A amiga que não entendeu a amizade…
PARTE 01
Alguns meses após aportar em Cuiabá, em 89, instalando-me no Condomínio Vila Verde, próximo à Avenida Fernando Corrêa da Costa, descobri recatado prostíbulo de luxo, mais acima. Foi meu entretenimento visual na capital mato-grossense durante meses.
Todas as noites, como quem não quer nada, subia a rua para observar a movimentação no local. Lá de dentro, invariavelmente, ecoava música sertaneja e conversas divertidas, tudo em tom moderado. Já as gargalhadas femininas entoavam libertinas, dispersando-se na rua silenciosa…
À primeira vista, essa casa dos prazeres parecia uma residência comum, excetuando-se pelas cores fortes, predominância do azul e vermelho. As mesmas que cintilavam luz festiva no ambiente…
Divertia-me ao observar o olhar ansioso de marmanjos babando pelas mulheres lindas que circulavam na área. Foi quando conheci Telma…
Morena, de corpo escultural, idade entre 25 e 27 anos, nunca soube direito, Telma externou simpatia cândida desde o início. Naturalmente, percebeu que ali estava um cara curioso, não “cliente”.
Tornamo-nos bons amigos, e ela passou a me visitar regularmente no condomínio. Os porteiros nem disfarçavam os olhares discriminatórios ao anunciar sua chegada. “Aquela moça está aqui”, diziam ao interfone, quase rindo.
No início, até fingi não perceber tais ironias, mas chegou um ponto em que fui direto com eles, questionando-os se eram juízes para julgar seus semelhantes. Telma nunca soube disso…
João Carlos de Queiroz
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