André Garcia Santana – A excêntrica temática que invadiu o Museu de Imagem e do Som de Cuiabá (Misc) no último final de semana, com a abertura da IV CineCaos, tem sequência neste sábado (25). Para a ocasião, a mostra de cinema celebrará o estilo “trash” com dois dos mais reconhecidos diretores e produtores da vertente no país: Petter Baiestorf e Gurcius Gewdner. Juntos, eles palestram sob a mediação da produtora Carol Araújo.
A programação inclui, além da exibição de filmes novos de ambos os convidados, o curta-metragem “Coração das Trevas”, de Zé do Caixão. A produção, dirigida por José Mojica Marins, em parceria com Marcelo Colaiacovo e Nilson Primitivo, foi filmada nos anos de 1990, mas passou a ser exposta apenas recentemente.
Segundo o secretário municipal de Cultura, Esporte e Turismo, Francisco Vuolo, esta é uma forma de movimentar o Museu, que reabriu as portas em 2018 após quase três anos de pausa. “Estamos atraindo diferentes públicos com essas ações, trazendo as pessoas para dentro do museu. E a programação não para por aqui. Temos ainda uma série de eventos agendados para o Misc” diz.
Este ideal é reforçado pelo diretor do Museu, Cristóvão Gonçalves. Durante a abertura, no dia 18, ele destacou que a recepção de diferentes artistas e públicos está acima de qualquer gestão. “Não tem pompa ou glamour. É uma questão ancestral. Meus antepassados construíram essas ruas do centro, a Igreja de São Bendito, o Misc e tantas outras obras pela cidade. Então, para mim, é uma honra recebe-los em seu nome.”
Dividido em quatro encontros, o CineCaos teve início na última semana e se estende aos dias 25 de agosto, 1 e 8 de setembro. Ao longo destas datas se apresentam no local as bandas Malevah, Desert Punk, Sr. Infame e DJ Górium.
Neste sábado também serão exibidos os curtas: ‘Blasfêmia: Substantivo Feminino’, de Daniela Távora (RS), ‘ESC4ESCAPE’, da Stella Maris Films (RS), ‘Horário Nobre ou Banquete Para Urubus’, de Lucas Martins e Dimitro Kozma, ‘Dilacerados’, de Leandro Sherman (ES), além dos filmes premiados no circuito independente, com direção de Joel Caetano (SP), intitulado ‘Judas’ – que acumula nove prêmios – e ‘Casulos’.
Os diretores
Petter Baiestorf é produtor de filmes independentes e editor de fanzines desde 1992. Diretor, produtor, roteirista (de cinema e quadrinhos), escritor, diretor de fotografia em vídeo, distribuidor independente e ator, criou a Canibal Filmes no final de 1991 e desde então produz longas de baixo orçamento com distribuição independente.
Ativo na comunidade cinematográfica “undergound” brasileira, é co-autor do livro “Manifesto Canibal” (Ed. Achiamé, 2004, co-escrito com o ator Coffin Souza), onde defende a produção independente sem ajuda financeira do Estado.
Como diretor-roteirista, se destacou produzindo filmes de horror no Brasil, sempre sem recursos públicos. Algumas de suas produções que se destacaram são ‘O Monstro Legume do Espaço’ (1995, longa), ‘Eles Comem Sua Carne’ (1996, longa), ‘Gore Gore Gays’ (1998, longa), ‘Zombio’ (1999, média), ‘Vadias do Sexo Sangrento’ (2008, média), ‘Ninguém Deve Morrer’ (2009, média), ‘Zombio 2: Chimarrão Zombies’ (2013, longa) cujo trabalho foi selecionado para participar de mais de 80 festivais no Brasil e no exterior.
Exponente da “arte maldita” e do cinema underground nacional na atualidade, Gurcius Gewdner deu início a sua produção em 2000 quando, junto a um amigo de colégio, filma e edita ‘Poluição dos Mares e Oceanos’. Por muito tempo trabalhou com a edição dos filmes de outros diretores como Ivan Cardoso e Peter Baiestorf.
Tem como maiores destaques os filmes ‘Nosferatum’ (2003), ‘Mamilos em Chamas’ (2008), ‘Freddy Breck Ballet’ (2010), ‘Bom dia Carlos’ (2015) e ‘Pazucus’ (2017). Suas duas últimas obras tem recebido boas críticas na mídia especializada, tendo sido exibidas em diversas mostras pelo país.
A Mostra
De acordo com a diretora da mostra, Eliete Borges, há quatro anos os organizadores têm se reunido semanalmente para difundir este tipo de filme. “De 2015 pra cá temos radicalizado as propostas, abrindo espaço para os projetos mais independentes. A ideia é sairmos do cotidiano das exibições comerciais, trazendo ao público temáticas normalmente rejeitadas pelo cinema”, diz.
Para esta edição foram inscritos cerca de 60 películas nacionais e internacionais, das quais 32 foram selecionados pela curadoria. As produções são oriundas de diferentes estados brasileiros, incluindo duas de Mato Grosso e de países como Chile, Haiti e Estados Unidos.