Entrevista com Cláudio Adão: “Cigano? Não, bom de bola”

Um dos mais icônicos atacantes do futebol brasileiro, Adão abre o jogo sobre a carreira rodada ao site da CBF

Assessoria CBF – A carreira de Cláudio Adão está longe de ser comum. Em mais de 28 anos de futebol, o atacante atuou em alguns dos maiores clubes do país. Artilheiro de quase tudo que disputou, o ex-jogador abriu o jogo sobre a carreira em um papo exclusivo com o site da CBF. Vestiu camisas pesadas, como as de Santos, Flamengo, Botafogo, Fluminense, Vasco, Corinthians, Cruzeiro, Bahia… A lista é grande. Rodado? Talvez. Experiente? Com certeza. Cigano? Não, só bom de bola mesmo, como o próprio definiu.

— Não sou cigano. Fui bom de bola, um jogador importante, porque os clubes se interessavam por mim. Eu fazia muito gol, tenho 862 na carreira. Naquela época, o futebol não era essa potência que é hoje. A gente se valorizava nas transferências. Por isso minha carreira foi assim, de passagens por vários clubes — contou.

Revelado no Santos, Adão surgiu sob uma sombra monumental. Observando o jovem treinar nas categorias de base, o Rei Pelé o indicou como um possível substituto. A bola não mentia. Dono de habilidade distinta, atuou pela primeira vez com 15 anos de idade. Mas uma lesão ameaçou o sonho de Adão. Convocado para as Olimpíadas de 1976, em Montreal, o jovem adiou sua apresentação em um dia para defender o Santos contra o América de Rio Preto. Mas o azar bateu à porta. Em uma dividida, fraturou a tíbia e o perônio.

“Eu nasci para fazer gol”

Durante os exames, chegou a ouvir que jamais chegaria a jogar bola novamente. E fez apenas um pedido: “Doutor, me opera. O futuro eu entrego na mão de Deus”. Sua trajetória com a camisa do Santos foi interrompida pela lesão, mas sua relação com o futebol estava longe do fim. Desvalorizado, ficou encostado até se transferir para o Flamengo, em 1977. Mal sabia ele que começaria a escrever uma história diferente no Rio de Janeiro. Em um intervalo de sete anos, defendeu os quatro principais clubes da Cidade Maravilhosa, com algo em comum em todas suas passagens: muitos gols. 

— Eu nasci para fazer gol. Tinha muita sorte para fazer gol (risos). Sou muito grato, principalmente a Deus, por toda a minha carreira, por ter essa força e essa energia para jogar em tantos clubes. Em todos eles, fui artilheiro, na maioria campeão. Eu sou feliz.

Entrevista com Cláudio AdãoCláudio Adão recebeu a reportagem do site da CBF em sua casa, no Rio de Janeiro.
Créditos: Laís Torres/CBF

Adão ainda escreveu parte de sua história no futebol fora do Rio de Janeiro. Defendeu o Corinthians e foi campeão brasileiro pelo clube, em 1990. Também jogou pela Portuguesa, em São Paulo. No Nordeste, rodou por Bahia, Ceará, Santa Cruz… Mas existem dois clubes que nunca podem ser esquecidos na hora de fazer uma relação dessas: Bangu e Campo Grande.

As duas equipes da Zona Oeste do Rio de Janeiro contaram com o talento de Adão em momentos diferentes da carreira dele. Em meados de 1984 e 1985, Adão vestiu a camisa do Bangu. Levou o clube à final do Campeonato Carioca de 1985 e ficou a um gol de erguer a taça. Hoje, seu filho, Felipe Adão é quem veste a camisa do Alvirrubro. No Campo Grande, Adão jogou mais perto do fim de sua carreira, já em 1992. Mas ele não deixa que ninguém esqueça de sua passagem por esses dois clubes. Caso contrário, vai ouvir de amigos dos dois clubes.

Redenção e pressão no Flamengo

Foi com a camisa do Flamengo que Adão marcou o gol mais importante de sua carreira. Se não valeu um título, o tento simbolizou uma grande conquista pessoal. Foi em um Fla-Flu que ele balançou as redes pela primeira vez desde que se contundiu. Foi 2 a 0 para o Flamengo, com dois gols dele. O segundo, uma pintura. Recebeu um escanteio curto e, da quina da área, soltou uma pancada. O chutaço de direita pôs fim a um martírio de mais de um ano, e lhe devolveu uma certeza: seu futuro ainda estava no futebol.

