Guerreiros jamais partem; o legado deles é imortal…

Dona Hortência Júlia de Aguiar partiu recentemente do plano terrestre, mas sua abnegação à causa animal deixou exemplo magnífico às futuras gerações...

Amar os animais, de forma incondicional, extrapola limites do entendimento comum. Há protetores que são denominados de loucos, tamanha é a dedicação.

Isso acontece por uma razão muito simples: a  maioria das pessoas não entende como alguém pode preencher sua vida cuidando de animais, dia e noite.

Alguns desses “desentendidos” – os eternos incomodados com a vida alheia – chegam a cobrar:

– Por que vocês não cuidam de idosos e crianças?

Nem preciso dizer que nenhum deles pratica aquilo que cobra. Afinal, criticar é bem mais fácil…

EXISTÊNCIA ABNEGADA

A mineira Hortência Júlia de Aguiar teve a vida ceifada recentemente por um câncer agressivo.

Conforme os protetores, seria uma missão bem mais fácil se não houvesse a interferência nefasta dos predadores humanos.

Trata-se de escória competente ao extremo em perpetrar maldades contra quem não pode se defender. Os animais se constituem, portanto, em alvos prediletos.

Os protetores dizem até ter vergonha de pertencer à raça humana, em função disso…

Conheço um punhado de pragas semelhantes; formam Formam bloco de gentalha preocupada em perseguir [e denunciar] aqueles que cumprem essa missão caridosa de amparo a anjos.

Alimentar animais, na concepção de tais canalhas, é crime. Pode isso?!

Infelizmente, há casos e mais casos em que a Justiça concedeu “razão” aos inimigos dos animais, a ponto de trancafiar e processar os inocentes protetores.

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Mas vamos falar de dona Hortência, pois os desprezíveis inimigos dos animais nem merecem espaço…

ENTÃO…

Enquanto viveu, já próxima dos 80 anos, a mineira dona Hortência cuidou de centenas de gatos e cachorros em Cuiabá, além de outros animais que cruzaram no seu caminho caridoso, pedindo socorro.

Seja com sol e/ou chuva, jamais os protegidos de dona Hortência deixaram de receber alimento diário. Isso aconteceu por décadas.

ROTINA DA GUERREIRA

Quem reside nas imediações da Arena Pantanal, região do Verdão, conheceu de perto essa maratona que dona Hortência iniciava lá pelas 17h.

Era o momento em que a bondosa senhora saía de casa empurrando um carrinho de supermercado, repleto de ração, leite e água…

O barulho rangedor do velho carrinho era conhecido dos animais, e eles iam surgindo à medida que ela se aproximava. Dezenas, centenas ao todo nos quarteirões adiante.

Mesmo com tantos filhinhos adotivos, dona Hortência sabia quando faltava algum.

– Hoje não vi a pretinha malhada – disse uma vez.

No seu atento olhar, direcionado aos cantos da mata e imóveis abandonados, havia uma sombra de preocupação.

– Ela {gata} sempre aparece ao escutar o barulho do carrinho. Algo deve ter acontecido…

E aí, sem receio de parecer louca aos olhares curiosos dos transeuntes, ela gritou:

– Pretinha! Pretinha!

Foram várias situações desse tipo, e eu sempre flagrei um brilho feliz nos seus olhos quase lacrimejantes ao ver o animalzinho querido se aproximando…

– Vem papar, bebê! – Estava escondida, né?

Também presenciei tristeza angustiante no semblante da bondosa idosa ao encontrar algum animal atropelado ou ferido. E mais tristeza ainda ao se deparar com seus abrigados [na residência] envenenados.

Ainda recordo dela me ligando às 3h da madrugada para informar que envenenaram Téo; cachorro resgatado de situação de abandono ainda na fase bebê. Foi jogado num lote tomado por matagal.

Enfim, nem tenho ideia de quantos animais socorremos juntos, seja em Cuiabá ou em Várzea Grande, município vizinho.

HORTÊNCIA JÚLIA DE AGUIAR

Como já não tinha carro [dona Hortência chegou a ter um Monza GM nos anos 90], ela recorria sempre aos amigos para socorrer animais ou comprar ração.

Também fica difícil contabilizar as horas de espera em clínicas veterinárias…

Uma das curiosidades é que dona Hortência ficava indignada se porventura alguém a recriminasse por não ter almoçado lá pelas 14h.

“Ainda nem tomei café, se quer saber! Desde às 6h estou cuidando dos bichos!”, rebatia veementemente.    

Nos quase 35 anos em que convivemos, testemunhei inúmeras atitudes caridosas extraordinárias de dona Hortência. Ela ajudava os animais, sim, mas também auxiliava humanos, a exemplo dos moradores de rua.

No início, estranhei que muitos pedintes batessem ponto cativo na sua casa. Ao vê-los se alimentando numa calçada frontal, entendi tudo…

– Não levem os meus pratos!  – instruía em tom de voz severo.

Como acreditar em severidade diante de exemplo tão humano?

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É impossível contar em tão poucas linhas esse trabalho fenomenal que dona Hortência desempenhou pelos animais e seus semelhantes enquanto pôde. Contabilidade que lhe garantiu um bom lugar no céu, com certeza!

VAMOS CONTINUAR ORANDO POR ELA!

Por João Carlos de Queiroz, jornalista Mtb 381.18-MT

 

 

 

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