Por João Carlos de Queiroz, jornalista – Mineiro de Montes Claros, deixei minha tórrida terra natal em 1989, a convite do deputado estadual João Teixeira, conterrâneo e amigo particular, então titular da Primeira Secretaria da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Anteriormente, Teixeira residiu em Alta Floresta, e ao se transferir para Cuiabá, anos após, não quis mais sair. Ainda cumpriu mandato federal por MT.
João Teixeira é um dos milhares de “paus rodados” que aportaram de “mala e cuia” na aprazível capital mato-grossense, lugar em que planejam ficar até o fim dos seus dias terrestres. No dia a dia de vida em Cuiabá, torna-se notória a sensação de “rompimento do laço umbilical” com suas origens, já imperando o “cordão de prata”, de imortalidade amorosa à terra cuiabana. E outros continuam chegando…
Também me incluo nesse grupo de apaixonados por Cuiabá, cidade nota 10, em todos os sentidos. E que me perdoem os eventuais críticos, procedentes de paragens além fronteiras de Mato Grosso. Posso assegurar que são cinicamente mal-agradecidos ao receptivo tapete-vermelho que os cuiabanos sempre estendem aos chegantes desprovidos.
Quando digo “desprovidos”, é porque a maioria costuma desembarcar na capital sem um vintém no bolso, apesar de carregar malas e malas de esperança. Ou nem isso… Aos poucos, a cidade abre portas, estabiliza vidas, e num tempo que os forasteiros reconhecem ter sido rápido, podem finalmente dizer que venceram. É quando exibem famílias constituídas e negócios estruturados…
O ex-prefeito de Cuiabá e atual secretário estadual de Cidades, Wilson Santos, historiador de mão cheia, soube, a meu ver, definir exatamente o sentimento de ser cuiabano, apesar de, em suas veias, correr sangue paulistano e cearense, por conta das raízes familiares. Em várias ocasiões, testemunhei Santos indagar o porquê de o povo cuiabano ter sempre os braços abertos para quem chega à procura de uma oportunidade de ser feliz. “Um mistério encantador”, definiu.
“Eu mesmo, “pau rodado” – acrescentou Wilson -, mistura intrínseca de paulista com cearense, fui recebido aqui com carinho inigualável, amor extremo. Não conheço, sinceramente, outro lugar no País em que os forasteiros tenham tratamento tão especial. O povo cuiabano é, por excelência, mestre na arte de bem-receber, de se doar. É um presente perpétuo de amizade”.Cuiabá é tudo isso que Wilson Santos conseguiu resumir em palavras tão sábias. Próprias, aliás, da sagacidade intelectual que o fez famoso na condição de professor de cursinhos universitários, levando-o a passos graduados na política local, estadual e federal.
É por isso que defendo Cuiabá de ataques tão levianos de quem come arroz com feijão às suas custas e, depois, ainda fala mal. Se não está contente, conforme popular ditame, “a porta é a serventia da casa”. Pois mesmo os críticos ferinos sabem de uma realidade concreta: é difícil abandonar esse paraíso de belezas e esse calor identicamente humano; aliás, é concorrência de páreo intensificado às altas temperaturas que abrilhantam de exotismo as riquezas naturais do município. E elas estão disseminadas em segmentos atrativos: gastronomia, história, ecologia e outros itens (costumes, folclore, perspectivas comerciais, industriais, etc.).
É bom, então, que muitos “faladores” sem freio mordam a própria língua pra valer, quando ousarem criticar Cuiabá. Que ouçam o palavreado simples e carismático dos cuiabanos sentados à porta de suas casas, nos fins de tarde e no expirar de noites calorentas. E que respirem os ares da cidade sem a timidez de ser intrusos, pois realmente estão em casa, prontos para o convívio de dias felizes com gente que gosta de gente.
Resumindo: o “ser cuiabano” se enquadra naturalmente aí, e é uma boa lição de casa repassada diariamente por esses professores de espontânea cordialidade…