O saltitante Saci Pererê é lenda cunhada na memória nacional

Quem já adentrou na casa dos 50 anos {ou mais}, sabe discorrer muito bem sobre as peripécias do menino negro de uma perna só, que saltita de forma rápida para pregar peças nos menos desavisados (pessoas e animais). A lenda ainda empresta à figura emblemática do Saci um inseparável cachimbo fumegante e gorro vermelho. Outro destalhe: ele jamais foi visto usando camisa. E também nunca se soube que fizesse algo realmente maldoso a alguém...

O folclore brasileiro detém uma série de personagens que vive na mente dos mais antigos. Muitos, por sinal,  já ganharam gradual espaço também nas novas gerações, sejam assustadores ou inofensivos. Mesmo em plena época de internet, há certa credibilidade em relação a figuras lendárias que pretensiosamente protagonizam situações distintas na sociedade. O Saci Pererê é uma delas, e ganhou destaque oficial em várias cidades do país, instituindo-se  datas comemorativas às suas alardeadas travessuras.

Adolescente, o menino o Saci saltita aqui e acolá para pregar peças em quantos encontra pelo caminho. Nem os animais escapam de suas brincadeiras, segundo apregoa a lenda. Tornou-se, assim, parte integrante do riquíssimo folclore nacional. O lamentável, opinião também formulada por historiadores de renome, é que muita gente ainda insiste em cultuar mitos de outros países, a exemplo do ‘Dia das Bruxas’ , lenda embrionária das terras do Tio Sam.

Enfim, as andanças do folclórico Saci não se atrelam a metrópoles, associando-se mais a núcleos comunitários não evoluídos. Na antiga Montes Claros-MG dos anos 60, cidade de caraterísticas tímidas, muito atrasada na época, falava-se muito de um Saci que saltitava inquietante no meio de densa várzea existente entre os bairros São José e São João.

Meu mano mais velho, José Antônio, sempre acompanhado do primo Geraldo Vinícius dos Santos, costumava brincar nessa várzea na fase pré-adolescente. Ele e o primo sempre acessavam a parte mais alta da mata, pois assim podiam apreciar entorno da região. Foi lá que viram o Saci…

Recordo bem da expressão esbaforida de ambos ao chegar na nossa humilde casa, imóvel situado numa rua cascalhada de acesso à Praça João Catone, a principal das redondezas. Segundo contaram, o Saci veio pulando em sua direção, e aí foi um “pernas, pra que te quero?” danado…

Ainda narraram que o Saci em questão tinha orelhas enormes e parecia voar sobre os arbustos mais altos. Se não fossem ágeis na fuga ao ganhar ladeira abaixo, certamente que seriam apanhados pelo travesso pula-pula.

Se isso tudo foi invencione criança, sinceramente eu não sei. O fato é que o mano e o primo nunca mais quiseram se embrenhar naquela mata, argumentando ser moradia do Saci Pererê. Não poucas vezes flagrei os dois apontando para o alto da várzea à frente. “Deve estar lá ainda”, diziam…

João Carlos de Queiroz