“Ele está bem. Está lendo muito livros de romance e sobre espiritualidade”. “Encontrei ele muito sereno, bem desaúde e disposto”. Os relatos do teólogo Leonardo Boff e do monge benedito Marcelo Barros representam o que mais se ouve sobre Lula a cada nova visita espiritual na sede da Polícia Federal, em Curitiba. As falas traduzem a determinação e força do ex-presidente para enfrentar a prisão política que já passa dos quatro meses.
As visitas espirituais ocorrem nas segundas-feiras e, desde que Lula foi levado para a PF, representantes de diversas matrizes religiosas já foram encontrar o ex-presidente, por quem carregam muita admiração e solidariedade. Com palavras de carinho e conforto, e o intuito de transmitir energia, já passaram por lá grandes companheiros de Lula, como o Frei Beto, o padre Júlio Lancelotti, e a monja budista Cohen Rosh .
O amigo de longa data, o teólogo Leonardo Boff foi o primeiro a visitar o ex-presidente, no dia 7 de maio. Em abril, Boff já havia tentado ver Lula, mas foi impedido por conta de uma ordem da juíza Carolina Lebbos. Sobre a conversa, o teólogo afirmou que ex-presidente estava forte e disposto a “voltar ao poder para dar centralidade às políticas públicas e governar a partir dos pobres. Falou, ainda, que pretende não apenas repetir o que fez nos mandatos anteriores, mas também fazer com que o olhar para os menos favorecidos se torne política de Estado”.
Boff falou também, com o olhos marejados, sobre a indignação compartilhada com o povo brasileiro, já que Lula foi preso injustamente, sem provas, como parte de um esquema para impedir que o Brasil volte a ter um governo que enxergue os pobres. “Lula tem uma indignação justa, de quem sofre uma série de acusações injustas e mentirosas. Ele disse várias vezes: ‘se eu não morri de fome aos cinco anos, como outros morreram, inclusive da minha família, eu aprendi a resistir e estou aqui resistindo, e aumentando o meu ânimo’”.
No dia 14 de maio, foi a vez do monge benedito Marcelo Barros que divulgou uma carta emocionante sobre o encontro com o amigo.
“O senhor sabe que as pessoas conscientes, o povo organizado em movimentos sociais no Brasil inteiro acreditam na sua inocência e sofrem com a injustiça que lhe fizeram. Na Bíblia, há uma figura que se chama o Servo Sofredor de Deus que se torna instrumento de libertação de todos a partir do seu sofrimento pessoal. Penso que o senhor encarna hoje no Brasil essa missão”, disse o monge em um trecho da carta.
Lula ainda pediu para que o monge transmitisse um recado para o povo brasileiro: “Diga que estou sereno, embora indignado com a injustiça sofrida. Mas, se eu desistir da campanha, de certa forma estou reconhecendo que tenho culpa. Nunca farei isso. Vou até o fim. Creio que na realidade atual brasileira, tenho condições de ajudar o Brasil a voltar a ser um país mais justo e a lutar para que, juntos, construamos um mundo no qual todos tenham direitos iguais”.
O padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, foi o terceiro a visitar Lula, no dia 21 de maio. Ele falou aos militantes da Vigília Lula Livreque o ex-presidente lhe pediu que enviasse uma mensagem para os moradores de rua, os catadores e para os acampados do Largo do Paissandu – na época, um incêndio causado por um curto-circuito provocou o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, local habitado por moradores sem teto. “Que ninguém desista da luta, porque nós temos que enfrentar todos os desafios que vêm pela frente”.
Em 28 de maio, o monge titular do Templo Budista de Brasília, Ademar Kyotoshi Sato, disse que estava muito feliz de ter conversado com o ex-presidente, e falou ainda que Lula responde todos os dias ao “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”.
Frei Betto, amigo íntimo de Lula que esteve ao seu lado nas duas vezes em que foi preso injustamente, foi ver o companheiro no dia 4 de junho. No encontro, Lula se divertiu com a história de que foi vítima de fake news – segundo o boato, ele teria sofrido síndrome de abstenção alcoólica nos primeiros dias de prisão.
Na semana seguinte, Lula recebeu a visita do Frei franciscano Sérgio Gorgen, que afirmou “Nós vamos continuar mobilizando o povo, esclarecendo, informando, nos preparando para fazer um grande movimento popular para que Lula saia dessa masmorra e vá para o Palácio do Planalto”.
De acordo com o Frei, Lula está se mantendo firme com o amor pelo povo brasileiro. “Isso, de fato, lhe move e dá forças para enfrentar e suportar o que está passando, quem sofre com o desemprego, com a destruição da indústria nacional e com a volta da fome”.
“Um homem forte, resiliente, que sabe que está sofrendo perseguição política, que está absolutamente convicto da sua inocência e que tem na sua força a perspectiva de ver o povo brasileiro voltar a ter esperança”, foi a declaração do pastor da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, Ariovaldo Ramos, após a visita ao ex-presidente no dia 25 de junho.
Já no dia 2 de julho, foi a vez do pai de Santo, Antônio Caetano de Paula Junior que levou como presente a Lula a imagem do orixá Xangô. “Entreguei a imagem a ele e foi um momento muito bonito. Ele a abraçou e falou que para ele sempre foi importante dar voz a todos, porque quem cala uma voz acaba calando todas”, disse o religioso.
Caetano falou sobre a importância de manter a fé e a esperança, especialmente nesse momento de grande injustiça. “São quase 90 dias em que Lula vive numa espécie de solitária, depois de um julgamento que se qualquer um observar, percebe que há falhas. Mesmo assim ele não permite que a raiva e o ódio contaminem o coração. É essa esperança que temos que carregar em nós”.
Aos 101 dias como preso político, Lula recebeu a visita espiritual do bispo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Naudal Alves Gomes, no dia 16 de julho. “Ele espera pacientemente que a justiça seja feita e que até o dia 15 de agosto o juiz Sérgio Moroapresente uma prova concreta de sua culpa, mas se não tiver prova concreta, que seja determinada sua soltura”, disse Naudal sobre o ex-presidente.
Quando o pastor Inácio Lemke foi encontrar o amigo Lula, na sede da PF, no dia 23 de julho, o ex-presidente lhe fez o pedido de que orassem juntos. “Oramos pelo Brasil e eu lhe pedi para que continue com essa firmeza. Eu me senti muito comprometido a ele. A oração une as pessoas. A espiritualidade faz mais do que imaginamos”, revelou o religioso.
Lemke disse também que estava receoso de encontrar o amigo desanimado, mas o cenário com que se deparou foi bem diferente. Ele contou que apesar de Lula estar preocupado com o que os golpistas estão fazendo com o país, está bastante otimista de que irá recuperar os desmontes que estão sendo realizados por esse governo ilegítimo. “Entrei com uma expectativa e saí muito mais animado. Ele alimenta muito a gente com esperança. Aliás, ele me pediu para trazer esperança aqui para fora para o povo brasileiro”, declarou.
No dia 30 de julho, quando completou 114 dias como preso político, Lula recebeu a monja budista Cohen Roshi. Ela recomendou a Lula que aproveitasse esse período para se elevar espiritualmente. “Contei a ele dos padres do deserto, homens que fazem o voto de viverem sozinhos, em solidão e em silêncio, e que isso não é um castigo e pode ser tomado como uma oportunidade de crescimento espiritual”, relatou.
A monja também contou que o encontro com Lula foi amoroso. “Vi um homem de olhar amoroso e terno, escrevendo, lendo, trabalhando, fazendo exercícios e agradecendo a vocês”, finalizou.
Por Redação da Agência PT de Notícias