O eleitor que não sabia votar…

Faz muito tempo, mas muito tempo, mesmo, surgiu Zeca da Silva, um eleitor disposto a votar fervorosamente num candidato. O problema é que não sabia qual era o ideal, o melhor. E com as eleições chegando, urgia saber escolher…

Portanto, encurralado pelo desconhecimento político, Zeca ficou literalmente confuso diante de tantas propagandas, notícias fictícias plantadas aqui e ali.

Também não faltaram palpiteiros plantonistas para ensiná-lo como escolher bem. Mineiro desconfiado, Zeca não foi na lábia de nenhum vizinho.

Já próximo à data das eleições, o dito eleitor, ainda sem saber qual seria o candidato mais confiável, pois nenhum político presta, preparou-se para exercer seu direito de cidadania.

Para tanto, levantou-se cedinho, tomou um café reforçado, à base de ovos mexidos, e partiu em direção à zona eleitoral. Sempre caraminholou estranheza em relação a essa denominação.

Zeca tinha os nomes dos dois candidatos estampados frescamente na cabeça, mas a dúvida persistia: qual deles levaria seu voto, ainda não sabia….

O Brasil respirava expectativa apreensiva em ambos os lados há meses, enfocando os altos e baixos de cada postulante.

Na sua dimensão modesta de brasileiro, ele sonhava com um País sem corrupção deslavada, sem mordomias palacianas, e muita comida à mesa para os pobres.

Mesmo sendo pouco alfabetizado, o suficiente para ler e escrever com dificuldade, Zeca tinha nítida percepção acerca das necessidades frementes da Nação.

Foi assim que adentrou no colégio, sendo orientado para ir à sala de votação. Ali chegando, torceu para que outros estivessem na sua frente, pois poderia pensar mais um pouco e decidir em quem votar.

Convidado a entrar, sabia que nenhum dos sorridentes candidatos conseguira convencê-lo. Pelo contrário: manteve forçado equilíbrio duvidoso no transcorrer do processo eleitoral. Tantas promessas…

Um deles, observou, alargava mais o sorriso do que o outro, parecendo deslavado escárnio. Mas muitas mulheres o achavam maravilhoso, capacitado. Ele, não, ponderava sobre tudo e tudo…

Já diante da urna, os respectivos nomes foram apresentados à sua análise duvidosa, e sua decisão foi a de escolher aleatoriamente, de olhos fechados.

Decidido a não passar mais raiva por ter creditado voto a nenhum político insensível, ele posicionou os dedos e fechou os olhos, apertando uma, duas vezes. Esperava ouvir algum sinal do fim da votação, porém nada aconteceu.

Irritado, abriu os olhos e deu de cara com um candidatos, certamente à espera de que clicasse o botão a seu favor.

Zeca nunca entendeu direito o que aconteceu após matraquear o teclado e a votação ser conclusa sem ter votado em ninguém.

Levantou-se desconfiado e a mesária o olhou simpática, desejando-lhe um bom dia.

Saiu da sala e andou pelos corredores do colégio matutando se fizera o certo, visto que talvez fosse melhor ter votado em alguém.

Agora, restava aguardar as longas horas do transcorrer do dia, quando saberia quem se consagrou vitorioso nas urnas.

Zeca foi pra casa preparar seu solitário almoço imaginando que o derrotado deixaria de sorrir logo ao anoitecer. Só não sabia qual sorriso se transformaria num semblante de decepção…

Por João Carlos de Queiroz

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*Texto meramente fictício. Não faz nenhuma alusão à consagrada segurança das urnas eletrônicas, testada várias vezes. A ideia desse simplório texto é prospectar a indecisão de uma eleição polarizada.