O Brasil caminha a passos largos para se tornar uma Venezuela II, salvo algumas diferenças que ainda podem redundar na salvação da pátria, livrando-a de progressivo desmonte social e econômico, como aconteceu com o país vizinho. O descontentamento geral do brasileiro, de há muito em clima de revolta quase armada, já atingiu limites acima do suportável. Tanto que os gabinetes institucionais de segurança pública mantêm plantão permanente, a fim de não ser colhidos de surpresa. A ordem é justamente mandar a ordem.
A situação em curso preconiza nitidamente o eclodir de guerra civil. Isso, a a despeito das tentativas esforçadas das autoridades militares em impor bandeira branca em ambos os lados, com o objetivo de que fumem o cachimbo da paz. O típico “deixa disso”. Mas, pelo visto, não existe perspectivas de consenso ideológico nas lideranças que insistem em protagonizar manifestações ruidosas.
Essa profusão de bandeiras manifestantes realmente tem gerado preocupante agito social no Planalto e em pontos cruciais do território. Por vezes, insurge defesas extravagantes em prol do retorno do regime militar e, por outro lado, do impeachment presidencial. Os opositores não arredam pé para externar posições convictas, ressuscitando figuras que já significaram o pior caminho da administração do país.
Até há alguns anos, tais episódios políticos se resumiam a confrontos abertos em países europeus e mundo afora, assistidos comodamente pelo pacato brasileiro. Parecíamos inatingíveis por movimentos similares. O que levava muitos a suspirarem conformados: “Pelo menos, aqui, nada disso acontece”. Ou melhor: não acontecia. Hoje, é realidade angustiante nos finais de semana; ou mesmo em dias úteis.
A coisa chegou a tal ponto que agora é idêntico a torcidas organizadas de futebol, devidamente separadas para não quebrar o pau. O pavio da bomba está aceso e pode facilmente estourar. Ou, noutro exemplo, a corda foi esticada ao máximo, e seu rompimento é previsível, em face da igualdade respeitável de forças…
A “razão” de quem não reconhece a “razão alheia”
Nem o atual calvário dos venezuelanos para sobreviver à fome {que bem poderia servir de exemplo atenuante nesse ritmo perigoso} tem reduzido o pique das manifestações políticas no Brasil. Na Venezuela, o regime de Maduro priorizou o seu próprio conforto, deixando o povo, em geral, na mais absoluta miséria. Muitos vivem hoje por lá do que encontram no lixo e da caça aos pombos e lagartos. Uma nova China faminta nasceu na Venezuela, e o Brasil, pelo visto, quer imitá-la urgentemente.
Cabe aqui ressaltar não haver nenhuma comparação entre o estilo insensível de Maduro e o presidente brasileiro, a despeito de eventuais explosões verbais que ele profere, destoando abertamente do comportamento ético que o cargo de chefe de Estado requer.
Não dá para discernir, enfim, qual lado está certo ou foge à realidade atual. Porém, dá para visualizarmos nuvens sombrias no horizonte pátrio. O mais importante, na opinião de quem vivenciou o período nefasto da ditadura, é deletar qualquer projeto popular que simbolize reimplante de militarismo nas raízes governistas. Isso porque, se o Brasil de hoje não vingar, infelizmente teremos uma filial da trôpega Venezuela…
Editoria de Opinião