Por João Carlos de Queiroz – Carnaval brasileiro é a festa das festas em todo o mundo. Atrai milhões de turistas para as cidades famosas pelo desempenho atrativo do que é considerado internacionalmente excelente comemoração tradicional de rua, a exemplo dos desfiles de escolas de samba, blocos e trio-elétricos pelas ruas do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Olinda, etc… Sem falar nas pequenas cidades do falido país tropical, igualmente alardeadas na mídia por sacudir o pó urbano com muita folia. Em Mato Grosso, as recatadas Santo Antônio de Leverger e Livramento, próximas uma da outra (Baixada Cuiabana), lideram essa fama há anos…
Excetuando-se a alegria contagiante que o ritmo frenético das baterias impõe aos foliões de plantão, o ruim dos festejos carnavalescos é o saldo de vítimas fatais, resultante das imprudências cometidas no trânsito e outras {facilitadas pelo consumo excessivo de álcool e mesmo uso de drogas}. A cada ano, são centenas de vítimas, conforme estatísticas das Polícias Rodoviária Federal e Estadual. Já as Polícias Civil e Militar contabilizam mais mortes anualmente e um sem número de crimes de ordem passional ou não, incentivados por álcool e drogas.
Os brasileiros, via de regra, pouco se importam com isso, pois é carnaval. E o importante é sacolejar o corpo noite adentro. Já vi gente sambando nas ruas, sofregamente saboreando sua cerveja, enquanto um velório acontecia a poucos metros dali, enaltecido pelo luminoso da Pax Universal…
Nessa época de carnaval, ninguém quer saber se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva finalmente vai ser trancafiado, sendo penalizado concretamente pela liberação de corruptos na “piscina” do erário público nacional. Ou se o presidente Michel Temer irá conseguir se safar da série de denúncias que o Ministério Público oficializou contra sua pessoa, agregando outros nomes suspeitos na numerosa lista de corruptos.
Sambar é a única coisa que importa nesse Brasil de cegos políticos, com predomínio de foliões descompromissados acerca do seu futuro. Os mesmos que torram suas economais em cachaça e farras carnavalescas; muitas redundam em sinistros de prática improvável, do ponto de vista humano. Só que o bestial ser (à semelhança de Deus) é capaz de cometer atrocidades inimagináveis. Exemplos: crianças são jogadas de janelas de prédios pelos próprios pais, e inocentes pequeninos de creche entram em combustão letal após banho de álcool assassino perpetrado por vigia suicida. Caso da barbaridade sucedida em Janaúba, Minas Gerais.
São coisas que aterrorizam quem tem consciência, mas logo são esquecidas. Os brasileiros de hoje e ontem, afinal, querem apenas tamborilar os pés ao som das baterias que irrompem audaciosas nos ouvidos de quem detesta carnaval e seus sons retumbantes, nada saudáveis. E há aqueles que calculam friamente a quantidade de mortos do presente carnaval, em comparação a 2017, 2016, igualmente projetando que mais corpos tombarão “surpresos – de uma maneira ou de outra – durante o pipocar da folia nas ruas tupiniquins.
A desculpa mais frequente é que o carnaval não pode parar para analisar tais detalhes incompatíveis à alegria em curso. Mesmo que disfarçada momentaneamente de utopia, ilusão de caminhos irreversíveis. Pois o amanhã do Brasil está à vista geral: não há luzes nem ritmar metralhado de baterias de blocos e escolas que possam mudar essa trajetória falimentar. Se mais mortes inocentes forem registradas, danem-se os incautos que protagonizaram momentos fúnebres! Carnaval não pode se dar ao luxo de deter seu apogeu de frevo para reverenciar defuntos! “O ideal é sambar até o dia raiar”, frase de popular marchinha carnavalesca…
Enfim, na próxima Quarta-Feira de Cinzas talvez já tenhamos parte do saldo obituário dessa festa tão ilusória, em que as pessoas se tornam insanas em nome de uma alegria orquestrada para apagar suas memórias de dor e preocupações futuras. É a mágica profana do carnaval, algo parecido com Sodoma e Gomorra, cidades que sediaram as maiores aberrações sexuais e extravagâncias ilícitas da História do Mundo, e que teriam sido destruídas por Deus com fogo e enxofre, provenientes do céu – diz a Bíblia.
Algo do tipo pode acontecer a qualquer instante aqui ou acolá, independente da euforia com que as pessoas comemoram suas tradições festivas.
O bom desse grotesco clima carnavalesco é que o Brasil pode se dar ao luxo de ignorar que está ao deus-dará, sem comando algum, com um presidente acuado pelo Ministério Público e um elenco de pré-candidatos a presidente que não inspiram a mínima confiança ou competência. Assemelham-se a ratazanas oportunistas. Corremos o risco de um novo Macaco Tião sair candidato e ser eleito maciçamente, como já aconteceu no Rio de Janeiro, quando a população, revoltada, elegeu o peludo saltitante de árvores do zoológico do Estado como seu preferido para representá-la na Câmara dos Deputados.
Fala-se até em Luciano Hulck como nome fortíssimo no páreo presidencial, apoiado pela Vênus Platinada. O difícil vai ser convencer o eleitorado que o Brasil não é nenhuma lata-velha para merecer atenção de remendos, conforme quadro de destaque do “Caldeirão do Hulck”, que trabalha carros destroçados para convertê-los novamente em veículos utilizáveis, devidamente melhorados e incorporados às últimas tecnologias do setor.
Mas é carnaval, volto a lembrar. E com mortes cá e lá, com gritos de fome e desespero pela falta de atendimento na saúde e em outros órgãos prestadores de pretensos serviços públicos. O melhor então a fazer é ensaiar coletivamente a velha marchinha dos anos 60: “Ei, você aí,/me dá um dinheiro aí…” Essa fica mais em conta com a roubalheira que impera há décadas na União, parcialmente desvendada nos últimos anos pela Polícia Federal. Outras descobertas presumíveis estão a caminho…