Por João Carlos de Queiroz – Final de Ano é o momento adequado para o comércio nacional lucrar em todos os sentidos, seja com a venda de bebidas e ingredientes alimentares à tradicional ceia, seja com a venda de trajes adequados (geralmente de cor branca) para o Reveillon, festas que arregimentam fortunas. É momento, também, de retrospectiva da imprensa às coisas boas e ruins transcorridas no ano em fase de expiração, e o mais propício, segundo videntes de plantão, para traçarmos projetos futuristas.
Explica-se assim aquela interminável mania supersticiosa dos brasileiros em “passar a meia-noite” (termo usual) em cima de cadeiras ou banquinhos. Ou de guardar lentilhas e sementes de uva como passe-gratuito à vinda de dinheiro ininterrupto na carteira, nos próximos 365 dias. Detalhe: não vale descartar esses supostos imãs da boa-sorte financeira. O que importa é a fé, que dizem “mover montanhas”. Nada contra esse famoso preceito bíblico…
É mais um ano que se inicia, com indícios de baixas e altas, e ninguém consegue impor com qual roupagem deve se apresentar. Apenas os videntes torcem para a concretização de tragédias previstas e anunciadas na mídia, ponto propagandista do seu “poder”. Se acertarem alguma desgraça, isso significa mais $$$ no caixa e consequente reforço à credibilidade pessoal acerca de leitura precisa do futuro.
Os ditos videntes do País preveem tudo: novos milionários, novos dirigentes de governo, mortes, reviravoltas tecnológicas, etc. Mas Ainda não vi nenhum deles prever a prática contumaz de falcatruas – por parte de presumíveis corruptos instalados nos quadros da Caixa Econômica Federal – em relação aos prêmios ofertados pela instituição. Principalmente a Mega da Virada, prêmios anunciados neste final de ano em torno de R$ 280 milhões. Até aí, tudo bem, é sonhar pra valer com tudo que tal bolada pode conferir na vida real, a exemplo de viagens, aquisição de aviões, carros de luxo, imóveis, etc. e etc…
Eis então uma das poucas exceções no descerramento da cortina de cada espetáculo do festivo féretro anual, pois o restante todos já sabem: que o Brasil para de vez a partir do dia 31.12, e só retoma suas atividades “normais” após o Carnaval. Hão de dizer: “Mas tem a expectativa em torno da São Silvestre…” Expectativa de puro desperdício, diria, pois a tradicional Corrida de São Silvestre, em São Paulo, terá novamente atletas africanos na condição de vencedores, categorias masculina e feminina.
Os brasileiros, praxe nessa famosa modalidade internacional, vão ficar lá atrás, bem atrás… Como sempre ficaram, aliás, ao longo de edições anteriores da São Silvestre. Apenas um sortudo tupiniquim logrou chegar em primeiro. A supremacia africana é imbatível, e outras competições registrarão idênticas colocações…
Competir é preciso, e sempre incentiva festa de alegria nacional, levando-se em conta que é final de ano…
Voltamos então à estaca zero dos sonhos milionários, em torno da tão falada Mega da Virada, agora com enfoque corrupto nas redes sociais. Dizem que a CEF manipula os ganhadores por meio de bolinhas acrescidas de peso extra, além de sedimentar “laranjas” em pontos distintos do território. Pelo que foi propagado nas redes sociais, a CEF já tem conhecimento prévio dos números vencedores, jogos em poder de “laranjas” estratégicos. A mobilização nas redes é para que ninguém mais invista seu capital nas loterias da CEF.
Não dá pra acreditar muito em coisas do tipo, à primeira vista. A CEF é uma instituição séria, até que se prove o contrário. No entanto, nesse País onde a corrupção anda de mãos dadas com vários segmentos do governo, recomenda-se cautela em tudo. Afinal, se um simples apartamento na Bahia armazenava mais de R$ 50 milhões de reais em espécie, acondicionados em malas e caixas, não dá pra confiar em mais nada. Principalmente porque as malas em questão pertenciam ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, ex-vice-presidente de pessoa jurídica do banco estatal (CEF).
Segundo o Ministério Público Federal, Geddel e Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, formaram quadrilha fraudulenta dentro da Caixa Econômica Federal. Descobertas as falcatruas criminosas, ambos cumprem merecida reclusão.
E como fica a situação dos assalariados brasileiros que ainda sonham em abocanhar fortunas da Mega e outros prêmios das loterias da CEF, é completa incógnita. Acertar os seis números da Mega, por exemplo, é 500 mil vezes mais difícil do que acertar a Loteria Federal, contabilizam matemáticos. Pouco adianta quebrar a cabeça com cálculos acerca dos números mais sorteados desde que a Mega se tornou referência de mudança de vida paupérrima para milionária. Agora, se tem marmelada nessa história – agravante imperdoável -, é pura perda de tempo tentar ser sorteado. Há alguém chamando você de trouxa por aí…
Mesmo porque, excetuando-se as falcatruas anunciadas nas redes sociais, sempre que a CEF começa a propagandear o valor altíssimo do prêmio da Mega da Virada, a probabilidade de alguém emplacar os famosos seis números é de uma em 50 milhões, estimativas do conceituado matemático José Dutra Vieira Sobrinho.
Resumindo: é jogar ciente de que você pode perder seu precioso dinheirinho, engordando os cofres da CEF. E nem falo aqui da possibilidade desse jogo ser mais uma manobra corrupta de possíveis espertalhões que comandariam postos graduados na instituição bancária ou lado a lado com ela. O Facebook e o WhatSapp têm alardeado isso nos últimos dias. Quem quiser entrar de gaiato ou não, é de livre arbítrio…
Mas é melhor jogar do que não jogar, pois no Brasil tudo acontece de maneira inusitada. Até pode ser que o sorteio transcorra sem qualquer ilícito, beneficiando gente humilde, esperançosa. E que os “anões do Congresso” não ressurjam vorazes para sugar o santo dinheirinho desse povo iludido de maneira fácil, sem qualquer artifício hipnótico…