Greve dos caminhoneiros paralisa órgãos públicos em Mato Grosso. Governo federal anuncia força militar para desbloquear rodovias e prender manifestantes

Mato Grosso também está às voltas com o desabastecimento geral provocado pela greve dos caminhoneiros. Escolas rurais não estão funcionando por falta de transporte dos alunos. Os hospitais de municípios interioranos já dispensaram cirurgias agendadas, em decorrência da falta de oxigênio e outros produtos utilizados nas unidades clínicas. Em Cuiabá, a Assembleia Legislativa, Governo do Estado e órgãos do Judiciário não tiveram expediente hoje à tarde, em função da redução da frota. Dezenas de postos de combustíveis não têm mais uma gota de álcool ou gasolina nos seus tanques. E com mercadorias perecíveis e não perecíveis retidas nos bloqueios, os supermercados registram prateleiras gradualmente vazias. Impera caos total num País que prima pela democracia e respeito aos direitos humanos.

Redação Site – Desde ontem, Mato Grosso está que nem a Venezuela, corre-corre geral para garantir abastecimento de combustível e compras em supermercados. Filas e mais filas estão formadas nesses pontos. É o reflexo direto da greve dos caminheiros, já no seu quinto dia, que tenta obrigar o governo federal a reduzir o preço do óleo diesel, tarifa impraticável para que os transportadores continuem operando.

Alguns comerciantes locais, temerosos de depredação, baixaram inclusive as portas dos estabelecimentos, precaução necessária para resguardar seus patrimônios. Foram obrigados a contratar vigilantes para evitar arrombamentos. E os supermercados, por sua vez, redobraram a vigilância.

A greve, conforme preconizou a coordenação, pode se agigantar de forma incontrolável, caso não haja acordo consensual entre as partes. Na reunião de ontem, em Brasília, quando governo e grevistas discutiram o impasse, foi apresentada pelo primeiro uma proposta composta de vários itens, que estão sendo analisados pela coordenação do movimento. Se os grevistas acatarem, a greve será suspensa de imediato pelos próximos 15 dias, quando as partes voltam à mesa de negociação. Mas tudo, por enquanto, está num estágio impreciso. O governo quer barganhar em cima dos prejuízos que as tarifas praticadas pela Petrobras causam aos transportadores, alegam os grevistas.

Os grevistas afirmam que não confiam no governo e vão aguardar os 15 dias para ver se as medidas anunciadas serão realmente cumpridas. Caso contrário, a greve irá se arrastar por prazo indeterminado

A Associação Brasileira dos Caminhoneiros tem alertado para outros desdobramentos à parte do movimento, a exemplo de furtos e arrombamentos no comércio. Hoje à tarde, tropas de choque da Polícia Militar de Minas Gerais foram obrigadas a intervir na BR—040, por causa de furtos praticados pelos próprios manifestantes, revoltados com o desabastecimento.

Mato Grosso também admite enfrentar desafios do tipo nas cidades e nos 28 bloqueios assinalados nas rodovias federais e estaduais. A PRF e a PMMT estão de prontidão desde o início da paralisação. Porque, com a pressão do desabastecimento e das condições insalubres que os grevistas e manifestantes enfrentam há dias nas rodovias (sem comida, banho, sanitários, sem renda e sem perspectiva de solução), tudo pode acontecer. Nem as forças policiais conseguiram impor ordem na eventualidade de todos perderem o controle em nome da própria sobrevivência e dos seus familiares.

O próprio presidente Michel Temer admitiu que o País atravessa um quadro de calamidade quando convocou a Força Nacional de Segurança Pública para desbloquear as rodovias. Medida confundida por muitos como uso das Forças Armadas. Ou pior ainda: que o Brasil, após longo tempo sem ditadura, voltou a recorrer à força militar para impor ordem junto à população civil. Não é bem por aí, há diferenças: as Forças Armadas integram Exército, Marinha e Aeronáutica. Já a Força Nacional de Segurança Pública é de cooperação federativa, voltada a resguardar a segurança das pessoas e do patrimônio.

O fato é que, com militares em ação ou na inércia, o País inteiro vivencia um quadro de desordem e desorientação popular similar ao que a população da Venezuela enfrentou nas mãos do presidente Maduro, motivo da debandada de milhares de venezuelanos. E isso acontece aqui também graças à desastrosa e ambiciosa política econômica do governo federal, que há anos pressiona os transportadores com reajustes exorbitantes de diesel e de outros combustíveis, impactando toda a classe trabalhadora.

O apoio de milhões de pessoas à greve está justamente atrelado ao peso que essas tarifas implicam no suado orçamento doméstico brasileiro. Porque, quando sobe álcool ou gasolina, praxe na economia nacional, é efeito dominó cascata em todos os demais produtos, principalmente na cesta básica, transporte coletivo, passagens, etc.

Na capital mato-grossense, Cuiabá, a frota de transporte coletivo foi reduzida à metade, segundo informações das empresas, a fim de economizar combustível. No entanto, já pela manhã, poucos ônibus circulavam nas ruas da capital. Uma das empresas, a Integração, por exemplo, deixou de operar a linha 101 nesse horário, obrigando os usuários a embarcarem na linha 106, que empreende rota desconexa aos seus destinos. Os motoristas foram enfáticos: “Nem sabemos se continuamos a circular após o meio-dia”.

Assim, ao contrário da intensa movimentação tradicional do trânsito cuiabano, a sexta-feira está hoje (25) com aspecto de Sexta da Paixão, ruas quase desertas, poucos carros. A maioria dos motoristas diz estar economizando combustível, principalmente álcool, já em falta em vários postos.

Por outro lado, as críticas à greve e suas consequências se alternam com elogios ao movimento. Para a maioria, era preciso uma paralisação de tamanho impacto para que o governo, até então insensível à situação do trabalhador, reflita e resolva de vez a situação. O fato é que todos os estados entraram nessa roda de desabastecimento e de aclamação e aprovação aos grevistas. Carreatas ainda continuam acontecendo em algumas cidades, mas em regime mais moderado. Resta aguardar um final feliz pra tudo isso.

Por João Carlos de Queiroz

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