Campo de extermínio de gatos: sonho {ou pesadelo} aterrorizante
Era para ser um Centro de Zoonoses. No entanto, conforme direcionamento do sonho, ali foram chacinados centenas de gatos. Nenhum sobreviveu...
Na última noite, sonhei que visitava as instalações do Centro de Zoonoses de Cuiabá. Não posso precisar a duração desse sonho, pois – conforme estudiosos do tema – horas podem ser sintetizadas em segundos durante os sonhos. Mas, enquanto rolou, tive a sensação de que realmente foi extenso, demasiadamente cansativo.
No dito sonho, o lugar mais parecia um Centro de Pesquisas Tecnológicas, dividido em setores bem aparelhados, estratégicos. Minha presença no local era para averiguar a situação dos gatos apreendidos na capital.
Ciente da localização da área de alojamento dos felinos, dirigi-me para lá apreensivo, como se já previsse algo ruim. Abri a imensa porta de ferro e nem pude entrar, pois havia estranho material espumante, de cor azulada, espalhado em todo o ambiente. Imaginei que pudesse ser algum tipo de ácido desinfectante. O produto, sem nenhum odor, produzia esparsas ondas branquíssimas.
Bem próximo à porta do gatil, vi um saco plástico boiando dentro do tanque de cimento. Normal existir tanques do gênero em lugares similares, dedução lógica desse sonho…
Numa das voltas regulares que o saco empreendeu no interior do referido tanque, surgiu a cabeça de um gato adolescente, aflito para sair dali. O corpinho poderia estar preso por alguma corda, imaginei. O gatinho se contorcia todo, tentando se livrar do saco a todo custo.
Quando me preparava para resgatar o gato, veio um rapaz sorridente me recepcionar, e disse que a situação dos gatos estava totalmente resolvida. Não entendi, pois não vi nenhum bichano por lá. A imagem do gatinho no saco não saía de minha cabeça…
O mesmo rapaz, agora transformado em cicerone, convidou-me a conhecer as instalações. E, gentilmente, percorreu comigo todo o interior do CZ, explicando a função básica do órgão. Minha cabeça continuava a mil, preocupado com o gatinho no tanque…
Não sei exatamente de que forma, consegui me livrar desse rapaz tão inoportuno. Sua figura formal ficou postada na porta da escadaria de uma sala maior, talvez fiscalizando se realmente eu iria embora. Não fui, tinha de salvar o gatinho…
Fingi sair do Centro de Zoonoses e, meio furtivo, retornei à sala de confinamento dos bichanos, ansioso para retirar o gatinho do tanque. O saco preto afundara de vez, comprovei ao checar a água meio turva. Outro detalhe curioso: a misteriosa espuma desinfectante sumiu por completo. O chão estava levemente úmido, limpo. Nem sinal de qualquer gato naquele espaço…
Temendo que a água do tanque contivesse ácido, peguei o cabo de uma vassoura e tentei resgatar o saco, agora bem pesado. Ele emergiu duas vezes, voltando a afundar. Certamente, o gatinho não sobreviveu, imaginei…
Ainda iria empreender mais tentativas, momento em que a “carrocinha” do Centro de Zoonoses (veículo de apreensão de animais de rua) parou bem ao lado da porta de saída. Caminhonete estranhíssima, sombria, cheia de remendos e adaptações. Porém, funcionava…
O condutor era rústico, incrivelmente desejoso de ser carismático. Tanto que forçava sorrisos fáceis a todo instante, exibindo dentes amarelos e falhos. Já saiu do carro abrindo seu bocão, vestido num macacão cinza, creio que sujo, julgando-se pelo suor escaldante. Calçava botinas escuras, surradas. A figura inteira lembrava a de um mecânico cansado, ao final do expediente.
{Ar desconfiado, ele já se postou bem a meu lado, claramente insinuando que devia sair daquela sala, não tinha permissão para ficar ali. “O senhor pode ficar lá mais adiante; aqui não é bom”, comentou autoritário.}
Por educação, eu o cumprimentei sem maior ênfase, após ele se aproximar com aquela mão enorme estendida. Sem cerimônias, imprimiu notória calosidade áspera no cumprimento, além de sacudir meu corpo para externar rompante desnecessário de simpatia. Nunca o vira antes, não entendi bulufas…
Não tardou para manifestar total desejo de me afastar dali o mais longe possível. Ar desconfiado, travando com o corpo a passagem de retorno ao gatil desértico, informou que o lugar “era proibido para permanência de pessoas estranhas”. Interessante isso: virei “estranho” de uma hora pra outra…
Nem consegui registrar nada, via celular, porque o tal sujeito resolveu se tornar tenaz guardião do Centro de Zoonoses, tampouco ligando para assumir qualquer atitude simpática. Até mesmo seu sorriso fácil cedeu lugar a uma expressão carrancuda, de pouca paciência. Melhor ir embora, de vez. O gatinho (lá no tanque) deve ter morrido mesmo afogado…
Saí dali rumo ao centro de Cuiabá, consciente de que tinha bom chão pela frente, levando-se em conta a distância entre o CZ e a área urbana da cidade. Novos problemas surgiram nesse trajeto: muita lama, desvios, e a sensação de que não conseguiria ir mais avante. Mas insisti em prosseguir, e assim acordei, meio pensativo, intrigado com o sumiço dos gatos do Centro de Zoonoses.
Sonhos são enigmáticos, na maioria das vezes. Assim, precisamos interpretá-los cuidadosamente. Mas são incursões totalmente imprevisíveis, nada compreensíveis. Melhor não levá-los muito a sério…
Por João Carlos de Queiroz
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