Fernando, conforme depoimentos de colegas do clube e amigos, mantinha proximidade íntima com o garoto, chamando-o de “filho”. Felipe, por sua vez, o chamava de “pai”, denominação repetida em várias cartas que o menino escreveu para o treinador. Para a Polícia, isso evidencia que ele estava apaixonado e conseguiu também seduzir a criança durante o longo tempo de convívio. A Polícia uruguaia não tem dúvidas de de que o treinador agiu de forma premeditada ao sequestrar e assassinar o menino. Isso inclui a escolha do local onde o crime foi cometido, afastado da cidade e em área isolada.
Fernando chegou a dizer à mãe de Felipe (Alexandra Pérez) que preferia morrer se acaso fosse proibido de ver o menino, quando ela lhe pediu para ficar longe da criança. A mãe seguiu orientação da psicóloga do clube, que detectou comportamento estranho em Felipe e a aconselhou a manter o treinador afastado do garoto. Ela frisou que pediu isso com serenidade, até sublinhando “por favor!”, mas percebeu visível alteração revoltosa no semblante do técnico, que não concordou com seus argumentos, rebatendo o pedido maternal com ameaças de suicídio.
Alexandra disse ter ficado pasma, pois percebeu que aquela reação inusitada fugia completamente à figura de “apenas amigo sincero e dedicado” que Fernando sempre demonstrara em relação ao seu filho, que quase não tinha convivência com o pai biológico. A idolatria de Fernando pelo garoto denunciou outro sentimento, percebeu ao ouvir dele que poderia até se matar. Preocupada, Alexandra determinou seu afastamento definitivo.
O SEQUESTRO – Inconformado com isso, Fernando resolveu agir de outra forma, e, sem permissão dos pais, foi à escola em Maldonado na última quinta-feira para buscar o menino, alegando que o tempo estava ruim, poderia chover. Ninguém estranhou, uma vez que eventualmente Fernando buscava Felipe, sem restrições da família. A partir daí, ambos desapareceram e as buscas foram intensificadas para localizá-los. Autópsias preliminares indicam sinais de que o menino sofreu violência sexual recentemente. Mais exames vão confirmar a autenticidade dessa primeira análise no corpo da criança.
O contato entre instrutor e aluno teve início na própria cidade de Maldonado, em 2015, por meio da equipe infantil do Club Defensor de Maldonado. Fernando respondia pelo treinamento da equipe do menino, oportunidade em que estreitou com ele uma relação muito forte. A dirigente do clube, Myriam Sosa, responsável pela divisão infantil, disse ter presenciado o garoto chamar o treinador de “pai” por mais de uma vez. O pai biológico do menino é um ex-jogador de futebol, Luis Romero, informações prestadas no jornal El País do Uruguai pela mãe da criança, Alexandra Pérez.
A Polícia ainda foi inteirada de que essa proximidade entre treinador/aluno nunca causou estranheza à repartição esportiva, posto que “Fernando sempre foi um técnico de conduta irretocável e respeitoso com todas as crianças”, além de reiterar ser amigo íntimo da família de Felipe, sem contestações, palavras dos colegas. Ele inclusive participava das reuniões escolares para representar os familiares do menino, com quem, autorizado pelos pais, chegou a viajar durante as férias para o Brasil.
O caso só começou a ser olhado de forma diferente a partir do momento em que o menino Felipe passou por consultas com a psicóloga do clube, evidenciando alterações estranhas no seu comportamento usual. A médica ainda foi discreta ao instruir a mãe a manter distância entre ambos, não oficializando à Polícia suas suspeitas.