Por João Carlos de Queiroz – Neste último dia de Carnaval, as baterias políticas rufaram cedo para uma possibilidade que os especialistas do setor já julgavam praticamente impossível: que o ex-governador mato-grossense e ex-senador da República, Jayme Campos, do DEM, oficialize seu nome no próximo páreo eleitoral rumo ao Palácio Paiaguás, a fim de substituir Pedro Taques na cadeira número 1 do Executivo.
Nada confirmado pelo próprio Jayme Campos, deve ser ressaltado. Mas o crescimento vertiginoso de sua candidatura parece enredo de novela, em que os autores quase perdem o controle dos capítulos, rendendo-se às evidências do curso de interpretação das personagens. Tanto é verdade que a maioria dos novelistas diz simplesmente não saber quais serão os desfechos de situações impostas na trama que supostamente comandam, pois a tendência é de a história se desenvolver por si só, ganhando gosto diversificado no interesse popular. Consequentemente, nenhum autor consegue adiantar o final de suas obras.
Com o ex-governador e ex-senador Jayme Campos, essa situação se repete: ele detém todos os ingredientes necessários à formatação de um bolo político satisfatório em Mato Grosso, e sua trajetória tem reforçado isso indistintamente, com desdobramentos que podem surpreender quem jamais imaginasse seu retorno às urnas, na qualidade de candidato majoritário.
Se, hoje, o atual governador Pedro Taques desfila em carro aberto para uma reeleição tranquila, tal posição não se deve apenas à sua administração, elogiada por frentes diversas de observadores políticos e empresariais de Mato Grosso e outras terras além: é porque Taques simplesmente não tem adversários capazes de sobrepujá-lo na próxima disputa.
Daí surgiu a imposição concreta de Jayme Campos aceitar mais este novo desafio, que, na opinião unânime, será “canja com galinha” em sua evolutiva carreira política, pois Jayme venceria Taques sem minar uma gota de suor dos seus poros experientes.
Fala-se, também, na possibilidade de a própria esposa de Jayme, Lucimar Campos, prefeita de Várzea Grande, vir a compor a chapa de Pedro Taques na condição de vice. Isto aniquilaria qualquer pretensão do hoje secretário de Assuntos Estratégicos do município vizinho em colocar seu nome na roda eleitoral. Mais ainda: seria uma jogada de mestre do governador Pedro Taques para afastar Jayme e, simultaneamente, deixá-lo confortavelmente instalado para assistir sua reeleição.
Em se tratando de política, tudo pode acontecer, dizem, e os impasses e conjecturas surgem e prevalecem de forma espontânea, agigantando-se ou se desintegrando à medida que o processo avança. No caso da disputa do Paiaguás em outubro próximo, eis três importantes:
a) a prefeita Lucimar Campos não será vice de Taques, pois quer cumprir seu mandato até o final, compromisso firmado com Várzea Grande;
b) Jayme é amigo pessoal de Taques e jamais iria confrontá-lo nas urnas;
c) uma eventual candidatura de Jayme Campos ao Governo do Estado implodiria a administração de Lucimar, com entraves sucessivos na liberação de recursos das bancadas partidárias favoráveis ao nome do atual governador.
A prevalecer esta tese de candidatura, o próprio Taques já não teria tanta motivação para auxiliar a esposa do “amigo” a reconstruir Várzea Grande, limitando-se a cumprir as obrigações constitucionais de gestor público. Não ocorreria mais nenhum diferencial de boa-vontade extra.
Esse último item é realmente conflitante e pesa muito numa decisão de embate eleitoral, por parte de Jayme. Mesmo porque o governador Pedro Taques tem prestigiado a administração Lucimar Campos de forma assídua. Fruto da convivência salutar entre ele e Jayme no Senado da República e em outras épocas antigas, até mesmo à retaguarda de escaladas em postos políticos.
Portanto, se agora Jayme Campos resolver desafiar Taques, sua candidatura poderia ser interpretada como uma punhalada certeira nas costas do amigo, independente de posições partidárias. Análise de quem acompanha o processo de maneira curiosa e técnica. A ética política do ex-governador sempre é associada em discussões referentes ao tema.
Ético ou não, a hipótese mais provável é que Jayme termine cedendo aos desdobramentos de quem quer emoldurar sua nova história política, rendendo-se submisso ao futuro traçado por mãos alheias, não as dele. A típica justificativa utilizada por muitos que tomam decisões contrárias às suas: “Se o povo assim quer…”
MAURO MENDES – O ex-prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes, é outro nome lembrado aleatoriamente para as próximas eleições. Uma suposição sem muita consistência, posto que Mauro não dispõe de costura forte no âmbito político. Uns dizem que “ele já fechou apoio” a Pedro Taques, com direito a participação destacada no próximo mandato. Outros, afirmam que Mauro recuou de ser candidato por imposição familiar, que quer vê-lo distante da política. E há ainda quem diga que o ex-prefeito “caiu a ficha”, não tem cacife para postular candidatura ao governo estadual, bases de atuação limitadas a Cuiabá.
Por tais análises, a dita “pujança eleitoral” de Mauro Mendes não ultrapassa sequer os limites dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande. É um senhor completamente desconhecido em outras paragens, inclusive nos municípios da Baixada Cuiabana. Investir no seu nome para postular o Governo do Estado equivale a suicídio político. Se ele efetivamente optou por apoiar Pedro Taques – único nome solitário no processo sucessório até agora -, fez uma boa escolha.