Não é todo dia que podemos contar alguma coisa que nos deixa felizes pelas lembranças da época em que tudo sucedeu. Geralmente, são intercalados “senões” nada agradáveis no transcurso da memória atenta; ou fragmentos de dias e momentos saudosos.
Isso acontece quando a intrusa melancolia escancara autonomia impávida a lugares recônditos do cérebro, toldando alegrias e expectativas. Ora sonhamos, sim, e ora é bem real…
Na verdade, o homem gosta de sonhar, seja em devaneios saudosistas {daquilo que realmente vivenciou}, ou de projetos ainda não concebidos, exercitados forçosamente no dia a dia sobrevivente.
Se acaso não sonhasse, simplesmente optando por se enveredar em traçados rústicos de palpável realidade fria, o homem seria infeliz por antecedência.
É pelos sonhos, talvez não viáveis, que ele consegue transpor seus próprios fantasmas interiores, indo incansavelmente em busca da felicidade e motivações do existir mundano.
Costuma-se dizer que o pior suicídio é aquele em que a pessoa ainda está viva, apesar de ter optado pelo desligamento de tudo à sua volta.
Ao homem, além da vida, Deus também concebeu o poder de sonhar, de construir tudo que possa imaginar. Mas não é incomum cair da cama ao acordar…
Os sonhos permitem isso, e grandes soluções de dilemas mundiais, registra a História, tiveram soluções práticas a partir de sonhos lúcidos ou aparentemente confusos.
Isso ocorre desde à Idade Média, antes mesmo de Cristo, no Velho Egito, com interpretações dos sábios dadas a reis curiosos, ansiosos por saber as portas do futuro e evitar transtornos no Reino.
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Cada sonho encampa indicativo lógico aos absurdos registrados enquanto dormimos e temos a errônea sensação de desligamento geral.
É tão fácil, por exemplo, voarmos nos sonhos; é um instante de máxima concentração. O fluido energético dessas imersões aleatórias reside justamente aí…
Então, se analisarmos por esse lado, é bom sonhar. Significa aceitação a mundos controversos à nossa volta, independente de estarmos num só barco, de destino único. É embarcação perigosamente à deriva das responsabilidades delegadas aos humanos.
Portanto, ao deitar-se, relaxe não apenas o corpo, mas também a mente. Permita-se ingressar em dimensões que irão elevá-lo a uma paz ou sentimento de descobertas impensadas, no estágio dos subterfúgios do consciente.
Daí que o sono, o ato de dormir, deixa de ser enlevo rotineiro dos humanos e animais, pois protagoniza ingressos aventureiros; enredos não compreensíveis à primeira vista. Ou talvez nunca…
Sem falar que, via de regra, nem todos recordam seus sonhos, deletados magicamente após alguns segundos do despertar. O resgate de imagens – e também sensações – impõe ordem severa ao cérebro, sem incorrer em preocupação excessiva. Seria entrave às lembranças aguardadas…
Então, em momento impreciso, geralmente quando nem nos lembramos mais da necessidade de recordar algum sonho, eis que ele é projetado lucidamente no nosso cérebro, dimensionado à imensa tela mental.
O arteiro subconsciente, diretor dessa obra-prima, exibe então projeções fantásticas, capitulando-as aleatoriamente em linha particular. É mérito satisfatório degustar nossos próprios sonhos, o poder de criações das quais não fomos autores diretos. É arte de Deus!
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Se sonhar faz bem, conforme disse acima, recomenda-se que tais viagens sejam facilitadas previamente. Há clara indução àquilo que desejamos desvendar, ou pelo menos ser protagonistas natos.
Os procedimentos disto não têm nenhuma complexidade, pelo contrário. São simples. Senão, vejamos…
Ao dormir, ao invés de fechar a janela da mente, escancare-a sem cerimônias, cônscio de ser essa a melhor decisão a tomar todas as noites ou durante o dia, quando o sono bate imperioso.
Permita que os sonhos o levem a cavalgar por pradarias desconhecidas, onde poderá reencontrar parentes, voar, ser rico, pobre, morrer e viver… É ilimitado o potencial dos sonhos.
A fantasia trôpega da realidade, por vezes presente nos nossos sonhos, consegue desencadear fatos inéditos, evolutivamente arfantes de emoção. Nenhum deles tende a ser rotina, incluindo sonhos recorrentes; há sempre nuances atrativas neles.
Sonhar, enfim, representa salto desconhecido nos abismos e paraísos inerentes à raça humana. Nem todos os caminhos são viáveis para o alcance das metas sonhadas quando dormindo ou acordados.
João Carlos de Queiroz