Uma visão do invisível: Tetsuro Ueda, cientista da Nissan

“Nosso caminho segue em direção a mundos infinitos”

YOKOHAMA, Japão – Especialista em tecnologia, o cientista Tetsuro Ueda trabalha no Centro de Pesquisa da Nissan, onde a empresa explora tecnologias de última geração e desenvolve o próximo passo na evolução dos automóveis. Ueda trabalha com uma equipe pequena, mas dedicada. O foco do time está na conexão entre a tecnologia e os seres humanos de maneira rica e integrada. Seu projeto mais recente está criando novas percepções em relação às plataformas conectadas e tecnologias de sensores.

Na CES 2019, a Nissan anunciou o conceito Invisible-to-Visible (I2V ou Invisível para Visível), uma tecnologia revolucionária que ajuda os motoristas a “enxergarem o invisível” ao mesclar os mundos real e virtual para criar a mais avançada das tecnologias para carros conectados. Em uma entrevista recente, Ueda apresentou sua visão sobre como a sociedade poderá interagir com o I2V.

Q: O que é, em poucas palavras, a tecnologia Invisible-to-Visible?

Ueda: Invisible-to-Visible, ou I2V, é nossa maneira de aumentar a percepção e aprimorar a experiência da condução. Ao mesclar o nosso mundo com o mundo virtual, chamado de Metaverso, podemos criar a melhor experiência com carros conectados. Dados coletados a partir do espaço ao redor do veículo e as interações com informações virtuais ganham vida por meio de imagens visuais e tridimensionais à nossa frente. Basicamente, podemos enxergar informações que normalmente seriam invisíveis para nós e interagir com elas.

Q: Qual a diferença entre essa tecnologia e outras semelhantes que estão sendo desenvolvidas?

Ueda: Até o presente momento, a tecnologia apenas acrescentou a voz à apresentação de informações numa tela plana. A tecnologia I2V utiliza um método que vai além dessa maneira convencional de fornecer as informações. É verdade que algumas empresas estão pesquisando apresentações de informações tridimensionais em veículos que são semelhantes à nossa tecnologia. A diferença está em nossa abordagem de apresentar dados ou avatares como realidade mista (RM). Isso aumenta o nível de interação e dá mais peso aos elementos virtuais na nossa realidade. Outro fator é o nosso foco em apresentar as informações e os dados de uma maneira humana.

Q: Você poderia explicar isso? Como é que isso difere dos assistentes pessoais virtuais (VPA) já no mercado?

Ueda: Enquanto esses VPAs focam em aprimorar a eficiência das funções de assistência ao usuário através da inteligência artificial, os avatares que oferecem assistência através do Metaverso – nós os chamamos de Traverse-Agents – são inteiramente diferentes na sua ênfase sobre a interação entre as pessoas, além da eficiência. Os VPAs servem como assistentes funcionais. Entretanto, os Traverse-Agentsnão param na funcionalidade. Antes, se tornam parceiros dentro do espaço do veículo. Esse conceito utiliza plenamente muitas tecnologias de sensores do I2V, como o Omni-Sensing, que coleta dados da infraestrutura do tráfego e de sensores ao redor do veículo, e do Metaverso, para atender diversas necessidades. Podem ser desde um parceiro casual para conversar até orientações sobre a condução do veículo, estudo de idiomas, consultoria e aconselhamento de negócios ou de assuntos pessoais, tudo realizado dentro do mesmo espaço compartilhado com o usuário.

Q: Algumas informações recebidas através do Omni-Sensing incluem dados sobre o tráfego. Qual a diferença disso diante dos aparelhos e apps que já fornecem informações semelhantes?

Ueda: Não é necessário acessar o Metaverso para obter informações sobre o tráfego. Isso pode ser acessado através da nuvem de informações do trânsito. O I2V pega esses dados e acrescenta detalhes coletados pela tecnologia Omni-Sensing. Por exemplo, recebemos mais do que as informações sobre o congestionamento no trânsito pela frente; isto é, podemos saber por que o congestionamento aconteceu, qual a melhor faixa de seguir, e quais as possíveis rotas para fugir dessa área. Com esse conhecimento do desconhecido à frente, o stress de conduzir o carro pode ser aliviado.

Q: A apresentação na CES vai mostrar como as pessoas do Metaverso podem nos acompanhar como um avatar dentro do carro. Eles conseguem assumir o controle do veículo?

Ueda: Já prevemos um operador especial capaz de dar instruções a veículos de condução autônoma, semelhante ao conceito SAM, que anunciamos na CES 2017. Mas não estamos pensando em transferir o controle das operações de condução (acelerador, freio e direção). Pode ser possível compartilhar algumas funções além daquelas envolvidas na condução, como ar condicionado ou sistema multimídia a fim de melhorar a experiência compartilhada da viagem.

Q: Com essa possibilidade de experimentar a condução através de mundos virtuais, você acha que o fato de realmente dirigir um carro ainda é atraente? Será que as pessoas continuarão comprando carros?

Ueda: Os carros satisfazem o desejo de mobilidade das pessoas. Uma característica central da tecnologia I2V é o compartilhamento da experiência da mobilidade, mas ela também serve como catalisador de um nível mais alto de interação. Essa tecnologia incentiva novas interações que vão além do mundo real, entrando no Metaverso em pleno crescimento e os consumidores finais. Isso implica num crescimento dramático de usuários que conseguem interagir em mais situações. Esperamos que essa tecnologia provoque mais interesse em utilizar os carros, para experimentar o sistema I2V.

Além do mais, a experiência de andar juntos em um espaço virtual jamais será igual à experiência no mundo real. Portanto, não estamos preocupados com uma diminuição do número de motoristas. Ao contrário, a experiência de condução mesclada com experiências virtuais possivelmente vai estimular o movimento no mundo real.

Q: Existe risco de os condutores entrarem no Metaverso enquanto dirigem?

Ueda: Não é possível mergulhar no Metaverso enquanto dirige. Essa tecnologia utiliza elementos do Metaverso para os usuários poderem conversar com os avatares – isto é, uma pessoa do Metaverso projetada virtualmente no mundo real dentro do carro. Isso difere, de forma tecnológica, de uma experiência completa de Realidade Virtual (VR). Embora uma experiência plena de VR seja possível, achamos que esse tipo de utilização não funciona como uma experiência viável de condução.

Q: Essa tecnologia pode funcionar em qualquer lugar? Ou somente nas cidades cuja infraestrutura está conectada?

Ueda: Pode ser utilizada em qualquer lugar que tenha acesso à internet. Mesmo assim, será preciso aguardar a introdução da tecnologia 5G ou mais para ser utilizado em veículos em movimento. Quando tivermos a tecnologia e a velocidade de conexão para gerir isso durante a condução do veículo, o Invisible-to-Visible irá aprimorar a experiência da mobilidade e abrir as portas para mundos infinitos.

 

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