Montes Claros-MG – Os empresários Américo Martins Filho e Antônio Santos oficializaram profícua parceria para fundar, em 79, o Jornal do Norte. O matutino nasceu num sobrado centenário da Praça Doutor Chaves, popular Matriz, centro nostálgico da cidade. Até décadas atrás, podia-se ver os escombros da primeira casa de Montes Claros, construída ao lado.
Visionário, Américo quis dar melhor destinação ao antigo imóvel da família, que já sediara a Reitoria da Fundação Norte Mineira de Ensino Superior. Movimentá-lo com a efervescência de uma redação seria ótimo! O amigo Antônio Santos também bateu o martelo de aprovação, firmando sociedade na diretoria do futuro jornal. Poucas vezes vi sócios tão harmônicos, comungando ideias e diversão espontânea ao entabular projetos idealistas…
Na apresentação do jornal, Américo e Antônio Santos impressionaram ao discorrer sobre mais avanços pensados para o veículo noticioso, a partir do seu breve funcionamento. Havia muita expectativa local, e não faltaram palpiteiros da área e outros opinando, sem a mínima experiência no ramo.
Houve também quem alfinetasse a audácia dos empresários em fundar algo inédito na sua agenda profissional. Américo, sorriso maroto costumeiro, costumava dizer que o mais importante é tentar alcançar sonhos, apesar da nebulosidade prática com que alguns projetos possam se apresentar.
– Se você não tentar, jamais saberá se poderia ter dado certo – disse ao ser questionado sobre o lançamento do jornal, meses antes.
Por sua vez, Antônio Santos rebateu na mesma tônica do sócio, explicando que nada é mais divertido do que apostar em sucesso.
– Não conheço a palavra derrota, pra ser sincero. Derrotado é quem não sai do lugar comum, limitando-se a uma estagnação comodista, sem o menor brilho existencial…
Frases do tipo foram ditas e reprisadas posteriormente, durante as reuniões de redação, quando o matutino já circulava e recebia muitos aplausos dos leitores, em face de sua linha redacional inovadora. O JN tinha porte similar à dos grandes meios de comunicação escrita do país.
Na condição de repórter estreante no Jornal do Norte, eu ouvia tudo aquilo francamente deslumbrado. Sabia estar diante de gênios da notícia, independente do ingresso recente deles na área de imprensa.
Éticos, jamais vi nenhum dos dois falarem mal dos dois principais jornais da cidade, o Jornal de Montes Claros e Diário de Montes Claros. Américo, pelo contrário, enfatizava a importância do pioneirismo de ambos em trazer aos seus conterrâneos uma estrutura regular de informação.
Humilde, Américo frisava que o JN não concluíra ainda nenhum projeto de melhoria geral da imprensa escrita, excetuando-se pela vontade de atingir este ápice.
– Explico: fundamos o Jornal do Norte, mas temos o dever de melhorá-lo gradualmente. Acredito estarmos no caminho correto, julgando-se pelo que ouvimos nas ruas desde seu lançamento. Orgulha-nos isso, lógico, sem contudo interferir no curso de continuar buscando pelo melhor. Ser jornalista é mais do que informar: é missão social.
Editores, repórter, pessoal administrativo, todos se encantavam ao ouvir tais explanações do célebre diretor do Jornal do Norte. Américo Martins nasceu para ser homem de imprensa, tive convicção. Suas decisões eram calcadas numa amplitude lúcida.
Motivado pelas palavras firmes do amigo patrão, eu saía às ruas em buscas de novidades que fossem exatamente aquelas que ele dizia serem interessantes para o público leitor. Nem sempre acertei, e ao acertar algumas vezes, fui elogiado. Mais gás no ritmo jornalístico, a partir daí…
Vez ou outra, cansado de dedilhar máquinas de datilografia, costumava descer à gráfica para interagir com os funcionários do fumacento espaço inferior. Lá de cima, escutávamos o barulho da máquina rotativa…
Quão impressionado fiquei ao ver, pela primeira vez, a imensa impressora depositar pilhas e mais pilhas de páginas impressas, após mastigatório incessante dos imensos rolos, untados de tinta. Ela facilitava em muito o trabalho manual para a montagem dos cadernos.
Américo e Antônio desciam eventualmente à oficina do JORNAL DO NORTE, conversando com os principais linotipistas, Anselmo e Tião. Eles tinham muita confiança nesses gráficos, e pude comprovar, meses após, ser uma confiança fundamentada, em decorrência da sua grande capacidade profissional.
O que gostaria de frisar, enfim, em meio a tantas observações curiosas, práticas, e outras insensatas, é que o Jornal do Norte emoldurou perpétua projeção modernista na imprensa norte-mineira. Compactou, de forma apaixonante, a melhor maneira de articular o andamento construtivo da notícia. Tenho muita honra de ter feito parte dessa história tão linda!
Conforme assinalei no título, a fundação do JN foi um sonho praticado amorosamente pelos sócios-diretores; sonho que persistirá sempre na memória do cidadão do Norte de Minas Gerais, com ênfase nos habitantes de MOC. Américo e Antônio Santos foram eficazmente iluminados ao traçar esse exitoso projeto.
Por João Carlos de Queiroz