Conto mineiro de ótima qualidade: “O zelador”
Por Afonso Celso de Magalhães Ferreira O mineiro Afonso Celso é natural de Montes Claros, sendo apaixonado por literatura desde à fase mais tenra de idade, quando começou a publicar os primeiros trabalhos. Atualmente, Afonso é bancário (Banco de Brasília-DF)
O ano?
O ano foi onte… muitos onte atrás.
Se espremer da cachola, iscapa muitas histórias, pelo bem e pelo mal… mas de gargaiar tomém.
Ah! Ah!
Mais iantes de tudo, deixa me apresentar pra quem não me cunhece.
Todos me chama de Antônio Baiano, e é assim que atendo… Antônio Baiano.
Vim dos fundo da Bahia, das banda de Caculé, eu e a muié… e aqui tô d’imprego de ganho poco, mas satisfação muita.
Oia aí – apontando – tudo isso eu cuido, no zelo da noite e poco ou quase ni’unha drumida. Cuido das pranta, do ROSERAL e otras fulô… cuido dos camim da praça, catan’o os papé iscurrido no chão…ispanto os bebum dos bancos…
Sabe, alisando o queixo com a mão, o que mais me agrada nesse sirviço é cuidar das pranta, num deixar que NINGUÉM buline nas rosa, NUM SABE!
(Suspirando) Tem um MOTOQUEIRO que vem às iscundida, de motô disligado, se isguerano por trás do coreto, baxadim que nem lagartixa…e acaba carregano uma rosa.
Mas finjo que num vejo, num m’importo não… deve de querê fazê gracin’a pr’uma minina.
Ah! Ah!
Mas vamo pra istória… dexovê… essa é uma qui’ocês me prontaro.
Toda noite, pur vorta das dez, Dona Cidin’a chega aí da varanda e grita: SEU ANTÔNIO, SEU CAFÉ!
Mas nesse dia, num foi ela que me chamô, não. Deve de dê sido o ‘Duardo… pois bem…
Naquela noite, argum doceis matô uma cobrin’a e jogô dent’o da caneca de café. Quan’o levei a caneca na boca, um doceis gritô: NUM BEBE, seu Zé!
No susto, a caneca balungô e a ponta da cobra iscapô pu’riba. Joguei no chão caneca e tudo, e foi aquela zuera de risada.
Fiquei ispantado cum’aquela ma’criação, mas vi que foi uma brincadera… uma brincadera das boa! Ah! Ah!
Só que dispois disso, café só das mão de Dona Cida… e muita mixida. Ah! Ah!
Vó dizê uma coisa proceis… quan’o nossa geração já tivé cum’zoi tapado de muito, e o povo vortá pro bão d’uma brincadera aqui na praça, tarvês alguém, de coração dispriguiçado, iscute umas gargaiada vin’o de lá (apontando pro meio da praça), ou quem sabe das varanda de Don’Ana.
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