Então finalmente é Natal; ou seria apenas reprise de filme lacônico?
Não há nada fabuloso no Natal comercial que tentam vender a incautos empobrecidos pela política vigente no mundo há décadas. Restou, felizmente, o mais importante nessas comemorações natalinas: o nascimento de Jesus Cristo!
Fui ontem ao Shopping Estação de Cuiabá; foi inevitável relembrar registro natalino protagonizado tempos atrás, juntamente com familiares.
Primeiro, após bater ponto taxativo na praça de alimentação do shopping, aquietando nossos estômagos inquietos, resolvemos assistir um filminho qualquer…
Em tempos de Natal, todo programa em família é maravilhoso!
Entramos com pipoca e suco, mais chocolate, na luxuosa sala de exibição.
Logo as luzes esmaeceram, ternamente convidativas a uma maior atenção ao espaço branco retangular à frente.
Também amante da arte cinematográfica, não gostei nadinha ao ver as imagens [pra lá de nítidas] sendo projetadas silenciosamente, amparadas por fundo musical esplêndido.
“Ué… Cadê o barulhinho dos projetores mastigando as películas?”, pensamento automático, porém desnecessário.
Aliás, já sabia que de há muito os projetores de encantamento fantasioso foram substituídos pela fria modernidade.
“Esse filme bem que poderia ser alusivo ao Natal…”
Infelizmente não era, comprovei logo na primeira cena, que decepção! Estranho que tudo começasse com sombras…
“Natal precisa ser luz; precisa ser vida; é o nascimento de Cristo!” – filminho pessoal projetado no âmago do meu cérebro.
ENFIM, o mais importante – com ou sem o ritmado sibilar da cruz na objetiva – era poder assistir confortavelmente a um bom filme. Lá estava eu.
Bom filme?! Naturalmente, essa qualificação vai ficar para o fechamento das cortina [ritual que os modernos shopping também aboliram].
O melancólico THE END…
Tentei compreender parte do filme, mas minha filha Pollyanna não permitiu nada disso. Impossível me concentrar com ela gargalhando o tempo todo!
Cochilei de modo despistado, para evitar a chatice daquele filme.
Apesar do som impactante, capaz de dispersar boiadas, o dito filme ainda não demonstrara a que veio…
Volta e meia, Pollyanna cochichava com a mãe. Devia ser algum assunto interessante, levando-se em conta o jeito divertido daquela misteriosa conversa.
Elas flagraram minha curiosidade ao entabular a sequência desse papo secreto.
Despistando, fingi direcionar total concentração no filme. De soslaio, ambas me olhavam francamente estarrecidas.
Escutei um indignado “audacioso esse aí…”
Momentos depois, Pollyanna sacudiu um saco vazio de pipocas diante de mim. Percebi seu olhar indagativo.
– Ah, já comeu… Pipoca boa… – comentei educado.
– Pai!!! Cadê a sua pipoca? Hein?? ”
– Comi só um pouquinho. Preferi o chocolate…
Ela estendeu sua mão alva, evidentemente à espera do petisco salgado.
Minha filhota sabia ser incisiva: sem pestanejar, passei a pipoca.
Pude ouvir, por minutos intermináveis, o mastigar guloso de ambas em meio a conversas que jamais soube ou talvez entendesse.
Associei essas mastigadelas ao furor veloz da cruz de malta nos quadrinhos laterais da película 35 mm.
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O tedioso filme que nem assistimos, de ingresso caríssimo, terminou sem que eu entendesse patavinas.
Levantamo-nos em sincronia apressada da sala de exibição, e quase atropelamos um casal que descia a rampa carpetada, marcha de autêntico estilo tartaruga.
Antes que pudéssemos zombar disso, fomos abalroados por um punhado de adolescentes mimadas. “Mal educadas!” – disparei raivoso.
Olhei para a tela – antes de me embrenhar pelo corredor de saída – e vi que o interminável deslize do elenco do filme continuava lentamente.
Jamais vi alguém ficando para assistir esse típico dicionário…
Lá fora, olhar impaciente, uma fila aguardava nossa saída para entrar. Seria igualmente iludida por aquele filme desinteressante.
– Gostaram do filme? – ousei perguntar.
As duas familiares explodiram em mais gargalhadas.
– Você gostou? – rebate duplo.
Foi a vez de todos rirmos cúmplices. Que filme ruim!
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Lá fora, apreciando a decoração natalina, à base de presépio/manjedoura, flagrei vários comentários alheios.
Qualifiquei-os, naquele Natal, como sem sentido algum. Ainda não mudei de opinião…
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– No Natal, parece que as pessoas se aproximam mais. Não é legal que isso aconteça? – ouvi de uma senhora elegante.
Pela bolsa e chave do carro que ela balançava ostensivamente, devia ser milionária.
– É porque Jesus Cristo está voltando. As pessoas sentem sua proximidade – resposta da amiga, um pouco mais baixa.
Uma serviçal negra pediu licença às duas para pegar um vaso de flores quebrado perto do mural; os pedaços de barro jaziam no piso…
– Desculpem, senhoras. Vou retirar esse vaso para ninguém se ferir – informou a moça.
Ambas a olharam como se tivessem sido ofendidas, sofrendo ultraje gravíssimo.
E, numa combinação de rispidez nada convencional, saíram rapidamente de perto da humilde trabalhadora.
– Sorria, pai! É Natal! Lembra-se que comemoramos o nascimento de Jesus?
Fiz uma careta como tentativa de sorriso. Pelo menos Jesus salvou mais um Natal…
FELIZ NATAL! PRÓSPERO 2025!
Por João Carlos de Queiroz, jornalista Mtb 381.18 – MT
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