Uruguai: ficção sobre lavagem de dinheiro disputa vaga no Oscar 2020

Filme foi escolhido para representar o país na competição

Por Marieta Cazarré – Repórter da Agência Brasil – Montevidéu – O filme Así habló el cambista, (Assim falou o cambista, em tradução livre) foi o escolhido pelo Uruguai para representar o país na categoria de filme estrangeiro no Oscar 2020. Dirigido por Federico Veiroj, o filme conta a história de Humberto Brause, um banqueiro determinado a lavar a maior quantidade de dinheiro possível, em uma Montevidéu da década de 1970.

A obra, que teve sua estreia no início deste mês no Festival de Cinema de Toronto, no Canadá, já foi exibida no festival de San Sebastián, no País Basco, e segue agora para o festival de Nova Iorque, onde será visto no início de outubro. O filme está em cartaz em diversas salas no Uruguai e ainda não tem previsão de estreia no Brasil.

Así habló el cambista é o quinto filme do diretor Federico Veiroj, que nasceu em 1976, em Montevidéu, e tem dupla nacionalidade, espanhola e uruguaia.

O filme se passa na década de 1970, quando o Uruguai parecia atrair a lavagem de dinheiro, ficando conhecido, inclusive, como paraíso fiscal. O personagem principal, Humberto Brause, encenado pelo ator uruguaio Daniel Hendler, se dedica a enriquecer com a compra e a venda de divisas estrangeiras, passando por cima do que for preciso para concretizar seu plano. O roteiro foi baseado no livro homônimo, escrito por Juan Enrique Gruber, em 1979.

Não é a primeira vez que Veiroj tem um filme selecionado para representar o Uruguai no Oscar. Em 2010, seu segundo longa-metragem, A vida útil, também foi candidato ao prêmio. Além de ter sido selecionada em mais de 100 festivais em todo o mundo, foi exibida comercialmente em Argentina, México, França, Brasil, Chile, Venezuela, Holanda, Estados Unidos, Japão e Inglaterra.

Veiroj trabalhou durante seis anos na Filmoteca de Madri. Seu primeiro longa, Acne(2008), estreou na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes, no mesmo ano. Os longas El Apóstata e Belmonte estão no catálogo da Netflix para o mundo todo.

Desde o início dos anos 2000, o cinema uruguaio vem revelando diretores talentosos e filmes representativos para o cinema, como é o caso de “Whisky” (2004), dirigida por Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, e “O Banheiro do Papa” (2007), de César Charlone e Enrique Fernández, ambos exibidos no Festival de Cannes.

Agência Brasil conversou com o diretor.

Agência Brasil – O que significa, para você, ter o filme “Así habló el cambista” selecionado para o Oscar?

Federico Veiroj​ – É um reconhecimento espetacular para mim, que já tive a sorte de viver em 2010 quando selecionaram o meu segundo filme, também pelo Uruguai. E, além do reconhecimento, o que é mais importante é que haverá um público que conhece a existência da obra por conta disso, e que irá vê-la. Ou seja, é sensacional.

Agência Brasil – Como surgiu a ideia de fazer o filme?

Veiroj – Eu encontrei por acaso o livro Así habló el cambista, em uma biblioteca pequena numa cidade chamada Castillos, enquanto fazia uma seleção de atores. O título me chamou atenção, depois o personagem central e sua visão de mundo, o humor, e depois me dei conta que queria fazer um filme com esse material, que me convidava a pensar em cenas, situações, personagens.

Agência Brasil – Seu filme está sendo exibido em diversos festivais. Qual é a importância dos festivais na vida de um filme?

Veiroj – No meu caso, os festivais, assim como qualquer outra janela de exibição dos filmes, é fundamental porque são canais para que o trabalho se conecte com o público. Ou seja, a importância dos festivais, na minha opinião, é alta.

Agência Brasil  – O seu filme tem uma fotografia particular, de época. Como foi a decisão por essa estética?

Veiroj – Trabalhamos na paleta do filme, com cores clássicas como o azul, o cinza e o marrom, com Arauco Hernández, diretor de fotografia e roteirista; com a figurinista Caro Duré; com o diretor de arte Pablo Maestre. Compartilhávamos a ideia de que a época não era ostentosa, que não devia chamar muito a atenção; tudo para centrar o filme nos personagens e na narrativa e que não houvesse elementos de distração.

Agência Brasil  – O cinema uruguaio, na sua opinião, tem um lugar de destaque no mundo? Se aproxima do cinema argentino, por exemplo, em temáticas?

Veiroj – Eu não saberia responder em profundidade, mas o que destaco do cinema da região é que se faz com muita paixão.

Edição: Bruna Saniele
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