ALMT e população debatem Pantanal de Santo Antônio e Barão de Melgaço

Próximas audiências devem ocorrer em Cáceres e Poconé, conforme propôs o deputado Allan Kardec. Meta é encontrar um consenso para questões de cunho socioeconômico e ambiental

Maria Nascimento Tezolin – Cerca de 200 pessoas, entre políticos, representantes da tradeturística, militantes de defesa do Pantanal, pescadores e população em geral participaram na noite dessa quinta-feira (3) de audiência pública realizada na Escola Estadual Rural Santa Claudina, no distrito de Mimoso (distante 119 quilômetro de Cuiabá), em Santo Antônio de Leverger. Os presentes debateram a viabilidade socioeconômica e ambiental da região do Pantanal pertencente aos municípios de Santo Antônio de Leverger e Barão de Melgaço.

A população foi enfática em apontar as reivindicações locais, mas também em dizer o que não querem. “Foi o início de um debate importante. Precisamos chegar a um consenso nos temas de interesse do Pantanal e vamos ampliar o debate realizando essa mesma audiência pública em Cáceres e Poconé”, anunciou o deputado Allan Kardec (PDT), autor da proposta do evento. “Foi um debate importante, com todos os envolvidos presentes e uma ampla participação”, completou Wilson Santos (PSDB).

Entre as necessidades apontadas, estão qualidade na oferta de energia, internet e telefonia, além da necessidade de que as cidades de Cuiabá e Várzea Grande “tratem seus esgotos que são jogados nos rios e deságuam no Pantanal, em Santo Antônio. O esgoto in naturadespejado no rio Cuiabá está acabando com  o Pantanal”, afirmou o presidente da Câmara de Santo Antônio de Leverger, Hugo Padilha. “Cuiabá e Várzea Grande precisam tratar seus esgotos para que eles não cheguem ao Pantanal”, reiterou o prefeito de Leverger, Valdir Costa, o Valdizinho (PSD).

Sobre a oferta de energia, o coordenador de telefonia da Ager, Thiago Alves Bernardes, admitiu que, de fato, a reclamação sobre o atendimento em energia na região é considerável e já levou a Ager a buscar resposta junto à Energisa (concessionária de energia elétrica). Ele admitiu que a empresa melhorou o atendimento no início de suas atividades, no ano de 2014, mas que atualmente declinou, principalmente no tempo de resposta às demandas, ou seja, registra grande demora nos atendimentos.  “A energia está ruim nesta região mesmo e estamos cobrando da empresa”, reafirmou. A direção da Energisa, embora tenha confirmado presença, não compareceu ao debate.

Entre os problemas apontados no debate, estão ainda a manutenção e o funcionamento de PCH (Pequena Central Elétrica) no Pantanal. Alguns moradores da região alegam que a PCH Montovilis prejudica o volume d’água do rio Mutum e seu afluente, o rio Madeira, e o curso d’água na baía de Siá Mariana, além de interferir negativamente na atividade pesqueira. “A PCH definitivamente interfere, mexe com todo ciclo de vida do Pantanal, e não dá mais para fazer nenhuma PCH no Pantanal”, defendeu a ativista Ingrid Leite, do Instituto Gaia de Cáceres, ao pedir que “se encontrem outras formas de geração de energia”.

“Hoje, com tanta tecnologia, não precisamos gerar energia agredindo a natureza, e que só gera ganhos financeiros para o grupo da PCH, não tendo ganho social, nem ambiental, nem financeiro para a comunidade local”, criticou a empresária Alice Galvão do Nascimento.  Entre as sugestões dadas pela comunidade presente ao debate está a energia solar.

Por outro lado, o engenheiro Rubem Mauro Palma de Moura, um dos representantes da PCH Montovilis, alegou que há uma desinformação à sociedade. Segundo ele, a hidrelétrica está situada na descida do planalto para a planície pantaneira, dentro da baía do Alto Paraguai e rio Mutum, que não seriam áreas pantaneiras. “No Pantanal nem daria para fazer uma PCH, porque a declividade é muito pequena”, disse ele. Outro aspecto apontado por ele é que a água utilizada pela PCH passa pelas turbinas e retorna ao leito do rio sem nenhuma alteração em sua qualidade ou quantidade. Ainda segundo ele, “atividades agrícolas que utilizam agrotóxico é que agridem o meio ambiente e não uma PCH”.

Além do debate, a audiência pública foi marcada pela leitura de uma carta aberta na qual membros da família Rondon, descendentes do Marechal Rondon, se posicionam contra a existência de PCHs em toda região pantaneira. A carta foi redigida por Elizabete Rondon Amarantes, que reside no Rio, e foi lida por uma professora. Para que os temas possam ser mais amplamente debatidos, o deputado Allan Kardec decidiu realizar mais duas audiências públicas, para ouvir as comunidades de Cáceres e Poconé. As datas ainda serão anunciadas.

Semana de Rondon  –  A realização da audiência pública é parte de uma ampla programação que foi iniciada no dia 2 e prossegue até 5 de maio, em Mimoso, como parte da celebração da Semana de Rondon. Entre as atividades na Escola Rural Estadual Santa Claudine, cujo nome homenageia a mãe de Marechal Rondon, estão sendo realizadas palestras, olimpíadas do saber e corrida.

No sábado (5), as comemorações se encerram com uma Sessão Solene Especial da Câmara Municipal de Santo Antônio de Leverger, também na Escola Santa Claudine. A data, 5 de maio, é o Dia do Marechal  Rondon em todo o Brasil.

Nascido em Mimoso, ele ficou imortalizado na história do Brasil como um importante militar e sertanista brasileiro. Entre as principais obras de Marechal Rondon, está a idealização do Parque Nacional do Xingu, assumindo o cargo de diretor do Serviço de Proteção ao Indígena. O trabalho de maior destaque dele foi a expansão das comunicações no Brasil, principalmente através do sertão até então desconhecido. Marechal Rondon abriu estradas e levou o telégrafo aos cantos mais distantes do território. Daí, o dia 5 de maio também se comemorar o Dia das Comunicações no Brasil, em homenagem ao nascimento de Marechal Rondon, personalidade que chegou a ser indicada ao Prêmio Nobel da Paz, em 1957.


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