Terras indígenas ajudam a evitar casos de doenças respiratórias

Estudo revela que áreas protegem comunidades a 500 km de distância Por Letycia Bond -- Repórter da Agência Brasil - São Paulo

Uma pesquisa divulgada na revista Communications, Earth & Environment, do grupo Nature, revela que as terras indígenas da Amazônia Legal podem absorver 26 mil toneladas de poluentes lançados no ar por queimadas, todos os anos. Com isso, evitam-se cerca de 15 milhões de casos de doenças respiratórias e cardiovasculares e, como consequência, o Sistema Único de Saúde (SUS) pode economizar US$ 2 bilhões.

O estudo Protecting Brazilian Amazon Indigenous territories reduces atmospheric particulates and avoids associated health impacts and costs analisou índices de uma década para chegar às conclusões. Os autores do trabalho são pesquisadores da Clark University, EcoHealth Alliance, George Mason University, Universidade Nacional Autônoma do México e da Universidade de São Paulo.

Segundo a bióloga e ecóloga Paula Prist, pesquisadora sênior da EcoHealth Alliance e principal autora do estudo, foram fontes dos dados o DataSUS e relatórios de satélites da Nasa e do MapBiomas. “Trabalhamos com uma equipe multidisciplinar, em que havia ecólogos de paisagem, epidemiologistas, economistas ambientais, especialistas em sensoriamento remoto e em análise de dados, para saber qual seria a melhor fonte de dados, como acessá-los e, depois, como trabalhar com esses dados”, disse à Agência Brasil.

Entre os números em destaque, que se relacionam, está o volume de partículas liberadas por queimadas, a cada ano, no período de seca, que começa em julho, é de 1,7 tonelada, resultando em 2 milhões de casos de doenças cardiovasculares e respiratórias. Para mensurar as emissões, o que se fez foi reunir dados de mapeamento de satélite.

De acordo com os pesquisadores, terras indígenas com floresta mais encorpada têm assegurado a proteção de populações rurais e também urbanas, situadas, muitas vezes, a uma grande distância, do lado sudeste da Amazônia, no chamado “arco de desmatamento” – nome dado à região por causa da perda da maior parte da cobertura florestal, em decorrência do avanço de atividades legais e ilegais, como o agronegócio, o garimpo e a grilagem.

O que a análise demonstra é que as terras indígenas protegem populações que podem estar a 500 quilômetros de onde ocorrem os incêndios. Sozinho, um conjunto de cinco territórios chega a responder por 8% da capacidade de absorção das partículas dos incêndios, destacam os autores do estudo.

No artigo que sintetiza o trabalho desenvolvido, os pesquisadores afirmam que os incêndios florestais nos países de floresta tropical são responsáveis por 90% das emissões globais de partículas liberadas pelas queimadas, incluindo aqueles que ficam na Bacia do Rio Amazonas. Outro fator importante é que as florestas de folhas largas da Amazônia têm mais probabilidade do que as florestas de outros biomas de liberar aerossóis carbonáceos negros e orgânicos, os principais componentes das partículas finas que aumentam a incidência de doenças respiratórias e cardiovasculares na região.

Para Paula Prist, o principal objetivo do estudo é provocar uma reação no poder público, para que busque ações efetivas de preservação de áreas de floresta. Em entrevista, Paula disse que foram confirmadas as hipóteses sobre a contribuição das terras indígenas para a saúde humana. Porém, a equipe não dimensionou tão bem o benefício que as zonas de floresta densa trazem ao coletivo, afirmou.

A pesquisadora disse que houve duas grandes novidades: não se imaginava que a distância importasse tanto, e os resultados mostraram que sim, que mesmo terras indígenas distantes conseguem fornecer esse serviço e resguardar a saúde das populações. Imaginava-se que fosse um efeito mais local, ressaltou Paula. “A outra novidade é que a gente não esperava encontrar dados tão altos, números tão altos. A gente esperava que isso teria um custo, sim, e que ia ter um monte de casos evitados, mas que [os números] não seriam tão grandes quanto os que a gente encontrou.”

Edição: Nádia Franco

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