Pelo que tudo dá a entender, vivemos num País habitado maciçamente por robôs travestidos de humanos, cujo único objetivo é capitalizar dividendos, ainda que muitos inocentes sucumbam em meio a esse processo. O rompimento das barragens da Mineradora Vale em Mariana – MG {há três anos} e, agora, em Brumadinho – MG, é exemplo disso. “Qual será a próxima a romper?” – muitos questionam.
Nos dois episódios, um gigantesco lamaçal varreu esperanças e exterminou vidas e patrimônios, enlutando não apenas o Estado de Minas, mas todo o Brasil e pontos igualmente sensíveis do Planeta a dramas do tipo. As tragédias evidenciaram ainda a irresponsabilidade administrativa que grassa no País. Ambas as barragens tiveram laudo positivo de segurança, emitido por técnicos contratados pela empresa Vale. Alguns já foram presos, medida aplaudida pela expectativa dos enlutados.
Antes cenários de labuta esforçada, de sol a sol, as áreas em questão dissolveram os vestígios da presença humana. Em Mariana, somente agora a paisagem local começa a se recompor. Mensagem inequívoca de que se rebelou contra a destruição imposta pelo homem no seu âmago.
As regiões atingidas pelo rompimento das barragens nada diferem dos cemitérios mais modernos, que tentam emprestar à morte um aspecto de natureza receptiva. Algo semelhante a parques abertos, sem criptas, catacumbas e monumentos sinistros.
As imensas áreas devastadas pela força da lama assumiram tonalidade marrom, diluindo o antigo verde silvestre e suas belezas naturais. No caso de Brumadinho, o Rio Paraopeba já sinaliza forte contaminação, evidenciada pela coloração densa de suas águas {sem a mínima oxigenação} e mortandade de peixes.
Já em processo de ressecamento, a lama – que insiste em ocultar corpos humanos e de animais – torna-se gradualmente compacta, dificultando a localização das vítimas. Previsível cova perpétua para os esforçados trabalhadores da Vale e outros que ali estavam…
Providencialmente e à parte de qualquer indenização oficial, a Vale anunciou a doação de R$ 100 mil reais às famílias enlutadas, espécie de pano morno para amenizar a tragédia. Dá a impressão de que, para a mineradora, não importa quantos possam morrer inocentemente em tragédias eventuais nas suas barragens, pois a perda de vidas humanas pode ser sempre reparada com cifrões.
O grande questionamento é: quais providências serão efetivamente tomadas pela Justiça para neutralizar tais ocorrências no futuro? As indenizações cobrem patrimônios perdidos, mas jamais conseguirão acalentar corações partidos pela morte de entes queridos…
Por João Carlos de Queiroz