Com distúrbios psíquicos, jovem morador de rua vive nas lixeiras de Cuiabá

Dias atrás, publiquei uma espécie de crônica {não necessariamente um texto jornalístico} para chamar a atenção da população cuiabana à grave situação de vulnerabilidade social vivenciada pelo jovem Artur. Surpreendente foi constatar o quanto ele é conhecido na capital mato-grossense. Muitos imaginavam que estivesse num patamar vitorioso de vida e não nas ruas, em situação de drástica mendicância...

Morador de rua em Cuiabá-MT há décadas, Artur é portador de grave transtorno mental. Alguns ainda se lembram quando trajava elegante terno azul, no final dos anos  80. Depois, corroído pela doença mental, descuidou-se de vez com a vestimenta e com o próprio corpo, ignorando qualquer norma higiênica. A metros do jovem, é possível sentir fétido odor de suor, decorrente da falta de banho {há meses}.

Recentemente, por força policial, Artur foi encaminhado ao Hospital Adauto Botelho, onde cortaram seus cabelos (parecia lã de carneiro) e ministraram medicamentos. Transcorridos alguns dias, o jovem foi “devolvido” à condição anterior das ruas, voltando a dormitar em lixeiras da área.

De alguma forma inusitada, Artur descobriu assim que consegue “superar” os mais incríveis obstáculos que a sociedade enfrenta cotidianamente. Não atenta para a excepcionalidade de sua situação de mendicância não explícita, pois não pede nada a ninguém. Há um grupo humanitário que o alimenta diariamente, fui informado.

Inútil também tentar protegê-lo dessa pandemia que assola o mundo: não aceita a proximidade de ninguém. E talvez seja imune ao novo coronavírus, por algum mistério inexplicável. Deus sempre protege os inocentes; os animais são exemplos disso no transcurso horripilante de mortes causadas pela covid-19.

O fato é que Artur precisa ser resgatado dessa condição ultrajante, desumana. Não é nenhum Jesus Cristo para cumprir calvário tão prolongado. Instituições oficiais e privadas (Organizações Não Governamentais) podem se unir para tentar resolver essa sementinha de demanda social. É uma sementinha, concordo, em função dos muitos que padecem igualmente nas ruas do país…

Artur não é pessoa agressiva, apenas esquiva quando alguém tenta abordá-lo. Recuo providencial de defesa a realidades que não entende. Já ocorreu também de andar praticamente nu, vestes rasgadas, durante dias. Alguém se compadeceu da situação e doou roupas dignas a esse cidadão vegetativo.

Alguns ex-colegas de escola de Artur, além de outros antigos vizinhos, afirmaram se lembrar do rapaz ainda na fase lúcida, época em que interagia normalmente com todos. Muitos externaram estarrecimento ao retornar a Cuiabá e encontrar o amigo em situação tão deplorável. “É de cortar o coração”.

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É fato que a maioria dos portadores de transtornos mentais, ou mesmo mendigos, sem nenhum tipo de distúrbio psíquico, não aceita as regras impostas nos abrigos municipais e tratamento ofertados nos Centros Psicossociais do município e Centros de Acolhimento. A liberdade das ruas sempre ganha opção preferencial.

Concluindo: por maior que sejam as dificuldades de percurso, em busca de soluções para casos similares, é importante ultimar um passo a passo nesse sentido, a fim de SALVAR Artur; o rapaz não difere de nenhuma criança indefesa jogada nas ruas…

Ultimar socorro a esse jovem é uma das formas de valorizar o ser humano, na sua essência. Afinal, à retaguarda de qualquer morador de rua, seja lúcido ou desconectado com o mundo à sua volta, existe sempre um coração palpitando esperanças; processo natural, sob a bênção de Deus!

Por João Carlos de Queiroz

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