O descaso dos governantes brasileiros com a primeira infância e a falta de políticas públicas voltadas para esse nicho interferem diretamente no avanço acadêmico do país. Fundamental para o desenvolvimento emocional e mental das crianças, o ensino infantil vem sofrendo com a má qualidade das creches e pré-escolas, principalmente nas regiões mais pobres. Baixo financiamento, atendimento ruim e o pouco número de professores em comparação com os alunos estão entre as principais causas para o cenário.
Especialistas ouvidos pela reportagem da Folha de S. Paulo desta quarta-feira (26) apontam que, segundo comparações internacionais, as instituições brasileiras têm condições de atendimento inferiores a de países desenvolvidos.
Um dos pontos mais críticos é o número de crianças para cada professor. No Brasil, são 14 na creche e 21 na pré-escola. Nos países desenvolvidos, em média são apenas 8 e 14, respectivamente, segundo levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Membro da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas, o deputado estadual João Vítor Xavier (PSDB) destacou a importância da educação básica para impulsionar o desempenho acadêmico das crianças nos anos seguintes. “A educação vem da base. Quanto melhor estimulada a criança for, maior a chance de ela se desenvolver, se tornar um profissional de sucesso e avançar nas outras séries”, afirmou.
De acordo com a reportagem, também há dificuldades no financiamento para essa etapa do ensino. No Brasil, investe-se 0,7% do PIB em ensino infantil. A média dos países desenvolvidos é quase 20% maior. A diferença fica ainda mais acentuada se considerado o valor investido por criança ao ano. A média dos países desenvolvidos é de US$ 8.700, ante US$ 3.800 no Brasil.
O tucano alertou para a urgência de melhorar a qualidade das creches que abrigam crianças de 0 a 3 anos em todo o país e a importância do papel social que elas exercem.
“A questão das creches é muito importante, não apenas pelo desenvolvimento da criança, mas pela questão social, para as mães e pais poderem trabalhar. Hoje, tanto os homens quanto as mulheres trabalham e é importante que a creche tenha qualidade para que as mães e pais possam trabalhar sabendo que seus filhos estão seguros e em boas condições de acolhimento”, completou.
Compromisso
Para o candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, o compromisso com a primeira infância será sua prioridade. O presidenciável tem como meta promover a igualdade de oportunidades, universalizando o acesso à pré-escola no país.
“Toda prioridade ao ensino infantil. Temos 440 mil crianças de 4 e 5 anos fora da pré-escola. Vamos zerar. Nenhuma criança fora. Todas matriculadas e de 0 a 3 em creches. Quero ser o presidente da primeira infância”, defendeu.
Na avaliação de Xavier, a meta do tucano é “fundamental” para solucionar o cenário de desalento da educação brasileira. Segundo ele, a parceria entre União, estados e municípios e o empenho do governo com a manutenção das creches e escolas primárias é o caminho para melhorar a qualidade do ensino e o desempenho futuro das crianças.
“Temos que fazer creches e colocar recursos federais para manutenção dessas creches. O grande problema hoje é que o governo federal transfere para os estados e municípios grande parte da conta da educação, sendo que ele tem a maior parte dos recursos. É importante que o governo ajude a construir as creches mas também ajude a mantê-las para que tenham qualidade”, destacou.
Reportagem Clarissa Lemgruber