Redação Site – O Parque das Águas, em Cuiabá, está seriamente comprometido com esgoto “in natura”, que até há alguns dias saía diretamente das tubulações sanitárias de vários órgãos dos governos estadual e federal para infestar suas águas, ainda com tonalidade de falsa pureza aos visitantes desse retiro pretensiosamente ecológico da capital. Segundo levantamentos periciais, mais de 25 órgãos públicos “contribuem” com essa poluição há décadas, por falta de outra destinação dos dejetos gerados diariamente em suas repartições. Uma farra que o Ministério Público, auxiliado por técnicos municipais, pretende dar fim.
Tal ato, de clara irresponsabilidade criminosa na área ambiental, gerou discórdia profunda entre as partes depois que técnicos do município simplesmente lacraram com cimento a tubulação poluidora, após rastrear a procedência da carniça coletiva lançada sem qualquer critério nas pretendidas “águas puras” do lago. Uma estagnação passageira, admitem os técnicos, porém providencial para forçar a adoção de alternativas resolutivas, em futuro breve. Todos os envolvidos estão agora contra a parede, com prazos do Ministério Público para apresentarem uma solução eficaz.
Do rol de órgãos públicos sediados no Centro Político Administrativo, apenas a Sema – Secretaria de Meio Ambiente emitiu nota informando que o esgoto da sede está interligado à rede pública. Portanto, a Sema não integra a lista dos “contribuintes” poluidores do Parque das Águas. Porém, em se tratando de órgão ambiental, fiscalizador de quem detona a natureza, fica a dúvida se a Sema terá autonomia para investir contra a própria estrutura governamental à qual está subordinada hierarquicamente e fazer com que as leis vigentes no setor ambiental e determinações do Ministério Público sejam acatadas.
Numa reunião realizada hoje (2) entre Prefeitura, Águas Cuiabá, Ministério Público e Governo do Estado, foram fixados prazos para que esse mar de lama fétido, lacrado com cimento, deixe definitivamente de desaguar no Parque das Águas, sob pena de o lugar ser igualmente interditado. Ali existe uma série de duchas gratuitas para os visitantes, um dos pontos prediletos das crianças. Presume-se que a água utilizada nessas duchas seja captada do próprio lago contaminado.
Resta informar aos banhistas que elas não contêm necessariamente sais minerais, pois estão infestadas de impurezas microbianas e vírus, presentes no fluxo pródigo de esgotos que se unem em determinado ponto da tubulação, para finalmente ganhar liberdade no imenso lago.
O Governo do Estado exige que a Prefeitura retire imediatamente a concretagem que lacrou o ponto de descarrego da tubulação poluidora do Parque das Águas. Só que o MP não concordou com isso e estabeleceu prazos para que o governo solucione o problema, ao invés de sequenciar a poluição do lago. Um dos prazos, de seis meses, foi fixado também à empresa Águas Cuiabá, responsável pelo saneamento básico no município. A Águas Cuiabá, conforme o acordo esboçado entre as partes, deverá construir uma passagem para desviar o esgoto, a fim de não voltar a poluir mais ainda a lagoa. Se nada for feito neste sentido, então o nome do lugar deve ser mudado: Parque dos Esgotos.
Por João Carlos de Queiroz