Por Douglas Corrêa – Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro – Uma nota técnica elaborada por professores de diversos departamentos e institutos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) concluiu haver uma real ameaça à segurança hídrica dos municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro abastecidos pelo sistema produtor do Rio Guandu. O estudo também apontou que o problema da água é resultado do lançamento de esgoto em afluentes do Rio Guandu.
A água coletada desse sistema pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) pelo sistema produtor do Rio Guandu tem apresentado há dias uma coloração diferente e um odor forte. Segundo a Cedae, a água estaria apta para o consumo e teria sido resultado da presença de geosmina, uma substância produzida por algas e que provocou o gosto e o cheiro de terra na água distribuída à população.
O diretor-presidente da Cedae, Hélio Cabral, disse hoje (15) que a água distribuída pelo Reservatório do Guandu, que atende a grande parte da população da região metropolitana, não terá mais a presença da geosmina a partir da semana que vem.
De acordo com a nota técnica da UFRJ, o sistema produtor do Rio Guandu só poderia “atendida pela transposição da água do Rio Paraíba do Sul”. Segundo a análise feita pelos professores da universidade, apenas os municípios da região metropolitana de Itaboraí, São Gonçalo e Niterói, que são abastecidos pelo sistema Imunana-Laranjal, não apresentam problemas.
O documento informa que o atual problema com a água no Rio é resultado da falta de tratamento de esgoto sanitário nas áreas urbanas. “Esgotos sanitários em estado bruto, ou seja, desprovidos de qualquer tratamento, são drenados pelos rios dos Poços, Queimados e Ipiranga, todos afluentes do Rio Guandu, a menos de 50 metros da barragem principal e da estrutura de água só sistema produtor da Cedae”.
O relatório alerta que há uma evidente degradação ambiental nos mananciais utilizados para abastecimento público da região metropolitana do Rio, o que compromete a qualidade da água, dificulta o tratamento e pode colocar em risco a saúde pública. “A população não deve ser responsabilizada para identificar se a água está ou não adequada ao consumo.”
Além disso, diz o documento, sem que haja identificação e esclarecimento de uma eventual contaminação, a população também não poderá ser induzida a consumir água mineral ou de qualquer outra fonte. “Não atender a essas considerações propicia um cenário que piora a segurança da água, além de ser socialmente injusto, pois impõe um gasto extra para o consumidor que deveria ser atendido de forma adequada pela rede de distribuição.”
Segundo a nota técnica, enquanto não houver uma recuperação adequada dos recursos hídricos usados para abastecimento público, é bem provável que aconteçam no futuro crises semelhantes à que está ocorrendo no Rio de Janeiro atualmente. “Os investimentos necessários para essa recuperação não podem ser adiados e devem ser considerados prioritários e estratégicos”.
A Agência Brasil pediu uma resposta da Cedae sobre a nota técnica da UFRJ sobre a qualidade da água distribuída à população do Rio, mas até o fechamento da matéria não obteve resposta.