Nos passos do então prefeito de Cuiabá, atual deputado estadual Wilson Santos…
Por anos, fui assessor de imprensa do então prefeito de Cuiabá, Wilson Santos, hoje deputado estadual. Com sede no sexto andar, a Secretaria de Comunicação Social ficava atenta aos passos do gestor, para acompanhá-lo em reuniões e visitas a obras na capital e distritos.
O dia a dia do prefeito cansava só de ver: primava por inquieta dinâmica de ações políticas e de ordem administrativa em horários diurnos e noturnos. Isso encampava também os finais de semana.
Não raras vezes, o elétrico prefeito participou de acirradas disputas futebolísticas, a exemplo do Peladão, vangloriando-se de ser bom de bola. Mas testemunhei ele levando dribles fantásticos nos campos de várzea do Pedra 90…
Wilson deixou claro que gostava do meu estilo de trabalho, motivo de sempre me convocar. Não se tratava propriamente de um privilégio, veja bem: tal escolha implicava em assessorá-lo ininterruptamente nos três turnos, sem ganhar um centavo a mais, apenas o salário fixo.
Aos colegas da SECOM, Wilson disse que eu não o aborrecia com gravações e cansativas perguntas interruptas, limitando-se mais a ouvir do que indagar. “No dia seguinte, ao ler o site, vejo que João escreveu tudo que falei direitinho”, palavras de Wilson. Fiquei lisonjeado.
A preferência dele pelo meu trabalho chegou a irritar a chefia de redação, a ponto de o titular do cargo reiterar que a SECOM tinha outros bons jornalistas à disposição. Concordei, lógico. Mesmo porque, ao cumprir meu expediente vespertino – e acompanhar o prefeito nos eventos noturnos -, ficava automaticamente obrigado a madrugar na Prefeitura para redigir o material coletado.
Mal começava o trabalho, desanimado diante de tantas anotações, o telefone do sexto andar, gabinete, estrilava pedindo minha presença urgente. “O prefeito quer que cubra a visita do promotor”, informavam. “Suba com o fotógrafo”. Ou vinha alguma instrução para descer rapidamente à garagem e aguardar Wilson. Mais uma pauta…
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Nos finais de semana, seja visitando obras ou gravando vídeos, Wilson Santos me surpreendeu pela espontaneidade demonstrada diante das câmeras: falava com firmeza a respeito de dados técnicos, projetos, reivindicações, sequer repetindo uma palavra. Coisa que muitos colegas televisivos não conseguem fazer.
Nesse momento, concluía ao observá-lo, entrava em cena o professor historiador, que conhece nomes, datas e acontecimentos, tudo de cor e salteado.
Wilson se tornou, aliás, respeitada celebridade acadêmica por ministrar cursos preparatórios de vestibular, divulgando dicas infalíveis para contabilizar acertos e maior número de pontos nas provas. Os aprovados o parabenizam até hoje.
As aulas do professor prefeito, por assim dizer, mais se assemelhavam a shows, comportando alunos e legião de admiradores. Muita gente assistia da porta da sala.
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Também curioso acerca do sentimento de alguém que é eleito prefeito, indaguei a Wilson certa vez, durante caminhada pela trilha da Lagoa Encantada, no CPA III, qual era sua visão geral acerca do cargo que ocupava. Pensava que pudesse dizer estar realizado em todos os sentidos, mas sua resposta foi oposta:
“Uma vez empossado, você percebe o quanto as coisas são difíceis, pois não consegue fazer grande parte do que planejou, por mais que tenha vontade, persistência, dedicação. Querer fazer tudo e não poder, sendo contido por limitações de toda ordem, principalmente burocráticas, é frustrante”.
Terminamos a caminhada em silêncio, e pela primeira vez captei semblante triste, desanimado, no prefeito que sempre via como alguém impetuosamente determinado, pronto para vencer qualquer obstáculo. O lado humano transpôs o do político bem-sucedido…
Por João Carlos de Queiroz, jornalista
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