— O mais importante era voltar a pisar no gramado. Tive a sorte de jogar no clube de maior torcida do país.

No Fla, Adão foi peça-chave na conquista do tricampeonato carioca, em 1978 e 1979. Virou até música, na voz de João Nogueira, que adaptou um samba de Wilson Batista: “O Mais Querido/Tem Zico, Adílio e Adão/Eu já rezei pra São Jorge/Pro Mengo ser campeão”. Mas o interesse de um rival da cidade deu fim à primeira passagem do atacante pelo Rubro-negro.

Entrevista com Cláudio AdãoO Mais Querido, tem Zico, Adílio e Adão…
Créditos: Laís Torres/CBF

Artilharia no Botafogo

Após três temporadas de sucesso no Fla, Adão mudou de ares. Uma proposta tentadora do Botafogo chegou à sua mesa: um salário três vezes maior, em um clube tão tradicional quanto o Fla. Na juventude, o atacante crescera idolatrando jogadores como Didi, Garrincha, Zagallo, Nilton Santos… E agora poderia jogar no mesmo clube que eles fizeram história. Não teve como dizer não.

Foi o começo de uma bela história, já que o Bota se tornaria o clube que Adão mais defendeu em toda sua carreira. Entre idas e vindas, foram quatro passagens pelo Glorioso, com o qual foi campeão carioca em 1989.

— O Botafogo é um dos maiores clubes do país. É o time de Garrincha, Didi, Paulo César Caju. Eu não queria muito sair do Flamengo, mas o Botafogo me ofereceu três vezes mais. E eu já tinha um grande carinho pelo Botafogo, pelo Garrincha. Foi uma satisfação enorme. Adorei ter jogado lá.

Conselho para Diego Souza

Justamente o Botafogo tem outro jogador a ter passado pelos outros três rivais do Rio: Diego Souza. O atacante tem sua estreia marcada para este domingo, contra o Fluminense, e chegou ao clube cercado de expectativa. Na opinião do ex-craque, isso não será um problema.

— É um grande jogador. O time do Botafogo vai ter que batalhar, porque ainda está se arrumando, para voltar a ser a potência que o Botafogo é. Desejo toda a sorte a ele, ainda mais no Botafogo, que é um clube maravilhoso — destacou.

Entrevista com Cláudio AdãoNo Botafogo, Adão reencontrou a camisa que foi vestida por tantos ídolos de infância
Créditos: Laís Torres/CBF

Abençoado no Fluminense

A primeira passagem de Adão no Botafogo não foi tão duradoura. Ainda em 1980, ele se transferiu para o Fluminense. Lá, teve uma façanha e tanto: o tetracampeonato carioca, pois havia sido tricampeão com o Flamengo e emendou os títulos com o Carioca de 1980, já pelo Flu, com direito a artilharia.

Dos tempos de Fluminense, Adão se lembra com muito carinho da sua relação com a torcida. Sentindo-se acolhido, o atacante chegava a se arrepiar quando entrava em campo e ouvia os tricolores cantarem a música feita para o papa João Paulo II. “A benção, João de Deus…”.

— Fiquei lá até 81, clube maravilhoso, com uma torcida muito tranquila, que me adorava. Eu me amarrava quando eles cantavam a música do João de Deus. Aquilo me dava uma empolgação sem tamanho entrar com a camisa tricolor no Maracanã — revelou.

Entrevista com Cláudio AdãoClube diferente, mesmo Adão. Em 1980, foi artilheiro e campeão carioca com o Fluminense
Créditos: Laís Torres/CBF

Invicto no Vasco

Depois de defender Flamengo, Botafogo e Fluminense, não poderia faltar o Vasco na carreira de Adão. Com o Cruzmaltino, foi mais uma vez campeão carioca, e carregou consigo uma história vencedora na principal casa do clube. Mesmo jogando muitas partidas no Maracanã, nada se comparava a São Januário para ele. E a boa relação se traduzia dentro de campo. Com a camisa Cruzmaltina, Adão não perdeu jogando no histórico estádio.

— A gente conhecia cada canto, era nossa casa, treinávamos lá. E a torcida pressionava bem mais, no cangote do adversário. Era melhor jogar em São Januário, tanto que, com a camisa do Vasco, nunca perdi lá — relembrou.

Entrevista com Cláudio AdãoNo Vasco, Adão fez uma temida dupla com Roberto Dinamite, o maior artilheiro da história do Brasileirão
Créditos: Laís Torres/CBF

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