Redação Site – Nesta segunda-feira, o que se viu em Mato Grosso {e Brasil afora} era até previsível: manifestações e mais manifestações de apoio aos caminhoneiros. A população brasileira está ingenuamente iludida de que, apoiando a paralisação, luta por um Brasil melhor. Não tem ideia de um fato óbvio: todo esse imbróglio grevista continua firme – independente da mobilização sindical para buscar soluções junto ao governo – pela imposição chantagista de empresários proprietários de grandes empresas transportadoras, ônibus e caminhões. São eles os principais interessados nas medidas governamentais que possam beneficiá-los economicamente.
Essa infiltração de “estranhos na paralisação” foi confirmada hoje pelas lideranças sindicais da categoria. São eles que insuflam a continuidade do movimento, atualmente sem qualquer controle das entidades representativas
As medidas anunciadas por Michel Temer até que são razoáveis para os caminhoneiros, mas não atingem os objetivos da ala patronal. Vários grevistas confessaram que estão sendo orientados pelos patrões a não arredarem pé da estrada, estratégia para que o governo abra novas negociações e descortine panorama alentador dos lucros bilionários que terão daqui pra frente.
Assim, dá pena (e certa revolta) ver milhares de apoiadores distribuindo alimentos para os caminhoneiros em centenas de pontos de bloqueio nas rodovias. Lugares em que os grevistas permanecem irredutíveis em acampamentos improvisados, passando fome, frio, e utilizando a mata como sanitário coletivo. E a maioria grita em alto e bom-som que continuará firme ao lado dos caminhoneiros, quando deveria é “cair a ficha” e confessar que está sendo descaradamente iludida, pois endereça apoio, na verdade, é ao bloco empresarial. Os legítimos manda-chuva do País.
Nada disso redime as culpas do governo federal, que sempre colocou o povo assalariado na condição de réu de suas desventuras econômicas. Para o povo, é sempre tudo difícil quando quer uns centavos de ganho a mais, enquanto integrantes do Poder Legislativo e dos demais Poderes (Executivo, Judiciário) usufruem de mordomias impensadas ao mortal-comum: salário altíssimo, verba de gabinete, auxílio-moradia, auxílio-saúde, motorista, apartamento funcional, passagens aéreas, jatinhos oficiais, etc. e tal. Contabilidade faraônica. Agora, para aumentar uns reais no salário-mínimo, o governo encontra milhões de dificuldades.
É por aí que a revolta da população que ora endereça apoio aos caminhoneiros deveria estar centrada, e não apenas nos preços dos combustíveis e seus consequentes reflexos na cesta básica, saúde, educação e outros setores que dilaceram seu humilde orçamento doméstico. Os brasileiros precisam lutar é para que esse quadro de luxo, usufruído por uma minoria privilegiada – seja extirpado dos gastos da União. A decapitação de 80% dos ministérios já seria ótimo, bem como uma criteriosa reavaliação de quem merece o precioso voto, arma poderosa do povo. Garantia oficial de que os estelionatários do bem público não irão retornar aos tronos quadrilheiros.
O fato é que a greve ainda prossegue sem perspectiva de uma solução a contento, apesar das bravatas da ala federal em anunciar que tudo foi resolvido na última reunião com representantes da categoria. Informes prontamente desmentidos pela categoria grevista.
Em Mato Grosso, Várzea Grande é o único município que (via Prefeitura) promoveu reserva de 15 mil litros de combustível, utilizados nesses dias de calvário nacional para atender vários serviços: saúde, transporte escolar, coleta de lixo. Apenas o transporte coletivo reduziu à metade a sua frota. Quanto aos postos de combustível do município, igualmente exauridos. Mas, para quem mora lá e trabalha em Cuiabá, o desabastecimento tem sido fator determinante para não retirar os carros da garagem. Houve até quem tem utilizado bicicletas nos últimos dias.
O gabinete de Gestão de Crise do governo estadual fez hoje sua segunda reunião. A prioridade agora é levar combustível e alimentos para o interior do Estado, com apoio da Polícia Rodoviária Federal e Exército, que escoltarão as cargas.
Ainda que MT seja produtor de etanol, seus estoques estão retidos nas usinas. O mesmo acontecerá com os caminhões carregados com ração animal, destinados aos produtores de aves e animais. Muitos animais estão morrendo por falta de alimentação, e o fenômeno do canibalismo já é realidade nas granjas de suínos e aves, por falta de farelo de soja.