dedos, outra observação, estavam agora tingidos de vermelho e preto.Nem se importou em lavá-los.

Na sequência, sorrindo candidamente, como se pedisse desculpas pela breve interrupção técnica, o futuro prefeito de Montes Claros mandou mais metralhadas de dedos nas teclas apagadas da Remington. Em minutos, concluiu a narrativa do mano sobre sua participação no Projeto Rondon.

– Nossa! Tadeu é um crânio para escrever! Nem consegui acompanhar direito! – disse o mano impressionado ao deixarmos a emissora.

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NÃO ME SURPREENDI, portanto, ao encontrar Luiz Tadeu Leite no Cine Coronel Ribeiro certa vez, estudando algo antes da sessão vespertina. Disse que teria provas logo mais à noite. Estranha forma de relaxamento…

Anos após, o repórter de rádio, sempre usando tênis e calça jeans, fez discurso inflamado de candidato a prefeito na Praça da Catedral, não se intimidando com a robustez econômica e posição social dos candidatos da época.

A firme postura objetiva de Tadeu viralizou pela cidade inteira, ganhando adeptos. Não demorou a atingir o ápice das pesquisas populares.E quem antes detinha condição de favorito, ganhou espaço de lanterninha…

EM RESUMO, sem dispor de recursos financeiros, apenas do seu gogó radialista, com exposição de projetos resolutivos para resolver impasses complexos da cidade,Tadeu venceu facilmente os seus concorrentes eleitorais.

Até hoje, apesar dos anos em que desempenhou administração de prefeito, seu nome ainda é lembrado como um excelente gestor municipal. Administração comparada à de outros bons prefeitos: Antônio Lafetá Rebello, Rui Muniz, Jairo Athayde, Mário Ribeiro da Silveira, etc, etc…

{*EM TEMPO: Refiro-me aqui à capacidade de gestão empreendedora, e não à simpatia política que os nomes acima desfrutam ou não na cidade. Nem Jesus agradou a todos…}

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DEPOIS DE CUMPRIR missão no Paço Municipal, o bom repórter da Rádio Sociedade, Luiz Tadeu Leite, conseguiu se eleger também deputado estadual e federal. Um dos seus rebentos, o jovem Tadeuzinho, agora segue os brilhantes passos políticos do pai…

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Por João Carlos de Queiroz, jornalista

 

 

 

 

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