Nélson Takaki, o japa verdureiro; motociclista por excelência
O conceituado grupo “Tripulantes da Máquina do Tempo” postou foto do lendário japonês Nélson Takaki há alguns meses, simpático verdureiro no Mercado Municipal. Nélson, entre os anos 70 e 80, foi ícone da área motociclística na “Princesa do Norte de Minas”, em função do domínio harmonioso que sempre teve com máquinas de duas rodas.
Pude, assim, ao ver a foto do amigo Takaki, rememorar alguns momentos do surgimento das primeiras motocicletas de elite em Montes Claros-MG. De fato, Nélson foi o primeiro proprietário de uma Honda 125cc na calorenta cidade, na ocasião repleta de vespas, lambretas, Xispas e motos antigas.
Na sequência, Osmar Borborema comprou uma Honda 250 da mesma marca, tanque vermelho/branco, reformando-a primorosamente. Ele tocava na época uma oficina de Vespa, Lambreta e Xispa na Rua Dona Tiburtina.
Antes da Honda 125cc, TAKAKI pilotava uma reluzente Jawa pelas ruas de MOC. Todos se reuniam à noite na Praça Cel. Ribeiro, perfilando as pipoquentas Maria Fumaça do lado da Rua Doutor Santos. Volta e meia, alguém arrancava veloz…
A chegada de Nélson TAKAKI sempre chamava a atenção: sua Jawa impunha respeito e admiração geral. E como o simpático japonês dominava aquela moto!
Tempos após, TAKAKI adquiriu uma Honda 400cc quatro cilindros, cor vermelha cintilante. Linda! Namorei muito essa máquina na Expresso Mineiro, transportadora que meu pai gerenciava. A empresa trouxe a encomenda de Belo Horizonte; ficou semanas no depósito…
Outros integrantes da turma vespeira e lambreteira de Montes Claros-MG partiram para adquirir motos melhores. Alguns eu conheci depois, a exemplo de Juvenal e Netinho, amigos do meu mano José Antônio: ambos adquiriram Yamaha 50cc.
Infelizmente, Juvenal se acidentou feio com sua cinquentinha, ficando encostado por bom tempo (andava de muletas). Não quis mais saber de moto…
Também quase perdemos o amigo Raul, mecânico que trabalhava com Osmar Borborema. Ele se acidentou com a namorada na Rua Altino de Freitas, atrás dos Correios. A moto foi esmagada por um caminhão.
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Minha madrinha (Maria Neusa dos Santos) entendeu haver motivação comercial no ar e resolveu patrocinar uma concessionária de motos Yamaha para o meu mano José Antônio. Surgiu, assim, a MOTORAMA, com loja próxima à Catedral, Rua Grão Mogol.
Curioso, o japonês Nélson TAKAKI compareceu ao desembarque das motos e à inauguração da loja. De forma irresponsável, meu mano liberou as motos zero Km para todos experimentarem, sequer questionando se sabiam pilotar. O que teve de tombos; nunca mais vi algo parecido.
Para evitar maior prejuízo, em face das avarias nas motos, meu pai as vendeu por preços muito abaixo da tabela oficial. Não havia financiamento para motocicletas nessa época…
O fato é que foi uma honra ter TAKAKI entre os presentes no coquetel de inauguração da loja. Ele foi especialmente convidado a testar uma das motos. Não se fez de rogado: já saiu com a frente da RD125cc no ar! Mas empinou tanto que arranhou o paralamas traseiro e a ponta da descarga. Quase caiu!
Eu, por minha vez, cabeça cheio de ponche, derrapei com a YB50cc azul. Meu mano nunca soube disso…
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A MOTORAMA faliu antes mesmo de se firmar, roteiro previsível. Mas os motoqueiros continuaram se enturmando na Praça Cel. Ribeiro: Osmar Borborema comprou uma Honda 1000cc, similar à que Saulo Wanderlei possuía. As Honda 500 Four também se tornaram coqueluche geral. Até meu amigo José Luiz comprou uma, permitindo que a testasse entre Engenheiro Navarro e Bocaiúva.
Já Dominguinhos – que rodava com uma Xispa branca e uma nervosa Negrini – optou por uma Suzuki 500cc, dois tempos. Impressionante a arrancada daquela Suzuki…
Indiferente a esse “enxame” de motos, Nélson TAKAKI manteve sua charmosa Honda 400cc. Veladamente, ele insinuava ter desejo de adquirir uma outra mais potente. Nem seria preciso: o japonês detinha respeito da galera inteira. Todos se extasiavam ao presenciar o seu domínio completo sob duas rodas. TAKAKI apenas sorria levemente ao ouvir elogios sobre sua performance motociclística…
Durante a semana e aos sábados, ele parecia outra pessoa na banca de hortifrutigranjeiros do Mercado Municipal (ainda sediado na Rua Cel. Joaquim Costa).
Minha mãe era sua cliente fiel. “Os produtos dele são ótimos!” – dizia. Com ela, o sisudo japonês TAKAKI abria franco sorriso. Ali estava um ser humano fantástico, dizia intimamente.
Enfim, a cidade ferveu de motos daí em diante. Beto Chamone e outros encamparam ritmo promissor nesse segmento. Eu comprei uma mini-enduro GT 50cc, cor laranja, depois uma Yamaha TT 125cc, protagonizando muitas aventuras na minha cidade natal e outras próximas (BOCAIÚVA, JURAMENTO, CORAÇÃO DE JESUS, PIRES E ALBUQUERQUE, etc…).
Mas, a despeito dessas mudanças, com drástica aposentadoria de Vespas, Xispas, Lambretas, a figura do japonês Nélson TAKAKI está emoldurada como um dos pioneiros do motociclismo em Montes Claros. Os gritos do VERDUREIRO se confundem com o ronco sibilante de suas perfeitas arrancadas a bordo da potente Honda.
(João Carlos de Queiroz)
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