Que gol de placa, Leila!!!!
"Não queremos privilégios: exigimos idênticas oportunidades destinadas aos homens, para demonstrar nossa competência. O espaço ocupado pelo mundo do futebol é nosso por direito, e nada é mais justo que também o ocupemos de forma igualitária; sem antipatia, estereótipos ou qualquer forma de preconceito"
Entre os principais clubes do futebol brasileiro, a única mulher presidente se destaca não apenas pelos investimentos, mas também pela liderança, responsável pelas conquistas do Palmeiras, desde 2021.
Mesmo isolada no ambiente esportivo, majoritariamente masculino, Leila não se intimidou: no início deste ano convocou a imprensa especializada e restringiu seu acesso apenas às MULHERES. Isso mesmo! Somente MULHERES poderiam participar da coletiva agendada.
“Homens, não sejam histéricos”, respondeu, em alto e bom som. Calma, homens: nós, mulheres, também entendemos de futebol; assistimos tantos jogos quantos vocês; escalamos não apenas o nosso time de coração, mas também diversos times; comentamos partidas. Porém, o que mais escutamos?! “MULHERES NÃO ENTENDEM DE FUTEBOL”.
Sempre gostei de futebol, por incentivo do meu pai botafoguense, e de minha mãe flamenguista. Nasci em uma família apaixonada por futebol; nunca perdiam uma partida do time do coração. E, mais: casei-me com um amante do futebol, e nossas conversas se resumem a ETERNAS discussões sobre futebol.
Perdi a conta de quantas vezes me subestimaram por preconceito, ou machismo. Eu não entendia, falava besteiras [pelo simples fato de ter uma opinião diferente], por não sabe torcer, etc., etc.
Também procurei oportunidades na carreira esportiva, como comentarista, narradora ou até jornalista de campo. Entretanto, sempre esbarrava na estrutura estabelecida: os chefes são homens que sequer acessam a caixa de entrada para visualizar currículos de uma mulher interessada em atuar no jornalismo esportivo, especificamente no futebol masculino – a grande paixão brasileira.
Quando houve a notícia da coletiva, imaginei mentalmente: “Que gol de placa, LEILA!” Nunca me senti tão representada quando disse: “Sinto-me solitária”.
Naquele momento, veio à tona diversos sentimentos: tristeza, decepção, rejeição, mágoas… É difícil explicar quanto doeu e ainda dói, machuca… Dói assistir homens em rede nacional, principalmente em rodas de conversas, mesas redondas, discutindo e opinando sobre futebol, sem o menor temor ao comentar absurdos.
Recordo-me de um comentarista que comentou sobre o desempenho de um jogador que nem entrou em campo. Imaginem se fosse uma mulher fazendo isso! Provavelmente, seríamos, no mínimo, ridicularizadas, e com grandes chances de desligamento.
Curiosamente, após o fatídico episódio, o comentarista continuou trabalhando na emissora, no mesmo programa. Bastou um simples pedido de desculpas e o erro foi esquecido. Segue o jogo!!!
A história revelará o desempenho da presidente Leila Pereira. Por enquanto, aplaudo de pé o relevante marco demonstrado, o significativo ato de empoderamento feminino no futebol, instituição tão machista no país.
Histórico
Inicialmente patrocinadora e conselheira, Leila se tornou em 2021 a primeira mulher presidente na história do Palmeiras, repetindo feitos de Marlene Matheus, no Corinthians (1991 a 1993), e Patrícia Amorim, no Flamengo (2010 a 2012), ao conduzir um grande do futebol brasileiro.
Em 2023, aliás, isolou-se como presidente, com mais títulos conquistados pelo Verdão neste século.
POR JULIA MILHOMEM- JORNALISTA
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