De forma recorrente, tenho sonhado com trens. Geralmente, estou na expectativa de embarcar em alguma composição, somando-se à pressa em arrumar malas e me dirigir à estação. No entanto, a despeito dessa correria, sempre termino perdendo o bonde; ou melhor: o trem.
Um detalhe nesses sonhos: meus pais costumam integrar o elenco protagonista. No último, eu iria embarcar junto com minha mãe, mas o trem partiu silencioso, sem que chegasse a tempo. Pude vislumbrar, ao longe, o vagão da retaguarda efetuando uma curva média, a fim de seguir seu destino. Minha mãe estava lá dentro, sabia, porém eu fiquei do lado de fora, mochila nas costas, levemente incomodado pela baixa temperatura daquela região cinzenta…
Já no último sonho, até que consegui embarcar no que pensava ser um vagão suspenso no ar, possibilitando, inclusive, o vento açoitar o meu rosto. O interessante foi o seguinte: no meio desse trajeto, descobri estar sem documentos, dinheiro, roupas, etc… E não sabia qual seria o meu destino. Houve um início de pânico por causa disso, lógico…
Enquanto a viagem prosseguiu, fui cogitando como me viraria para levantar algum dinheiro emergencial e retornar ao lar. De repente, estava bem no meio da oficina de um amigo, Nilson, e pedi a ele para me emprestar algum dinheiro. Solicitei R$ 40 reais, mas Nilson repassou R$ 100 reais, em notas separadas. Uma das notas tinha um cheque grampeado, de valor desconhecido. Expliquei que não precisaria de tanto, mas um outro amigo, Salles, advertiu que poderia vir a precisar. “Se não usar, você devolve…”
São coisas só possíveis de serem realizadas em sonhos: porque, se eu estava viajando, não poderia também estar presente numa oficina no mesmo instante. Mas, na sequência do papo de oficina, eu ainda queria embarcar, aparentemente sendo desconectado da viagem anterior em alta velocidade. Aí, pressionado pela imposição da bexiga, corri até os sanitários da estação, evacuando a urina muito atento à buzina de aviso da partida do trem. A surpresa foi ter perdido novamente o embarque: fiquei triste ao sair dali e ver o último vagão se movimentando feito um lagarto preguiçoso, metros além da plataforma…
Num outro sonho, eu estava perto da janela do que seria meu apartamento – na realidade uma varanda aberta, escancarada. Um helicóptero de resgate, equipado com Unidade de Terapia Intensiva, aproximou-se e ficou colado à janela. Vi, nitidamente, o amigo Hilton Gastão Bento acomodado numa cadeira dentro da cabine desse aparelho, incrivelmente de espaço amplo, semelhante à de uma unidade hospitalar de emergência. Assustei-me pacas quando o piloto pronunciou meus dois primeiros nomes. Todavia, o helicóptero partiu dali velozmente em seguida, levando o meu amigo mineiro…
Por João Carlos de Queiroz