Tenho uma amiga {vamos chamá-la de Tereza} que se recusa a admitir sua sensibilidade mediúnica, apesar de ser detentora de forte dom espiritual. Por várias vezes, ela presenciou coisas estranhas ao redor de si, ou “sentiu” evidências de anormalidade inexplicável com alguém ou em algum lugar.
Alguns episódios jamais foram relatados para seus familiares, segundo confessa. “Há alguns meses, acordei de madrugada ouvindo sonora gargalhada de bruxa em meu quarto. Parecia que havia mais alguém ali”, recorda com expressão medrosa. Informada sobre esse estranho episódio, a mãe amenizou: “Não é nada, filha, volte a dormir: pode ser uma coruja ou mesmo alguém passando nas ruas próximas…”
Ainda que simples, “Tereza” – nome fictício, repito – sabe muito bem que corujas não gargalham. E bateu firme o pé ao dizer à mãe que aquele som foi gerado dentro do seu quarto, não fora dali.
O mais interessante dos episódios vivenciados por Tereza teve lugar durante o transcurso de um dos sacros períodos da quaresma. Aconteceu quando ela e a irmã conversavam descontraidamente na soleira da casa materna, conforme relata…
“Isso foi há uns 20 anos ou mais, não sei precisar. Só recordo que já era tarde avançada, quase noite, e a rua estava praticamente deserta. De repente, vimos lá embaixo um vulto dançando rápido, e a cada movimento ele avançava mais em nossa direção. Pensei que fosse um vizinho brincalhão, que gostava de vestir roupas extravagantes, fantasias, essas coisas… Minha irmã também pensou o mesmo”.
Sempre em evolução dançarina, o alegre vulto não demorou a chegar perto delas, momento em que as meninas constataram não ser o suposto vizinho, tampouco alguém conhecido. Outro detalhe: o dançarino portava uma enorme vassoura piaçava {de bruxos}.
“Ele dançava muito rápido, pra lá e pra cá, fôlego incansável. As roupas eram largas e se assemelhavam a batinas esvoaçantes, encobrindo mãos e pés. Muito esquisito tudo aquilo… Nem conseguimos ver suas feições, pois os longos cabelos tampavam o rosto”.
Praticamente quedadas diante daquela aparição, as irmãs ficaram quietinhas na calçada, limitando-se a olhar o “show gratuito” do bruxo dançarino. De repente, para surpresa de ambas, a figura encantada começou a flutuar a cerca de um metro e meio do chão, e assim foi se movimentando rua acima, a ponto de transpor casas e muros do Jardim Cuiabá. Antes de flutuar, há quem jure tê-lo visto nas ruas mais abaixo, dessa vez atravessando portões gradeados. “Isso nós não vimos”, conta Tereza.
Essa experiência foi realmente traumatizante, rememora a hoje adulta Tereza. Salienta que demorou muito para ser deletada de sua memória. “Ficar na porta de casa, então, perto do pôr do sol, nem pensar! Hoje, lógico, já passou essa cisma, consigo ficar novamente por lá…”
Pelo que Tereza deduz atualmente, essa inesquecível dança solitária do bruxo se resumiu a uma única apresentação para os comuns mortais. “Nunca mais vimos nada parecido no bairro. Ao que tudo indica, o bruxo flutuante sumiu de vez do mapa. Ainda bem”.
Por João Carlos de Queiroz