Por Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro – O presidente eleito, Jair Bolsonaro, reafirmou ontem (8) que o pagamento de R$ 24 mil feito pelo ex-assessor Fabrício José de Queiroz à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, fazia parte de um empréstimo que totalizou R$ 40 mil.
“Em outras oportunidades eu já o socorri financeiramente. Nessa última agora houve um acúmulo de dívida da parte dele para comigo e resolveu me pagar com cheques. Não foi um cheque de R$ 24 mil. Foram, na verdade, dez cheques de R$ 4 mil. E assim foi”.
Fabrício José de Queiroz trabalhava no gabinete de Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Bolsonaro disse que não utilizou a própria conta para receber os valores por ter “dificuldade para ir em banco e andar na rua”. “Deixei para a minha esposa. Lamento o constrangimento que ela está passando. Mas ninguém recebe ou dá dinheiro sujo com cheque nominal, meu Deus do céu. Isso é uma coisa normal, natural, isso não existe”
O presidente reiterou que é amigo de Queiroz desde 1984 e que espera que o ex-assessor se explique na Justiça a respeito da movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em conta, identificada em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) anexado à Operação Furna da Onça.
Bolsonaro destacou que o filho Flávio não está entre os investigados pela operação que apura irregularidades envolvendo a Alerj.
“O meu filho não está nessa operação da Polícia Federal. O Coaf fez um levantamento de todos os funcionários da Alerj, foi identificada em dezenas deles movimentações atípicas, entre eles, o senhor Queiroz. O próprio Coaf disse que movimentações atípicas não é uma afirmação de que ele seja culpado de alguma coisa. Por exemplo, agora nós temos 600 mil pessoas na malha fina do imposto de renda, não quer dizer que eles sejam criminosos”.
O presidente disse ainda que não declarou os valores emprestados à Receita Federal por terem sido pequenos a cada ano, mas que se acumularam chegando ao total de R$ 40 mil. “O empréstimo foi se avolumando, de um ano pro outro, R$ 10 mil, mais R$ 10 mil, se eu errei perante o Fisco, eu arco com as minhas responsabilidades perante o Fisco, sem problema nenhum”.
Bolsonaro atribuiu a divulgação do relatório do Coaf aos advogados de parlamentares presos na Operação Furna da Onça.
Segundo o presidente eleito, o motivo foi “desviar a atenção”. “Conversei rapidamente com o Flávio, ele está bastante abatido também. Esse pente fino do Coaf foi feito no início do ano e o Coaf não vazou nada, pelo que eu sei. Foram advogados dos parlamentares que estão presos ou que estão respondendo a processos que vazaram isso daí pra tentar aí desviar o foco da atenção deles”.
Ontem, Flávio Bolsonaro disse que Queiroz deu a ele uma explicação “plausível” e que o ex-assessor vai se explicar ao Ministério Público Federal.
Meio Ambiente
Sobre a demora na definição do nome que comandará o Ministério do Meio Ambiente, Bolsonaro afirmou que está com dificuldade de conciliar o tema com outros interesses.
“Tem muitos nomes bons, nós temos que casar com interesses também da agropecuária, interesses outros para infraestrutura. Não pode uma licença, para fazer uma PCH [pequena central hidrelétrica], por exemplo, levar 10 anos, ou uma licença para duplicar uma estrada, como foi a Paraty-Cunha, levar uma década. Isso não pode continuar acontecendo, atrasa o Brasil. Não queremos pressa nem ferir o meio ambiente. Mas a demora está bastante”.
Sobre divergências dentro de seu partido, o PSL, o presidente eleito disse que fará reunião na próxima semana. “Já tive reuniões com quatro partidos, semana que vem estão previstos mais dois ou três, o PSL é um deles. PSL é um partido bastante novo, dos 52 deputados, 48 se não me engano, são novos, e estão brigando por espaço. Lamento isso daí, mas se nós começarmos desunidos fica difícil a gente conseguir a maioria no parlamento para aprovar aquilo que interessa ao Brasil.”
Cirurgia
Bolsonaro informou que fará nova avaliação médica na quinta-feira com o médico Antônio Luiz Macedo, no Hospital Israelita Albert Eisntein, em São Paulo. Segundo ele, se for possível, gostaria de antecipar a cirurgia para dezembro ou adiar para fevereiro, para que possa ir ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, que ocorre de 22 a 25 de janeiro.
“Talvez adie minha possível cirurgia, porque não é certa, tendo em vista Davos. Mas essa é a vida. Eu devo passar agora quinta-feira pelo hospital novamente e tratarei desse assunto. Se eu estiver em condições, eu opero agora. Se o doutor Macedo achar que eu tenho condições, eu passo baixado Natal e Ano Novo, porque eu gostaria de não ficar uma semana baixado depois de janeiro.”
Sobre o cancelamento do compromisso agendado para ontem, em Pirassununga, por motivos médicos, ele disse que se confundiu com os remédios e acabou dormindo.
“Eu estou tomando uma série de medicamentos e me confundi em um. Foi isso que aconteceu. Daí eu dormi, ia para Pirassununga no dia de ontem e a equipe médica resolveu cancelar. Só isso, mais nada. Estou bem. É você tomar algo parecido com sonífero em dose além do normal. Foi isso que aconteceu. Mas estou bem, graças a Deus, fisicamente.”
O presidente eleito conversou com a imprensa após participar, na manhã de hoje (8), da cerimônia de formatura dos aspirantes da Turma Almirante Saboia da Escola Naval, a primeira instituição de ensino superior mais antiga do país, sendo instalada no Brasil com a vinda da família real em 1808. O ministro da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, também esteve presente à formatura dos 228 guardas-marinha, entre eles, dez mulheres e nove estrangeiros, de Angola, Cabo Verde, Líbano, Peru e Senegal.