Fiat 147 e Elba: modelos antigos, mas com histórico de aplausos

Vendas Brasil: 104452 unidades Produção: 150286 unidades

Por João Carlos de Queiroz, www.veiculosdahora.com.br – Produzido entre 1986/1996, o Fiat Elba caiu nas graças dos brasileiros durante anos. Das 150286 unidades produzidas, 104452 foram vendidas somente no Brasil. O modelo, de linha familiar, tornou-se nacionalmente famoso por ter sido o principal instrumento de impeachment do então presidente da República, Fernando Collor de Melo. Ele recebeu um Fiat Elba de presente, comprado com cheque fantasma do seu tesoureiro de campanha, o PC Faris (Paulo César Farias).

Comparado aos bilhões de origem corrupta que muitos políticos brasileiros e seus apadrinhados receberam (e ainda recebem atualmente) de empresários de multinacionais e distintas fontes ilícitas, o preço desse saudoso modelo representa uma ninharia. Nada que desculpe o deslize praticado por Collor, que culminou com sua debandada humilhante do Planalto. O “caçador de marajás” de Alagoas caiu em sua própria armadilha…

De lá pra cá, já jornalista, passei a observar melhor os produtos Fiat. Posteriormente, ao assessorar um candidato a deputado estadual em minha cidade, Montes Claros-MG, pude comprovar toda a valentia resistente e confiável do popular Fiat 147, precursor do não menos valente Uno. O carrinho, como se diz em Minas, “é pau pra toda obra”. E reinou absoluto por anos e anos…

Carrinho marcou presença por ser genuíno desbravador de muitos rincões do País

Durante meses, a bordo do 147, percorri vários lugares longínquos do Norte de Minas. O 147 me surpreendeu em vários quesitos: economia e resistência fenomenal às precárias estradas que interligavam todo o Vale do Jequitinhonha. Quase chorei ao me despedir dele, no final da campanha, frustrado por não possuir condições de adquiri-lo…

Coincidentemente, outro Fiat 147 viria a ter estreita proximidade comigo na sequência: o do meu irmão mais velho, José Antônio, ainda residente em Belo Horizonte, região da Pampulha. Não raras vezes, viajamos no pequeno veículo entre BH e Montes Claros, e era sempre ele, o 147, que me buscava e levava ao Aeroporto de Confins, quando embarcava rumo a Cuiabá.

Infelizmente, um acidente grave lacrou de vez nossas andanças felizes no 147, transformando-o num “V” quando estava estacionado na Rua Francisco Deslandes, Anchieta, Belo Horizonte. Havíamos parado por lá apenas pra dizer ‘alô’ à tia-madrinha, antes de seguirmos viagem…

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Em Cuiabá, Mato Grosso, após fundar o Aeroclube de Várzea Grande, sede operacional no Aeroporto Marechal Rondon, o então governador Jayme Campos prontificou-se a ceder à entidade um veículo em regime de comodato. Só que, adiantou, os disponíveis no Estado precisavam de reparos mecânicos e de funilaria. “Têm que ir lá, no galpão do Distrito Industrial, e ver se algum dos carros serve…” – disse.

No referido galpão, logo de cara fiquei apaixonado por um Fiat Elba branco, que parecia clamar para que alguém o retirasse de dali, tratando-o adequadamente. Foi o que fiz. E em questão de dias, o carrinho funcionou perfeitamente, servindo ao aeroclube durante todo meu mandato. Devolvi-o na mudança de governo. Foi muito triste encontrar seus “restos mortais” depois num ferro velho  do bairro Dom Aquino, em Cuiabá, já decapitado ao meio.

Elba ficou praticamente sanfonada…

Frustrado, resolvi então adquirir meu Fiat Elba, procura que findou em 1994, época em que exercia cargo de jornalista concursado (primeiro lugar) na Empresa Mato-Grossense de Pesquisa e Extensão Rural (autarquia), cujo titular das ações era o Governo do Estado. Fui demitido em 2000, na esteira do maciço enxugamento do funcionalismo que o governo adotou para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ação denominada de “Reforma Administrativa”.

