Aventuras estradeiras com a motocicleta Yamaha Mini-Enduro

Capítulo II

Montes Claros, anos 70… Minha saudosa Yamaha mini-enduro não refugava estrada, mostrando-se sempre animada a vencer quilômetros e mais quilômetros. Seu motorzinho dois tempos destilava robusta potência, rodovias afora. De forma prazerosa, realizei assim muitas viagens a municípios próximos a Montes Claros (MG), o que incluiu sustos apavorantes em alguns percursos.

O primeiro deles aconteceu rumo a Coração de Jesus: antes mesmo do amanhecer, a moto derrapou abruptamente após bater num buraco do asfalto. Inevitável evitar a desastrosa queda deslizante pela malha úmida, pois chovia levemente…

Ainda nesse deslizar, escutei o rangido metálico de algo bem próximo, barulho característico de freios: era uma Toyota Bandeirante. Por pouco, menos de dois metros, a caminhonete não me atropelou.

Já em Coração de Jesus, simplesmente para chamar a atenção no final da tarde, decidi empinar a moto na praça principal, caindo feio mais adiante. Pior: enrosquei a calça na corrente, o que ocasionou pequena lesão na pele, acima do tornozelo.

Antes de ser socorrido por populares, fiquei caído ali, sem poder me levantar, situação simplesmente hilária. O que escutei de vaias durante longos minutos… Até mesmo meus amigos, Eduardo Lopes (“Pastinhas”) e Afonso Celso de Magalhães Ferreira, companheiros de viagem, se esbaldaram com aquela cena inusitada.

Envergonhado depois desse cômico episódio, convoquei-os para irmos embora minutos após. Olhando o relógio, eles questionaram sobre o pernoite. ”

– Cara, já vai ficar de noite! Onde vamos dormir? Não tem nenhuma pensão ao longo da estrada!

– Dormimos então no mato, respondi.

Não tardou para deixarmos Coração de Jesus, sob o olhar zombeteiro dos moradores. Aquela queda na praça principal…

A noite não tardou a chegar e o aconselhável foi parar na beira da estrada, armando acampamento rústico. Ninguém pensou na possibilidade de uma cascavel ou jararaca circular por ali enquanto ajeitávamos o corpo para dormir.

O ruim de tudo foi não ter nenhum travesseiro para firmar a cabeça, encosto substituído por capacetes. Tampouco tínhamos água disponível e alimentos, e o mais recomendável foi não pensar em sede ou fome.

Para piorar, horas depois bateu um frio danado, gelando a madrugada. Não recordo exatamente como conseguimos conciliar no sono, apenas do estardalhaço da passarada saudando um novo dia. Hora de retomar a estrada e ir pra casa…

Por João Carlos de Queiroz