Ambientalistas exprimem angústia pela despreocupação geral com a natureza

A doação de mudas nativas e frutíferas, em geral, promovida pelo Partido Verde em comemoração à Semana do Meio Ambiente, correspondeu à expectativa da agremiação, enfatizou a ambientalista Ana Paula Miguel, paulista que reside em Cuiabá há 27 anos. Ela foi uma das participantes da mostra sediada no saguão da Câmara Municipal desde o último dia 11, trabalhos encerrados hoje (15). “Nosso objetivo é torcer para que a “canoa ambiental” não afunde, navegue sempre em águas serenas, estáveis. Isso porque, se persistir a degradação ambiental nesse ritmo tão destruidor, nada teremos para ver ou comemorar nas décadas seguintes”.
Esse sombrio prognóstico de Ana Paula é respaldado pelos seus colegas de luta ambiental. Robert Leventi salientou estar estarrecido com alguns fatos testemunhados na sua comunidade. “A natureza deixou de ser elemento respeitoso para a maioria das pessoas. Não sei, sinceramente, se isso aconteceu pra valer algum dia. Muitos interligam o sistema de esgoto diretamente às galerias pluviais, e o resultado é catastrófico: toda a carga poluente cai direto no Rio Cuiabá. Então, fácil prever o que vai acontecer nos próximos anos, difícil precisar em quantos: não teremos mais o Rio Cuiabá nem tampouco seus afluentes, somente correntezas de esgoto vivo. Realidade já presente em mananciais antes límpidos e saudáveis do município, inclusive na região chapadense. Uma lástima”.
Na opinião de Jean Carlos, é preciso que os projetos ambientais se intercalem com outros distintos, parceria profícua para disseminar a importância do verde no Planeta. “Não se justifica mais que a natureza esteja à parte de debates centralizados em temas de interesse geral da sociedade. O meio ambiente é presença imperiosa em tudo que realizamos no cotidiano, não há como ignorar isso. Tenho 36 anos, há 20 em Cuiabá, e francamente estou perplexo com a prática intermitente de situações de claro desrespeito gritante à área ambiental. Alguém tem que alertar a sociedade acerca desse suicídio coletivo. Se a natureza perecer, o homem vai junto. É um dos aspectos da luta do Partido Verde, determinado a conscientizar as pessoas sobre seu papel de compromisso inadiável com o meio ambiente”.
Já Jercel Maques afirmou que a doação de mudas no saguão do Parlamento correspondeu à expectativa da organização (Partido Verde) pelo fato de intensificar um interesse maior pela importância do verde ribeirinho, setor que recebeu a maior parte das mudas nativas. “A título de comemorarmos a Semana do Meio Ambiente, reforçamos a lição de ser responsabilidade nossa zelar pelos recursos naturais, como um todo. Os rios estão perdendo parte de sua força em face do desmatamento indiscriminado, o que provoca assoreamento. Sem árvores nas suas margens, a tendência é de não resistirem. Situação complexa para quem depende do peixe nosso de cada dia, fornecido a dezenas de comunidades ribeirinhas. Os pescadores já se queixam do sumiço de várias espécies. E se isso acontece agora, imagine como não estará proximamente o antes majestoso Rio Cuiabá?”
Segundo observou, na ânsia de ganhar dinheiro, construir condomínios e apoderar-se de terras para implementar projetos diversos, o homem tem detonado a natureza sem piedade. “O Partido Verde tem um propósito determinado de reconstrução desse estrago danoso, mas encontra muitas barreiras. Principalmente no âmbito da conscientização maciça da sociedade. Cabe a ela também fazer a sua parte, não jogar a responsabilidade ambiental apenas nos gestores municipais, estaduais e federais. É mesmo um trabalho de formiguinha, já definiram alguns colegas”.
Alexandra Fabíola tem a mesma opinião de Jercel, acentuando que “a escolha entre o existir ou morrer” está evidente nas ações que os homens desempenham no convívio com as riquezas naturais, gradualmente devastadas. “Já ouvimos dizer que dinheiro não se come. É verdade. Porque, se os homens pudessem devorar cédulas, a situação de desmonte ambiental seria mais fácil de ser compreendida. Refiro-me ao descompromisso da maioria das pessoas, hoje preocupadas apenas em acumular fortunas não importa se isso comprometa ou destrua estruturas ambientais, nascentes, florestas, fauna e outros núcleos que intercalam o equilíbrio do sistema”.
Ela lamentou que a anunciada universalização do sistema de saneamento básico ainda esteja longe de se constituir numa realidade tranquilizadora aos ambientalistas. “Cuiabá trata apenas 27% de todo o esgoto coletado, o resto vai direto, “in natura”, para o Rio Cuiabá. Injusto culpar a gestão municipal, porque cabe aí a participação de gestores em todos os níveis, estadual e federal. Sozinho, o município de Cuiabá e outros do Estado – que enfrentam problemas similares – não vão conseguir universalizar o sistema de esgoto. Não por falta de desejo de concretizar tal meta, deve ficar claro. Mas é uma empreitada que exige recursos altíssimos, conclamando unificação de toda a ala governamental para que os projetos correspondam às demandas assinaladas”.
Na opinião geral da equipe, se em Brasília-DF não for sinalizada uma gama de iniciativas de concreta resolutividade, em termos de garantia de recursos para bancar projetos avançados de saneamento básico, o meio ambiente vai continuar em situação de risco. Se o oposto disso acontecer, acentuam, o município de Cuiabá poderá viabilizar a construção de mais ETE(s), unidades de tratamento de esgoto compatíveis à demanda atual. “Dispomos de pouquíssimas Estações de Tratamento de Esgoto em Cuiabá, insuficientes para comportar e tratar toda a carga poluente gerada diariamente na capital. O acréscimo de unidades do tipo possibilitaria uma maior aproximação da sonhada universalização nesse setor”, assinalou Alexandra Fabíola.
João Carlos de Queiroz/Elizangela Tenório – Secretaria de Comunicação Social – CMC

 

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