De 1994 a 2016, o Fiat Elba foi meu carro oficial, já decrépito pelos longos anos de uso. Reformei-o umas duas vezes, e, na tentativa de “salvá-lo” da aposentadoria de velhice, comprei um outro (meio sucateado) da mesma versão, com a finalidade de suprir o primeiro de peças. No desenrolar das pesquisas de preço para a terceira reforma do carro, um Vectra (General Motors) antigo abalroou a traseira do carro, que ficou sanfonada. O forte impacto da batida me lançou metros à frente, ocasionando nova colisão num polo da VW…

Esse acidente aconteceu numa manhã de Sexta-Feira 13, próximo ao Hospital Jardim Cuiabá. Não tive nenhum arranhão, apesar do forte impacto. É que, intuitivamente, mãos ao volante, empreendi pressão extra nos freios ao ser abalroado de surpresa. E testemunhei, impotente, a sequência célere do choque com o Polo, a alguns metros de distância…

Resumindo: meu querido carro Elba preto não teve mais condições de rodar, depois disso. Os funileiros e mecânicos o avaliaram e deram PT (Perda Total). Agora, eu tinha dois veículos inúteis no estacionamento do prédio. Resolvi presenteá-los para ajudar um amigo a pagar urgentes cirurgias ortopédicas de sua filha mais velha. O destino de ambos os Fiat Elba foi um ferro-velho, na Avenida Miguel Sutil.

Hoje, quando passo de motocicleta (não tenho mais carro) na frente desse ferro-velho, fico emocionado por saber que, ali, em algum canto de muitas carcaças imprestáveis, também jazem as irmãs Elba. E relembro os muitos passeios e viagens inesquecíveis que fizemos. A última foi justamente a Montes Claros, percurso longo (Cuiabá, Montes Claros, Belo Horizonte, Cuiabá). Apesar de ter levado dois estepes sobressalentes, nem pneu furou. O fiel Fiat levou-nos {e trouxe} com segurança absoluta.

Detalhe: na ida, descobertas curiosas do meu irmão caçula, que morava em Patrocínio: apenas uma única roda, do lado dianteiro esquerdo, tinha freio. E o mais um agravante: o volante do carro estava partido! Idêntico quase a manche de avião. 

“Estou pasmo: você veio de Cuiabá até aqui praticamente sem freios, pois o de mão também não funciona. E, pra piorar, ainda com volante quebrado! Não vai prosseguir viagem antes de repararmos isso” – determinou enfático. Tinha razão: se acaso precisasse acionar os freios…

Ali mesmo, em Patrocínio, esse “probleminha”, que eu nem percebera nos dias em que fiquei envolvido na restauração e a funilaria do carro, foi resolvido.

 “Agora, sim, seu carro está do jeito que deve ser!” – disse o mano, ao assumir a direção, test-drive rápido. Não sem antes ouvir do mecânico que tudo fora substituído. Peças zeradas. Estranhei a maciez com que o Fiat Elba passou a obedecer à menor pressão no pedal de freios…

Hoje, até evito passar por Patrocínio, entrar na cidade, pois as recordações do mano Marcelo, falecido no auge da juventude, ainda são fortes, bem doídas. Pareço quase ouvi-lo me recriminando pelo que considerou completa irresponsabilidade. Mas, na adrenalina de viajar, descartei tais verificações, fundamentais à segurança. O carro, ao deixar Cuiabá, cheirava forte a tinta, pois assoalho havia sido substituído pela manhã. E a partida foi às 16 horas sob forte neblina, coisa incomum na capital…

Em Belo Horizonte, até fiz questão de comparecer ao feirão de carros nas imediações do Mineirão, orgulhosamente exibindo ali meu Fiat Elba estradeiro…

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Movimentação produtiva da Fiat ano a ano (unidades)

ANO VENDAS BRASIL PRODUÇÃO
1986 8362 9188
1987 7474 7537
1988 6753 6351
1989 7817 7638
1990 9308 10450
1991 12065 17602
1992 10537 20584
1993 10753 23110
1994 10716 22916
1995 14704 18141
1996 5963 6769