Feira virtual de pequenos vendedores terá participação de indígenas
Por Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Com 26 anos, Luciana Parapoty já pode ser considerada uma artesã experiente na produção de cestas, acessórios e peças decorativas. Desde os 8 anos, ela aprendeu as técnicas com parentes e outros membros da aldeia guarani Tekoakaovi Porã, que costuma receber visitantes e realizar atividades educativas em Maricá, no Rio de Janeiro. Desde o início do isolamento social, porém, todas as atividades foram suspensas, a loja da aldeia fechou, e as vendas, que são a principal fonte de renda da comunidade, chegaram a quase zero.
“A maioria que vive na aldeia, vive de artesanato. A gente recebia turistas e estudantes e vendia o que a gente faz na lojinha aqui da aldeia. Decidimos fechar também pela nossa saúde, mas ficou muito difícil”, disse a artesã, aliviada com o fato de a aldeia com 90 pessoas não teve casos de covid-19.
Para ganhar uma vitrine de exposição de seus produtos, a aldeia de Maricá se associou ao coletivo de marcas Retoke, que desde o início da quarentena realiza transmissões ao vivo para anunciar produtos de pequenos produtores. O coletivo criou ainda uma página na internet para vendas online e ajuda os produtores a expor e enviar seus produtos para compradores. Em troca, cobra um percentual de 10% das vendas do site e uma mensalidade que dá direito a participar das transmissões ao vivo.
Alguns vendedores, como a artesã, estão em seu primeiro contato com vendas online, forçados a se conectar pela quarentena. Além da loja da aldeia, os indígenas de Maricá costumavam participar de feiras e eventos, que foram suspensos como prevenção ao coronavírus. Como o início do isolamento social foi em março, encalharam todos os produtos feitos para a principal data do calendário de eventos, a comemoração do Dia do Índio, em 19 de abril. Serão alguns desses produtos que ela vai apresentar na próxima live do projeto Retoke no Instagram, que será realizada hoje (23) e amanhã (24).
“Trabalhamos muito com artesanato, mas não temos experiência na hora de aparecer na câmera para vender. Tivemos que criar um Instagram, e sou eu que vou apresentar”, disse ela, que confessa ainda estar se preparando para estrear nas transmissões ao vivo da internet. “Nem sei como vai ser”.
Além de Luciana, estarão presentes na feira deste fim de semana ex-integrantes da ocupação Aldeia Maracanã e a indígena Weena Tikuna, que tem um grife de moda indígena e produz roupas femininas, masculinas e plus size. A idealizadora da feira, Marina Carneiro, conta que cada produtor tem até 30 minutos para expor seus produtos, que depois continuam disponíveis na loja online do projeto. Apesar de a inciativa ser carioca, há marcas e compradores de outros estados participando.
A Retoke iniciou a loja online e as feiras virtuais quando percebeu que os pequenos produtores anunciados na loja física do projeto, em um shopping do Rio de Janeiro, não tinham familiaridade com as ferramentas da internet e dependiam de feiras e eventos como seus únicos pontos de venda.
“A cada edição, vamos ouvindo o retorno dos clientes e melhorando. Tem gente que compra de várias marcas e, depois da feira, recebe um batom, uma blusa, um hambúrguer e um sorvete”, exemplifica Marina, sobre a diversidade de produtos expostos. “Para os produtores, essa feira possibilitou ter uma data, que é algo que a pandemia tirou da gente. Ter aquela adrenalina de produzir e se preparar para vender”.
Em nome de pequenos produtores, ela faz um apelo aos consumidores: “Em vez de pedir um hambúrguer daquela marca grande, por que não pedir o do seu vizinho que tá ali do lado e pode estar fazendo um trabalho bacana? A gente faz esse apelo, e as pessoas têm recebido de uma forma muito positiva”.
Edição: Aécio Amado
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