João Carlos de Queiroz – Desde que foi criada pelo governo federal, a Embraer, empresa de defesa estratégica, representa confesso orgulho por parte do povo brasileiro, independente de ter sido privatizada em 94. E também é objeto de cobiça declarada da ala internacional da aviação, que já percebeu, há muito tempo, o grande poder de tecnologia futurista da empresa fabricante de jatos comerciais, militares e aeronaves de porte diversos.
Portanto, na visão dos sonhadores do nosso País, não se justifica, em hipótese alguma, que a Embraer ceda a pressões internacionais e venda a maior parte de suas ações, perdendo o posto de majoritária para qualquer outra concorrente forte do mercado. Daí a grande surpresa nacional quando da veiculação de “boatos”, na verdade bem fundamentados, sobre a pretendida aquisição da Embraer pela poderosa Boeing.
O fato veio à tona por meio de notícia veiculada no importante Wall Streed Journal (WSJ). Sem rodeios, para espanto dos brasileiros, vazou na internet mundial as intenções da Boeing em abocanhar a maior parte da fatia acionária da Embraer, tornando-se a mandatária suprema da ainda empresa brasileira. Isso ficou explícito na oferta de compra apresentada pela Boeing, e, como consequência, desencadeou alta de 28% das ações da Embraer, na Bolsa de Nasdaq.
Apaixonados pela Embraer e atentos à sua evolução tecnológica, evidenciada desde os primeiros EMB-Bandeirantes (anos 80), turboélice que serviu e ainda serve a pequenas companhias aéreas em solo brasileiro e outros países, além das Forças Armadas locais, os brasileiros querem crer que esse alarde de venda da Embraer não irá se concretizar. Mas não é bem assim que o governo reage ao ser questionado sobre tal possibilidade, apesar de o presidente Michel Temer afirmar não ter qualquer fundamento negociar a empresa. Resta dizer que a União, destacada acionista da Embraer, tem poder de veto.
Pelo que o respeitado WSJ divulgou, os contatos estão adiantados nesse sentido. Isso porque a Boeing, afora os $3.7 bilhões de dólares que seriam direcionados à compra da Embraer, sinalizou investir outros bilhões na ampliação da empresa em São José dos Campos, São Paulo. Observou-se além oceano que a Embraer tem voado em céu de brigadeiro, em termos de consolidação de suas metas produtoras e implementação de tecnologias de última geração nas aeronaves que fabrica, amplamente comercializadas nas terras do Tio Sam (EUA). Seus jatos desfilam garbosos em horizontes domésticos dos EUA, e são considerados joias primorosas no cenário aviatório mundial.
Se o negócio vai ou não ser fechado, ainda não se sabe, mas a alta diretoria da Boeign já aportou no Brasil e tem estabelecido conversações minuciosas com a diretoria da Embraer. E os executivos aterrissaram aqui nos moderníssimos Boeing 737 VIPs (Boeing Business Jets (BBJs), aeronaves específicas para transporte de quem dá as cartas na área executiva da empresa americana.
Já em Brasília-DF, fontes da própria Embraer disseram que o desembarque dos executivos teve acompanhamento de oficiais da Força Aérea Brasileira. Resta saber se, na sequência, o assunto da reunião (que naturalmente aconteceu) esteve voltado para futura negociação entre as fabricantes de aviões.
“Estamos acompanhando, não há qualquer propósito de venda da Embraer”, voltou a afirmar o presidente Michel Temer. Palavras que não têm mais credibilidade perante os tupiniquins, levando-se em conta outras promessas feitas e não cumpridas, em termos de privatização. Mesmo porque, sempre salientando, a Embraer não é cativa absoluta da União, apesar de o governo ser detentor de grande parte das ações.
Essa participação é hoje o único empecilho capaz de barrar a continuidade da transação, se realmente for esta a intenção do comando diretriz da Embraer. A empresa brasileira apenas adianta estar em conversação, ‘sem compromisso, com a Boeing’. Há quem aposte que a concretização do negócio é irreversível. (Com informações de Carlos Martins)