Catadoras profissionais de MT participam do Seminário Nacional Catadoras na Resistência
Inédito, evento acontece em Pontal do Paraná-PR, e tem por objetivo debater questões cruciais da profissão de catadoras
O evento, organizado pelo MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis), acontece entre os dias 25 e 27 de outubro de 2023, em Pontal do Paraná, estado do Paraná. Reúne aproximadamente 500 participantes, sendo representantes dos ministérios da República, Instituições públicas e privadas, e catadoras representantes de várias cidades brasileiras, na condição de convidadas.
De acordo com a presidente Da Araguaia Recicla, Kátia Nabiane da Silva Lima, de Alto Araguaia-MT, foi a primeira vez que a entidade participou de evento semelhante. Ela destacou a importância da discussão entabulada para fazer balanço geral das dificuldades e perspectivas das catadoras e da própria área de reciclagem do País.
– Sem dúvida, trata-se de mais um avanço contabilizado pelo grupo de catadoras em busca dos seus direitos e, também, de deveres inerentes à área de reciclagem, em termos ambientais. Este evento oportuniza aprendizado técnico e troca de experiências, possibilitando celeridade nas soluções já buscadas no tocante ao desenvolvimento e fortalecimento do trabalho das catadoras.
Considerada uma das grandes lideranças desse segmento no território mato-grossense, Kátia Nabiane da Silva Lima citou ser testemunha ocular de experiências distintas enfrentadas pelas catadoras em Mato Grosso. Disse ser frequente a busca de saídas para neutralizar impasses que atropelam a estabilidade da profissão e, por outro lado, geram desconfiança social em relação aos cuidados das tratadoras no trato ambiental.
– Isso é mais frequente do que se imagina. Muitos não têm noção do trabalho sério e honesto desempenhado pelas catadoras e catadores. Atribuem que somos pessoas desocupadas, que simplesmente adoram revirar lixeiras. Não é bem assim: existe uma estrutura séria no nosso percurso profissional. É um trabalho.
A liderança mato-grossense sublinhou ser necessário implementar medidas a fim de que seja sistematizada uma maior divulgação do trabalho das catadoras/catadores e da reciclagem em geral, posto que a reciclagem é a destinação sequencial do processo do recolhimento de materiais no lixo.
– O lixo nos proporciona dignidade social. Temos orgulho de viver do lixo. São expressões estranhas? Concordo. Mas são reais. É por meio do lixo que as catadoras e catadores sustentam suas proles familiares. Recomendo, dessa forma, que as críticas ferinas sejam arrefecidas para que tal panorama de uma realidade social seja exposto na sua exata nitidez. Formamos uma área profissional como outra qualquer, e contribuímos também com a economia do Brasil.
Kátia finalizou suas colocações ao convidar críticos plantonistas das catadoras e catadores a conhecerem o dia a dia dessas profissionais pelas cidades.
– Geralmente, quando todos dormem, estamos iniciando jornada cansativa nas lixeiras, dali rumando para depositar o material recolhido nas unidades locais de reciclagem. É o que acontece em todo lugar. Seja homem ou mulher, o catador é um herói anônimo, pois já salvamos vidas ao vasculhar o lixo. Ou, infelizmente, não conseguimos salvá-las. Quantos bebês não foram encontrados em sacos de lixeira ainda respirando? O importante é sublinhar que atuamos pautados numa conduta de seriedade frequente, respeitando tudo. O meio ambiente se enquadra no rol das nossas defesas permanentes.
Na foto acima, Kátia Nabiane (d) com Roberto Laureano, presidente da Associação Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis.
A promotora do Ministério Público do Trabalho, Margaret Matos de Carvalho, também prestigia o seminário. A promotora é considerada uma das mais tenazes defensoras da causa das catadoras.
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Ao todo, participaram deste evento nacional oito catadoras do Estado de Mato Grosso, sendo elas: Anelita Pereira Queiroz Silva, Rosana Pereira dos Santos e Kellen Aparecida Cunha Galvão, membros representantes do Comitê dos Catadores do Estado de Mato Grosso, e Juliane Cristine Sanches (Primavera do Leste), Flor de Liz Augusto, de Nobres, e Raimunda, de Cuiabá.
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