Por Pollyanna da Silva Queiroz – O 2 x 0 de hoje também significou bálsamo relaxante para o povo brasileiro, de há muito ansioso por um território sem miséria e corrupção. Um país em que todos tenham seus direitos respeitados e possam sonhar com amanhãs promissores.
E, a exemplo de dezenas de milhões de brasileiros, também torci pela vitória da nossa seleção. Deu certo. Fechamos o jogo com um 2 x 0 surpreendente, placar contabilizado milagrosamente nos minutos finais contra a veterana Costa Rica {que tem jogadores com mais de 30 anos}.
Os adversários da nossa seleção não representaram nenhum temor nas tentativas pífias de ataque, ainda que mantivessem retranca carrancuda nos dois tempos da partida. No segundo tempo, algo despertou a fera talentosa da equipe brasileira, e os ases do futebol (antes hibernados) saíram da casca, patrolando os atletas porto-riquenhos.
No geral, foi um bom jogo, destoante do marasmo verificado no embate anterior, estreia de pura decepção…
E quando os chutes dos brasileiros Coutinho e Neymar oficializaram a vitória, descortinou-se toda a magia do futebol no bilionário Estádio de São Petersburgo. Liberou até gargalhadas de quem escutava o próprio estômago roncar de fome ao namorar apetitosos sanduíches servidos numa lanchonete qualquer. Mesmo dores e deficiências foram ignoradas, e o paralítico protagonizou equilíbrio circense ao dançar feliz.
Êxtases idênticos costumam inebriar consciências aflitas por suprimentos alimentares e agasalhos. Não raramente, elas são elevadas a patamares de realidades festivas. Faz parte do jogo da vida. Esse sentimento é intempestivo no decorrer dos vários ciclos do existir humano, em que se alternam esperanças e frustrações.
Enfim, a Copa do Mundo é esse palco de teatralizações intermitentes de otimismo e pessimismo. Os resultados agradam a quem deseja que seja assim. No caso do Brasil, após o jogo da seleção, logo se propagou – via TV e redes sociais – o ritmo retumbante do frevo carnavalesco. O país inteiro ainda fervilha comemorações.
Festas populares, aliás, em todos os níveis, são ótimas para que todos se esqueçam de algo óbvio: ainda estamos num campo minado de corrupção. Passa-se mata-borrão num Brasil de decadência econômica e sufoco geral da classe trabalhadora. Apenas os corruptos de colarinho branco estão tranquilos. Mas a maioria dessa turma já está lá, na Rússia, também comemorando. Alguns estão na cadeia. Pouquíssimos.
*É importante ressaltar que a Copa do Mundo (e a nossa seleção) não são culpadas disso: ambas cumprem seu papel momentâneo de condutora de alegrias que incandescem o planeta e cobrem o cenário existencial de lágrimas…
“Vamos que vamos, Brasil!”