A Rodovia dos Imigrantes, que corta o município várzea-grandense, em Mato Grosso, é famosa não apenas pela intensa movimentação de veículos pesados, que se dirigem a outros estados, mas também por aparições sobrenaturais. São fenômenos aparentemente inexplicáveis, e intrigantes ao extremo.
Muita gente conta ter visto vultos imprecisos e até formatados em “humanos”, enquanto outros dizem que caminhões vieram em sua direção desgovernados, aparentando desejo de colisão suicida. Depois, a segundos do choque, simplesmente sumiram…
Eu também duvidava disso, até comprovar, com meus próprios olhos, que aquela região é realmente mal-assombrada. Ainda hoje, matutando sobre o caso, imagino que outros devem estar vivenciando idêntica situação. Pelo visto, as aparições não dão tréguas, e o tormento de peregrinação do além é intermitente por lá.
O primeiro susto aconteceu quando saí do Vale do Amanhecer, onde fui a convite de amiga para conhecer o templo espiritual. Durante a sessão, senti forças estranhas na área, e algumas tentaram me manipular, mas forcei a mente a não fraquejar. Não tive dúvidas, aliás, de estar prestes a incorporar alguma entidade.
Ao deixar o Vale, quase no final da tarde fria, garoando, levei pedrada dentro do carro. Isso mesmo! Uma pedra adentrou não sei por onde, batendo forte no meu braço. Como entrou ali, é mistério…
Continuei a transitar pelo bairro São Matheus pensando nesse episódio, rumo ao trevo da Rodovia dos Imigrantes. Porém, ao passar lateralmente a uma construção abandonada, que aparentava ser projeto de campo de futebol comunitário, vi um imenso buraco a dois metros de altura da parede não rebocada. Instintivamente, diminuí a marcha do carro, momento em que um garoto de uns 12 anos, sem camisa, saltou direto lá pra dentro com sua bicicleta.
Minha reação foi de surpresa e, também, de espanto, pela forma ágil com que a bicicleta voou direto certeiramente para aquele buraco. Conseguiu aterrissar onde? – pensei na hora.
Já encostei o carro rente ao muro, e subi no teto para espiar pelo buraco. Se o garoto passou veloz por ali, deveria ter segurança de pista de pouso lá dentro…
Um outro espanto estava reservado: pela parte interior do inacabado campinho de futebol, só se via entulhos de construção, madeira, tijolos, etc. Nem sinal do garoto voador mais abaixo nem adiante. Que estranho!
Olhei mais e mais, tentando descobrir o segredo desse voo ciclístico, sem resultado. Desci do teto do carro e imaginei o percurso que o adolescente percorreu antes de “levantar voo” e passar sobre o capô do Fiat Elba e transpor o buraco acima. Melhor analisando, aquele buraco era pequeno demais para comportar bicicleta e ciclista. Mas o menino passou facilmente por ele, vi de camarote…
Arranquei o carro sentindo uns calafrios estranhos no corpo, e optei por ir até o Trevo do Lagarto direto pela Imigrantes, até para aliviar a mente do susto recente. O horário registrava densa movimentação de caminhões rumo a outros estados e cidades mato-grossenses.
Guiando atento na quase noite, faróis acesos, vi nitidamente um grandalhão magrelo fazendo malabarismo no centro da pista, a ponto de ser atropelado. E fechei os olhos ao perceber que um caminhão em sentido contrário o esmigalharia de vez, mas o andarilho simplesmente se incorporou à carroceria do possível atropelador. Pude vê-lo parado me observando do outro lado da pista, e então acelerei forte. Mais fantasmas na área…
Por João Carlos de Queiroz, jornalista