O ‘bate-e-volta’ da função de repórter compensa, sim!

Quando atuei como repórter no Jornal do Norte, em Montes Claros-MG,  nos anos 80, senti-me realizado por poder integrar uma redação composta por nomes famosos na mídia local e regional. Jamais tive convicção de que meu trabalho estava à altura dos demais.

Muitos colegas atuavam também no mundo artístico, fazendo bico no jornalismo. Isso os tornava mais especiais, a meu ver. Era o caso de alguns componentes do famoso Grupo Agreste, com destaque para Braúna, rapaz de texto ágil, maravilhoso.

Fui ainda curioso potencial para aprender cada vez mais com os experientes jornalistas que editaram o Jornal do Norte, respeitados nos rincões do Norte de Minas pela sua extrema capacidade profissional.

Leonardo Campos, amigo contumaz de andanças boêmias, impressionava-me pelo texto técnico, rápido, e a forma despojada de se vestir, incluindo amuletos de couro no pescoço e pulso: jamais o vi usando calçados, apenas sandálias trançadas.

Ainda hoje, pra ser sincero, recordo da extravagância perfeita dos textos redigidos pelo saudoso Léo Campos, pessoa com a qual convivi durante décadas e décadas. Só saudades…

Já os demais, Felipão, J. Mathias, Robinson Costa, etc., vestiam-se de modo sisudo, elegante. Refiro-me aqui apenas aos jornalistas que convivi, lógico. O Jornal do Norte teve outros editores igualmente competentes.

No geral, fui repórter esforçado para tentar compensar minha pouca experiência  no setor, temeroso de decepcionar os patrões Américo Martins e Antônio Santos. Ao me contratar, eles esperavam algo que, talvez, eu não retribuísse…

Já chegava assim ansioso à redação para destrinchar os dados coletados cidade afora, muitos guardados num imenso gravador do jornal; aparelho que hoje seria motivo de chacota geral dos modernos militantes na imprensa.

Portanto, foi notável surpresa saber que meus textos também agradavam os leitores. Ao editar o Caderno 2 (Cultura) do Jornal do Norte, enfocando temas sociais distintos, com ampla valorização do setor artístico, consegui agradar muita gente.

O que considero importante, até hoje, não é explicitamente o reconhecimento dos leitores ao meu talento redacional: o mais valioso, no caso, é ter conquistado méritos diversos em prol da coletividade, a partir de determinado teclar idealista. Nunca desisti de nada que enxergasse ser possível de Justiça.

Daí ter passado a olhar as atividades jornalísticas com um olhar mais compreensivo, menos reprovador. Estava ciente de ter potente instrumento de defesa social em minhas mãos, capaz de promover reviravoltas excelentes para essa ou aquela pessoa; ou para grupos inteiros…

Foi mais ou menos por essa época que descobri que não era apenas um mero repórter a cumprir função diária de coletar dados, transformando-os em notícias impactantes: podia também transfigurar (positivamente) cenários cotidianos da sociedade, antes angustiantes.

ENFIM…

Difícil descrever o sentimento de ter sido parabenizado por ter conseguido mudar a vida de famílias que gritavam por necessidade alimentar e moradia: bastava publicar a realidade em que viviam para alguma boa alma atendê-las condignamente.

O sorriso feliz dos patrões Américo e Tone Santos foram identicamente incentivadores à continuidade dessa militância jornalística pelo meu próximo.

João Carlos de Queiroz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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