CULTURA POPULAR: SEC-MT lança o 1º Festival de Lambadão de Mato Grosso

Entidades interessadas em realizar o evento podem se inscrever em chamamento público até o dia 31 de janeiro

Assessoria | SEC-MT – A Secretaria de Estado de Cultura lança o 1º Festival de Lambadão de Mato Grosso com o objetivo de fomentar, difundir, valorizar e preservar esse movimento cultural genuinamente mato-grossense. O festival acontecerá em 2018 e será realizado por Organização da Sociedade Civil (OSC) selecionada por meio de chamamento público. Entidades interessadas em realizar o Festival podem se inscrever até o dia 31 de janeiro de 2018. Outras informações sobre as inscrições estão disponíveis no edital, no site da Secretaria de Estado de Cultura (SEC-MT).

O 1º Festival de Lambadão de Mato Grosso ocorrerá em três cidades. Serão selecionados por um júri técnico e artístico até cinco bandas de música e cinco grupos de dançarinos e dançarinas que se apresentarão em cada etapa do Festival, totalizando 15 grupos em cada modalidade para as três etapas.

O Festival é resultado de um amplo diálogo com a cadeia produtiva do lambadão, que participou ativamente do processo com sugestões, críticas e contribuições, tanto presenciais como no encontro Diálogos da Cultura, que aconteceu em abril, quanto na consulta pública, disponibilizada na internet no site Participação Social no mês seguinte.

Essa interatividade integra o conjunto de ações da SEC-MT que visa estimular a cooperação de artistas e produtores culturais na elaboração de políticas públicas.

“O lambadão é um ritmo que nasceu em Mato Grosso e recebeu influência do rasqueado, carimbó e lambada paraense. É também um movimento que inclui festas de santo, casas de shows de mais de uma dezena de municípios e que vem ganhando cada vez mais espaço. Seus agentes criaram um mercado próprio, sustentável, que gera trabalho e renda para milhares de pessoas. O poder público pode colaborar, incentivando o fortalecimento dessa cadeia produtiva. O Festival de Lambadão chega para apoiar e somar com este movimento, fomentando e ampliando sua visibilidade”, explica o secretário de Cultura, Leandro Carvalho.

O lambadão é um gênero musical de grande importância para a cultura mato-grossense, amplamente executado nas festas populares. Desenvolveu-se a partir de ritmos tradicionais, flertou com ritmos populares paraenses e transformou-se em um legítimo movimento musical que se projeta e se mantém com muita força na Baixada Cuiabana.

Agrega elementos da lambada, incorporados através de deslocamentos migratórios, entre os estados de Mato Grosso e Pará, associados às atividades do garimpo. Muitos músicos incursionaram nas regiões garimpeiras deste Estado do Norte, porém tiveram que retornar, dada a escassez de minérios. Na bagagem, trouxeram a influência da lambada. O carimbó também serve como “tempero”.

Além dele e da lambada, o rasqueado também é apontado como um elemento importante na constituição do lambadão. Ao contrário da lambada – ritmo de origem caribenha –, o rasqueado é um ritmo considerado típico da região mato-grossense. Tais elementos indicam a constituição híbrida do lambadão.

De acordo com pesquisadores do movimento, o lambadão traduz-se em uma indústria do entretenimento popular que atua com um tipo de sistema não hegemônico. As bandas de lambadão buscaram formas não usuais de difundir sua música a partir de uma rede própria de contatos, criando uma estratégia de fortalecimento e divulgação muito particular, capaz de alçá-los a um dos protagonistas da nova indústria fonográfica da música popular – calcada em sistemas não-oficiais de produção e comércio. O lambadão possui uma cadeia produtiva baseada na sustentabilidade, na qual seus promotores lançam mão de diferentes dinâmicas para fazer circular suas músicas.

Os pesquisadores do lambadão verificaram, através de entrevistas com músicos atuantes neste segmento, que em 2010 existiam mais de cem bandas em atuação em Mato Grosso, incluindo uma rede de estúdios e casas especializadas, mesmo sem nenhuma política pública especifica de fomento ou formação. Seus principais nomes e referências, como Chico Gil, conhecido como o “Rei do Lambadão” e um dos principais responsáveis pela sua popularização em Mato Grosso, surgiram à margem dos veículos de comunicação e cultivaram o imaginário ‘lambadeiro’ de cidades como Cuiabá, Várzea Grande, Poconé e Rosário Oeste.

O antropólogo Hermano Viana, em seu livro “O Mistério do Samba” (1995), reafirma a importância que gêneros nascidos nas periferias, como o lambadão, tem para o futuro do mercado fonográfico. Diz ele que “uma das novidades mais importantes da cultura brasileira na última década foi o aparecimento da voz direta do povo, direto da periferia para todos os lugares, fazendo com que artistas promovam uma nova noção de mercado não pautada nas gravadoras. Dentre esses novos gêneros esta´ o funk carioca, o forro´ eletrônico cearense, o tecnobrega paraense, o arrocha baiano e o lambadão cuiabano”.

A sonoridade e o ritmo acelerado do lambadão impulsionam o destaque dado também à dança, que permeada pela sensualidade, ao que parece, é reflexo da aceleração no andamento da música.

O gênero tipicamente mato-grossense segue desbravando fronteiras, desde o seu surgimento no final da década de 80 até os dias de hoje. Pensando em movimentar a cadeia produtiva do lambadão, a Secretaria de Estado de Cultura, resolve realizar o Festival de Lambadão, dedicando fomento, apoio e divulgação. Mas, especialmente, reconhecimento, projeção, ampliação de plateia e valorização desta imaterial manifestação cultural mato-grossense.

 

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