Há três dias comandando a área de segurança pública do Distrito Federal, o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, revelou que não descarta a hipótese de autoridades públicas terem sido coniventes com a ação criminosa de vândalos e golpistas que, no último domingo (8), invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.
“Aquilo só acontece se houver a parcimônia e, vamos apurar, a conivência das forças de segurança do Distrito Federal que, naquele momento, estavam sob o comando de um ex-ministro do governo [do ex-presidente Jair] Bolsonaro”, comentou Cappelli ao deixar, esta manhã, a cerimônia de posse do novo diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, destacando que a “suspeita” está sendo investigada.
No último domingo (8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou a intervenção federal na área de segurança pública do Distrito Federal até o próximo dia 31. Com o objetivo de “conter o grave comprometimento da ordem pública no DF, marcado pela violência contra prédios públicos”, Lula nomeou Cappelli como interventor.
No mesmo dia, o secretário-executivo assumiu as atribuições do secretário distrital, Anderson Torres, que, de férias, estava nos Estados Unidos. Delegado federal de carreira, Torres foi ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro. Com a derrota do ex-presidente para Lula, o governador Ibaneis Rocha nomeou Torres para chefiar a secretaria distrital de Segurança Pública, que ele já tinha comandado entre novembro de 2018 e março de 2021.
A posse de Torres ocorreu no último dia 2, mas apenas seis dias depois, a incapacidade das forças locais evitarem o ataque aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e as cenas de vandalismo que correram o mundo forçaram o governador a exonerar Torres. O próprio governador acabou afastado do cargo por 90 dias, por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que atribuiu a Ibaneis e a Torres “descaso e omissão”. Na tarde de hoje, Moraes determinou a prisão de Torres e do ex-comandante da Polícia Militar do DF, coronel Fábio Augusto Vieira, responsável pelo patrulhamento ostensivo local.
“É muito pouco provável que tudo tenha sido feito de forma espontânea. Tudo indica que isso foi uma operação orquestrada, com financiadores”, disse Cappelli a jornalistas presentes à cerimônia de posse do novo diretor-geral da PF. “As investigações estão abertas. Tudo vai ser apurado. Mas é muito estranho que uma manifestação com apenas cerca de 5 mil pessoas tenha conseguido fazer o [estrago] que fez. Manifestações como até 100 mil pessoas acontecem na Esplanada há décadas e nunca ocorreram cenas lamentáveis como as do último domingo”, acrescentou Cappelli, voltando a criticar o ex-secretário, Anderson Torres.
“Não me parece coincidência termos tido uma operação de segurança exemplar no primeiro dia do ano, quando o presidente Lula tomou posse, em uma grande cerimônia, com [a presença de] milhares de pessoas; o ex-ministro do governo Bolsonaro ter assumido no dia 2, feito uma série de alterações na direção da pasta, viajado e, apenas seis dias depois, presenciarmos os lamentáveis episódios de depredação, o caos instaurado na Esplanada dos Ministérios”, comentou Cappelli.
Ontem, Torres usou suas redes sociais para negar que tenha sido conivente com os ataques antidemocráticos. O ex-ministro afirmou ter vivido, no domingo, “o dia mais amargo de sua vida pessoal e profissional”. E disse ter sido “surpreendido” com o “ataque inimaginável” contra prédios públicos, aos quais classificou como um ato de “insanidade coletiva”. “Nesse sentido, lamento profundamente que sejam levantadas hipóteses absurdas de qualquer tipo de conivência minha com as barbáries que assistimos”, escreveu Torres.
Edição: Claudia Felczak