Coube a Leonardo Campos ler o discurso de inauguração do Jornal do Norte

MONTES CLAROS-MG – Com a presença do  bispo Dom José Alves Trindade, além de outras autoridades, em nível municipal, estadual e federal, o jornalista Leonardo Campos procedeu a leitura do discurso de inauguração do Jornal do Norte, em 1979. A festiva cerimônia teve lugar no antigo prédio do jornal, na Praça Doutor Chaves.

De autoria do experiente Robson Costa(+), um dos repórteres-editores do Estado de São Paulo, o texto fazia alusão direta à modernidade tão necessária na imprensa. Isso se tornou molde prático nas funções rotineiras do novo jornal, fundado pelos empresários Américo Martins Filho e Antônio Santos.

Antes de iniciar a leitura, com aquela característica de sempre olhar sério por cima dos óculos, “varrendo todo o ambiente”, Leonardo disse estar muito emocionado. Afinal, explicou, também integraria a equipe de redação do jornal.

“É uma honra, sobretudo, interagir com vocês num momento tão especial. Nenhum de nós desconhece a potencialidade do modelo jornalístico ora implantado por Robson Costa. Robson é um profissional do mais alto gabarito, reconhecido em toda a imprensa nacional, não apenas em São Paulo”, pontuou, sob aplausos.

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Resolvi relembrar isso pelo seguinte: o saudoso Leonardo Campos foi meu editor no Jornal do Norte e no Diário de Montes Claros. Tornamo-nos amigos inseparáveis, cultuando quase os mesmos gostos, a exemplo de paixão confessa por cinema e literatura.

A única exceção residia no interesse de Léo por paleontologia, grutas, cavernas e similares; tema de vários livros didáticos que publicou.

BOAS NOITADAS…

Ao final do expediente no Jornal do Norte, eu e Léo saíamos para tomar cervejinha nas proximidades. A namorada de Léo, Martinha, futura esposa, geralmente estava junto. Uma menina encantadora. Eu a admirava bastante pela educação refinada.

Nosso bate-ponto mais comum era na Cristal, bar famoso da Rua Governador Valadares, lateral ao calçadão da Rua Simeão Ribeiro Pires. Lugar animadíssimo, todas as noites! A impressão era de que a cidade inteira se movimentava ao redor da Cristal…

Mais raramente, nossa opção de entretenimento noturno recaía para os botecos no entorno do Beco da Vaca, atrás da Igreja Matriz; estabelecimentos incrustados em calçadões estreitos, ladeados por austeros sobrados centenários…

Por ser ponto de encontro de artistas musicais, por lá rolava e ainda rola, nos dias atuais, contumaz “chorinho pagodeiro”. Difícil é aguentar o frio madrugador junino para continuar prestigiando essas rodadas musicais, de autêntica cunho seresteiro…

SEJA NA CRISTAL ou em qualquer boteco da vida, Leonardo Campos jamais perdeu seu pertinaz senso crítico de humor, atento aos mínimos detalhes à volta…

Foto: acervo familiar

A intelectualidade apurada do amigo jornalista fez com que eu caísse em deliciosas gargalhadas ao escutar comentários, notoriamente ácidos. Opiniões confidentes e contundentes, restritas à cachaça madrugadora…

No dia seguinte – quando imaginava que Léo nem pisaria no jornal, pois havíamos quase amanhecido na farra -, já o encontrava firme na redação, em franco trabalho de artilheiro entusiástico da notícia.

Pra variar, mesmo dedilhando rápido o teclado, o inseparável cigarro tamborilava insosso num dos cantos da boca, enquanto seu olhar compenetrado {de editor} não desgrudava do papel…

Léo nunca atentou para a possibilidade da espessa barba entrar em combustão relâmpago; ameaça real a cada cigarro acesso…

A quem o observasse ocasionalmente, em tais circunstâncias, a ideia mais provável remontava à cumplicidade perfeita entre o jornalista e a frágil lauda de papel áspero, presa à bobina da máquina…

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Depois de décadas de sucesso, o Jornal do Norte deixou de existir, e, a exemplo de outras figuras célebres, também alguns jornalistas que lá atuaram já não estão mais conosco. Leonardo Campos foi um deles: partiu para cumprir missão elevada no plano espiritual.

É importante, no entanto, ressaltar o trabalho abnegado daqueles que contribuíram decisivamente para a modernidade acoplada à imprensa local e regional, a partir do advento do JORNAL DO NORTE.

ASSIM, pela grande amizade que cultivamos, aliada aos preciosos ensinamentos que dele recebi, rendo hoje esta homenagem especial ao amigo Leonardo Álvares da Silva Campos, inesquecível mestre do jornalismo norte-mineiro.

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(*) Leonardo Campos foi jornalista, advogado, paleontólogo, escritor e uma pessoa incrível! Eis alguns dos adjetivos que encontro para tentar descrevê-lo.

Também foi um homem que gostava de andar de chinelos de couro, vestindo-se de forma simples. Roupas formais nunca o seduziram. Tanto que abdicou da profissão de advogado e do uso de ternos, apesar do brilhantismo emprestado identicamente à área jurídica.

Por João Carlos de Queiroz, jornalista

Fotos: Acervo Américo Martins Filho

 

 

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